19 agosto 2014

nós cá dentro do Cinemagosto (2)

É definitivo: para mim, o melhor do Cinemagosto, melhor ainda que os filmes, é a sorte de me saber acompanhada por pessoas especiais. Além da equipa de organização, os voluntários que por estes dias nos têm vindo ajudar nas mil tarefas de fazer uma mostra de cinema acompanhada por um pequeno festival de comidas e vinhos, livros e DVDs.

Têm sido dias cansativos, e às vezes não posso evitar perguntar-me porque é que me meto nestas coisas. Mas depois falo com as pessoas que vêm comprar um pastel de nata no fim do filme, e me aparecem com os olhos brilhantes, ou então vejo-me a fazer um intervalinho, sentada com os outros "escravos" em conversa e risos à volta da mesa com um prato de presunto e alguns copos de vinho, estendo as pernas, suspiro por dentro e penso "é por isto".

Pagamos mal, e em géneros: por jorna de trabalho, dois bilhetes para os filmes e uma broa de mel da Madeira. Os voluntários são amorosos, mandam-me ir ver o filme que me interessa, ficam eles a tomar conta do estaminé. Eu não vou, não tenho coragem. Mais uma ideia fantástica que me saiu pela culatra: queria ter uma mostra de cinema português em Berlim para poder trocar as voltas à minha insularidade, e agora tenho cinema português do melhor e não vejo porque estou a vender croquetes e bolinhos de bacalhau...
Para mais, tive os filmes todos em minha posse durante uns dias, em Lisboa, quando os andei a recolher para os enviar para Berlim. Vontade de fazer um controlo de qualidade não me faltou, mas o tal "maldito inquilino" não deixou - por uns dias a minha vida parecia a Casa das Belas Adormecidas, eu a dormir ao lado dos filmes sem lhes querer tocar, querendo. Por estas e por outras é que nunca hei-de arranjar um cargo de CEO numa daquelas empresas que paga muito bem aos CEO, por mais incompetentes que sejam. Ora, incompetente também consigo ser (como se prova no parágrafo anterior, por exemplo), mas parece que me faltam os restantes atributos. Triste vida.

Os meus filhos ajudam, coitados. Sobretudo agora, que chegou a cozinha de Portugal, e eles vêem o património familiar muito melhorado, não querem correr o risco de ser deserdados. E até trazem os amigos. Se não há muito trabalho para fazer, digo-lhes que vão ver o filme. Eles vão, e aprendem muito sobre o meu país, que é também deles. Também por isso esta mostra me vale a pena.



Aleluia! Finalmente deixaram-me mandar: as pessoas da equipa de organização, que são do centro e do sul de Portugal, e mais um alemão que se o deixassem mandar era de Lisboa, quando chegou o momento de dizer "viva o Cinemagosto" disseram "bibócinemáguôasto!" e desataram a rir.
(Havemos de repetir esta foto mais cedo, quando ainda há luz na rua)


O João Botelho conversa com o Hannes Reiss, a Anabela Moutinho sorri para a Teresa Prata, e eu converso com o nosso excelente barman, professor de matemática. Discutimos os teoremas da incompletude de Gödel, que é como quem diz: o meu copo está vazio. 










 
 


E para quem quer saber tudo, tudo, tudo, aqui vão dois vídeos:

- a equipa de preparação em plena azáfama;

- o debate do filme Juventude em Marcha, de Pedro Costa, gravação "pirata" que encontrámos no youtube.


1 comentário:

Carla R. disse...

Olha, só por curiosidade, onde é se pode ver o cartaz ?
(Agora até fiquei com fome. Sorte a minha que felizmente ainda estou em Portugal...).