12 novembro 2014

queda do muro de Berlim - 25 anos (3)

Bem sei que a semana já vai na quarta-feira, e não interessa nada o que eu fiz no domingo passado, mas deixo aqui na mesma, para minha memória futura:

Depois da celebração ecuménica, saímos do Mauerpark e começámos a descer para a Bernauer Strasse. Junto à rua havia um ecrã gigante que passava imagens históricas, e vi um avô que desceu da sua bicicleta para explicar ao neto: "ali era a rua tal, ali era a fronteira, nós passámos acolá..."






Memorial do muro, na Bernauer Strasse:




 


Desta vez, a cerimónia oficial foi no lado oriental do muro, e não no lado virado para a capela da reconciliação. Os políticos deixaram uma rosa na ranhura entre os blocos do muro, em vez de pôr coroas de flores no chão.

No memorial para as vítimas do muro também havia flores:




Na East Side Gallery (que era um segmento do muro todo do lado oriental, na parte em que o rio servia de fronteira, pelo que o betão estava nu até à implosão da RDA, e agora é pintado e repintado e trepintado segundo a vontade de cada um, para irritação dos primeiros artistas que tomaram posse):








Não nos deixaram entrar na 17 Juni, porque já estava sobrelotada. Que pena! Queria muito ver o que se passava no palco. Fomos para trás do Parlamento esperar a largada dos balões junto ao rio. Havia um ecrã gigante que passava imagens históricas. Mas o que nós queríamos era saber o que se passava no palco! A ver se para as comemorações do centenário me convidam a mim para organizar isto, a ver se fica um bocadinho melhor.




 




O muro mesmo junto ao Parlamento:




O muro a avançar na direcção da porta de Brandenburgo:


O muro junto ao nosso posto de observação:





Quando pouco faltava para começarem a largar os balões, apareceram uns barcos que se puseram à nossa frente. O pessoal desatou aos gritos e assobios. Ao meu lado, uma senhora dizia: "eles pagaram, podem", e eu respondi "Não podem tirar a vista às pessoas que estão aqui à espera há várias horas!". Ela insistiu: "Se pagaram..." e eu teimei: "O dinheiro não pode comprar tudo!"
Os gritos e os assobios não paravam, e os barcos foram para mais longe, para a parte em que não ficavam entre as pessoas e o muro de luz.
Um momento de Berlim no seu melhor - que ninguém pense que pode fazer dos berlinenses parvos!

Fiquei a pensar no argumento da senhora: a que propósito é que aceitamos que quem tem dinheiro passe por cima das normas mais básicas de civismo? Seria ela de Leste, resignada a deixar que quem tem dinheiro (os Wessis) faça o que lhe apeteça?




O Wowereit fez o seu discurso, lembrou a imensa coragem das pessoas que ousaram protestar, lembrou outros muros que ainda têm de cair. E os balões começaram a subir na noite.




A princípio foi muito bonito. Os holofotes em frente à porta de Brandenburgo iluminavam-nos bem, e eles largavam a bom ritmo. Mas em algum momento a coisa começou a travar. Nem todos os "padrinhos" do balão conseguiam soltá-lo à primeira, e nem todos tinham a presença de espírito de dizer aos do lado "vão largando vocês, que este daqui a nada também vai". De modo que o processo parava, ficava tudo à espera, o desgraçado do padrinho com um stress monumental de volta do pedestal...
Os nossos amigos portugueses criticavam a má organização. Portugueses! Nunca estão satisfeitos com o que se faz em Berlim...

Uma das vantagens de assistir a estas coisas no meio dos berlinenses é que uma pessoa é arrastada pelo humor deles. Daí a nada já estavam a aplaudir entusiasticamente cada balão renitente que finalmente levantava voo, e um pouco mais tarde, quando o processo parou por demasiado tempo, começaram a gritar a uma voz "Die Mauer muss weg! Die Mauer muss weg!" ("O muro tem de desaparecer!"). Rimos todos, claro, mas acho que um ou outro largou a sua lagrimita.
A boa disposição continuou: foi uma festa quando alguns balões ficaram presos debaixo da pala da biblioteca do Parlamento, e o pessoal quase soprava com força para os ajudar a escapar.




Regressámos a casa cansados e contentes, apostando que, ao ritmo a que isto (não) avançava, ainda íamos ver os últimos balões na televisão. Ao chegar perto do carro vimos que muitas pessoas levavam os pedestais para casa. "Pode-se levar?", perguntei eu. "Pode! Vão ser todos reciclados amanhã."
Trouxe um. Estou a pensar usá-lo como candeeiro de pé alto na sala.
Depois li no jornal que os criadores deste muro de luz se sentiram muito honrados por a população berlinense se apropriar da sua obra. Ora essa, de nada, de nada.

***

Algumas das fotografias que aqui estão foram feitas por um dos meus amigos portugeses. Como não me apetece estar a discriminar, ficamos assim: as melhores foram feitas por ele. Ou então pelo Joachim.

Há muitas mais, e muito boas, aqui e aqui.


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