15 dezembro 2014

o justo e o pecador


A ler notícias sobre o café em Sidney ocupado por alguém que dizem ser um fundamentalista islâmico, fico pasmada com a rapidez de certas respostas: em meia dúzia de horas organiza-se numa mesquita uma oração ecuménica que reúne um imã, um rabino e um padre; cerca de 40 organizações representantes de muçulmanos emitem um comunicado a condenar aquele acto de violência e a apelar à unidade dos australianos.
Alguns muçulmanos são atacados na rua, e em resposta surge no twitter um movimento de solidariedade para acompanhar no espaço público pessoas cuja aparência as possa pôr à mercê do ódio étnico e religioso.

Que mundo é este nosso? Porque é que as pessoas de determinada religião são sujeitas ao medo, porque é que têm de se justificar?
Como católica, não sinto a menor necessidade de me justificar perante o mundo quando uns tresloucados cristãos cometem crimes em nome da sua fé (por exemplo, se matam um médico de uma clínica de abortos). Sabemos todos distinguir entre religião e crime. Por isso mesmo, estes gestos de auto-defesa por parte de alguns muçulmanos deixam-me embaraçada e muito envergonhada. Se, perante um louco que invade um café e faz umas dezenas de reféns, os muçulmanos sentem necessidade de se mostrar publicamente ao lado de representantes de outras religiões, é porque nós, os das sociedades de matriz cristã que nos temos em tão boa conta, não sabemos distinguir o trigo do joio.


("Ah, mas e se um cristão fizesse uma coisa destas num país muçulmano, ai, aí é que ia ser o bom e o bonito!", dirão. Talvez sim, talvez não - não sei. Mas a ideia era fazermos o melhor que podemos, em vez de nos andarmos a nivelar pelo pior que pensamos dos outros.)


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