15 agosto 2014

se chego ao fim desta aventura, nem acredito que é verdade...

Estava aqui toda atarefada com o Cinemagosto, eis que vejo um camião a estacionar em frente à minha porta. Era a cozinha que veio de Portugal, e ninguém me avisou que vinha hoje.
Ora bem: antes hoje que amanhã, que já estou farta de subir e descer escadas para fazer um almocinho (as ferramentas e os ingredientes diversos no segundo andar, o frigorífico na cave, a cozinhita no rés-do-chão) (um dia destes quem escreve um livro com dicas para perder peso sou eu). E antes hoje que amanhã, porque hoje o Cinemagosto ainda não aperta. Amanhã é que vão ser elas.

O homem deixou três caixotes enormes em frente à casa, o Joachim e eu começámos a telefonar a empresas de mudanças de pianos de cauda, como uns desesperados, a ver se conseguíamos essa espécie de milagre que será elevar caixas pesadíssimas até ao terraço do segundo andar, e arranjar quatro homens com força de King Kong e sensibilidade de Sininho para pousar os blocos da ilha sobre as ligações da água que já lá estão espetadas no meio da sala.
Debalde.
Até que a Christina me sugeriu que fosse ao fundo da rua, onde há um guindaste, para pedir aos homens uma ajudinha. Fui ao fundo da rua, era hora do almoço e os operários ficaram todos muito contentes por lhes irromper pelo repasto adentro, e não podiam ajudar mas disseram-me o nome alemão do tipo de camião que me podia resolver o problema: "LKW mit Ladearm".
É bem verdade que no princípio era a palavra, e no verbalizar é que está o ganho.

O LKW mit Ladearm chega daqui a uma hora, os homens que carregam pianos de cauda (e orgãos, e espinetas, e cravos) devem vir na segunda-feira. Pedi que viessem o mais cedo possível, "se fôr às cinco da manhã não me importo, até lhes dou um café". Ele riu-se: "e nós levamos os pãezinhos quentes".

Veremos.

***

Para quem quer saber tudo, a cozinha estava assim na fábrica em Portugal, quando a fomos conhecer em meados de Julho (e aviso já que só aceito críticas positivas, tipo "é a cozinha mais bonita do mundo" e assim):





(Foi feita na "de pau, indústria de mobiliário" - por pessoas a quem dantes se chamava "artista": conhecedoras e amantes da sua arte. E por um preço que, bem feitas todas as contas, não fica muito acima das cozinhas IKEA.)

Agora está lá fora, assim:



Não percam os próximos episódios desta blogonovela. Se correr tudo bem, vitória vitória acabou-se a história. Por enquanto, tento viver um susto de cada vez. Tenho meia hora para ir buscar dinheiro para pagar ao condutor do LKW mit Ladekran, e mais uma tela de plástico para me abrigar as caixas lá em cima no terraço, porque por causa do Cinemagosto andei a rezar para que chovesse e as pessoas quisessem ir ao cinema em vez de ir ao lago (agora é que me vou desgraçar junto da população berlinense) e parece que rezei com demasiado empenho, que começou a chover agora mesmo em cima da minha rica cozinha. 

Depois conto o resto. 


8 comentários:

Cristina Torrão disse...

A cozinha veio de Portugal?!
Vocês metem-se em cada uma!
Desculpa, mas como costumam dizer os alemães: Selberschuld.

Helena Araújo disse...

Cristina, é uma cozinha desenhada especialmente para aquela sala, com móveis com medidas especiais, incompatíveis com os armários standard que aqui se vendem. A própria senhora do estúdio de cozinhas disse-me para a mandar vir de Portugal, que aqui não conseguiria fazer nada nem sequer aproximado dessa qualidade e beleza, e muito menos por esse preço. Viste as fotografias? São dois blocos em Corian, incluindo as pias que estão numa consola pousada sobre o bloco maior. Isto não é uma cozinha, é uma escultura...

snowgaze disse...

É linda. :)
(mesmo, não é por teres dito para dizer)

Helena Araújo disse...

Snowgaze, acabaste de ganhar uma estadia de uma semana numa linda casinha em Berlim! :)

Cristina Torrão disse...

Acredito, Helena, que é uma maravilha, que é única. A opção é vossa. Eu não faria questão de tal cozinha, até porque é contrária à minha política ambiental. Sei que todos os dias andam milhões de camiões a atravessar a Europa, mais um, menos um... Mas é uma questão de princípio.

Mas pronto, vocês assim decidiram... ;)

CCF disse...

Cada bocadinho de casa devia ser assim diferente do outro, feito à medida, também sonho com isso. Hoje em dia todas as casas nos parecem iguais, praticamente tiradas dos catálogos IKEA.
~CC~

Izzie disse...

Adoro, adoro, adoro. E saber que foi tudo feito em dois blocos de corian: soberbo.

Helena Araújo disse...

Izzie, vem aos meus braços! Finalmente alguém que me compreende...
:)

CC, às vezes penso que o caminho certo é poucas coisas, muito boas, e feitas à mão. Em vez de passar a vida a comprar de má qualidade e a deitar fora, para comprar de novo de má qualidade e etc.