15 agosto 2014

nós cá dentro do cinemagosto (1)



Muito resumido, o arranque foi assim:

Fui buscar a Anabela Moutinho ao aeroporto, viemos dormir a correr, fomos buscar o João Botelho ao aeroporto. A caminho do hotel Pestana, que é um dos patrocinadores do Cinemagosto, demos uma volta para mostrar ao João o que mudou em Berlim desde a última vez que ele cá esteve. Enfim, um pouco do que mudou, que não tínhamos a semana toda, e esta cidade vive em perpétuo refazer-se.

Já levei dezenas de pessoas ao memorial do muro, na Bernauer Strasse, e nunca vi ninguém apanhado como o João Botelho. Aquelas pessoas nas fotografias a preto e branco, assassinadas no caminho para a liberdade, eram da família dele. Todas elas.

A equipa do Cinemagosto reuniu-se pela primeira vez, e a reality tv nunca está quando mais precisamos dela: para filmar o emotivo encontro entre o Hannes e a Anabela, que andam há meses a trabalhar juntos, numa onda de perfeito entendimento e admiração mútua, sem nunca se terem visto mais magros. Por outro lado, foi uma sorte a reality tv não estar lá, porque assim ninguém registou as nossas caras de inveja ao ver a t-shirt do Hannes.
(Decidi - mas vai ser o nosso segredinho, não contem a ninguém - que vou fazer uma para mim, e todos os anos outra. Como o grafismo se mantém, e só mudam as fotografias dos filmes, vai dar uma linda colecção. Hehehehe, desta é que os senhores da Berlinale não se lembraram, hehehe.)

Depois do almoço havia uma conferência de imprensa no cinema Babylon. Mais uma vez a reality tv falhou, e ficou por registar a comoção da Anabela ao descobrir a beleza daquele cinema quase centenário. A casa do Cinemagosto tem a vivacidade tranquila de um amor decantado pelo tempo.

A caminho de casa parámos ainda no memorial do Holocausto e perdemo-nos de vista na crueldade dos seus rectos caminhos, descemos ao centro de informação e de novo fomos separados pelo horror. Já fui lá tantas vezes, e a cada vez fico grata pela penumbra das salas que me recata a dor.

Reencontrámo-nos mais tarde num café, a falar da humildade dos génios e do, digamos assim, kama sutra do cinema (vocês sabem: as posições da câmara, a importância do olhar, a intuição que sabe encontrar o gesto certo, esses erotismos). Falámos do tanto que o Manoel de Oliveira ensina - sobre cinema e sobre o brio da vida. Fizemos planos mirabolantes para hoje, e dissemos adeus até amanhã.

(A mousse de chocolate do hotel Pestana é do outro mundo. Podem crer.)


1 comentário:

Carla R. disse...

Ainda o cinemagosto não começou e já me estou a perguntar porque é que não tenho comigo um bilhete Lisboa-Berlim para ontem.
Fiquei um bocadinho aliviada por saber que há planos de continuidade.
(A ideia da t-shirt tem que ser comercializada. Tem).
Beijinhos Helena :)