04 setembro 2014

4 de Setembro de 1989




Não foi o Spiegel (shame on you, rapazes!), foi o google.de quem hoje me alertou para a data histórica: a primeira manifestação de segunda-feira em Leipzig. Dois meses e cinco dias depois o muro cairia.

Quando se comemoram os 25 anos destas datas históricas, não esqueço a expressão de um amigo nosso, nascido na RDA, contando como foi para essas manifestações com a mulher e a filha bebé. Cercados pela polícia, sabendo que entre eles havia informadores da Stasi que já lhes estavam a fazer a ficha e provavelmente a cercear o futuro profissional, na iminência de um ataque do exército russo, empurravam o carrinho da filha com ainda mais determinação do que medo.

Também não esqueço as vozes de um grupo de velhinhos a cantar "Shalom" e "We shall overcome", quando organizei em Weimar uma manifestação contra a guerra do Iraque. Juntámo-nos em círculo na praça em frente ao teatro, que eu escolhera por por ser o teatro do Goethe e do Schiller, o teatro onde foi escrita a constituição da República de Weimar. Eles protestaram: "Esta é a praça errada! As nossas manifestações eram na Praça da República, em frente à Biblioteca Anna-Amalia!" - e referiam-se a essas manifestações de imensa coragem contra um regime totalitário. Quando elogiei a perícia de trazer as velas dentro de frascos, para que o vento não as apagasse, eles riram-se, muito orgulhosos, e contaram-me que era assim que iam para as manifestações de 1989.


Traduzo da wikipedia alemã:

Leipzig, início em Setembro de 1989
Em Leipzig, as manifestações de segunda-feira juntaram-se às orações para a Paz na Nikolaikirche, que os padres Christian Führer e Christoph Wonneberger (este último em estreita colaboração com grupos de base da oposição) organizavam desde 20 de Setembro de 1982. A primeira manifestação de segunda-feira teve lugar no dia 4 de Setembro de 1989. Foi iniciada por Katrin Hattenhauer e Gesine Oltmanns, activistas dos direitos civis, que no fim da oração distribuíram entre alguns voluntários cinco cartazes, e desenrolaram elas próprias uma faixa onde se lia "por um país aberto com pessoas livres". A manifestação no pátio da Nikolaikirche exigia "Liberdade!" e sobretudo - devido às fugas em massa que tinham acontecido nesse Verão - liberdade para viajar e outros direitos humanos básicos. Pessoas que tinham metido o processo para emigrar para o Ocidente chamavam a atenção para o seu objectivo: "queremos sair!" Perante jornalistas ocidentais, que se encontravam na cidade por ocasião da Feira de Leipzig, a Stasi derrubou os cartazes e tentou dissolver a manifestação. Como resultado, os populares desataram a gritar "Stasi, fora daqui!"
A data para as orações para a Paz na Nikolaikirche, e ainda três outras igrejas no centro de Leipzig, segunda-feira às cinco da tarde, foi muito bem escolhida. Permitia participar nas orações e manifestações sem ter de faltar ao trabalho, enquanto os membros do partido comunista nesses dias estavam retidos na tradicional reunião partidária nas respectivas empresas. Por outro lado, decorria a uma hora em que as lojas no centro da cidade ainda não tinham fechado, o que garantia uma certa liberdade de movimentos nas ruas sem despertar a atenção das forças de segurança. Além disso, as televisões ocidentais podiam transmitir regularmente o início das manifestações no seu noticiário principal, ao fim do dia. As imagens tinham de ser levadas secretamente para fora de Leipzig, uma vez que, por aqueles dias, a cidade estava fechada a jornalistas ocidentais.
As forças de segurança da RDA reagiram em parte com violência contra os manifestantes, em especial no dia 2 de Outubro de 1989 e durante os festejos do 40º aniversário da RDA, a 7 e 8 de Outubro de 1989. Uma autêntica onda de prisões aconteceu logo a 11 de Setembro de 1989, quando 89 manifestantes foram presos de forma arbitrária.  


(Nos próximos dias continuarei a traduzir os textos relativos a outras datas simbólicas.)


ADENDA: afinal o Spiegel já tem um artigo sobre a efeméride. E este noticiário que passou no mesmo dia na TV da Alemanha ocidental:




1 comentário:

Gi disse...

Parece-me mais fácil definir e focar o objectivo da luta quando há um poder totalitário do que quando há um mal-estar numa democracia.
Não estou a dizer que o combate é mais fácil, de maneira nenhuma.