31 agosto 2014

é o amor

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Os nus de Bonnard

A sua mulher. Durante quarenta anos ele pintou-a. Uma e outra vez. O nu da última pintura igual à jovem nudez da primeira. A sua mulher. Tal como se recordava dela enquanto jovem. Como se ela o fosse. A sua mulher no banho. Na sua cómoda em frente ao espelho. Nua. A sua mulher com as mãos debaixo dos seios, olhando o jardim. O sol concedendo cor e calor. Todas as coisas vivas a florescer ali. Ela jovem e trémula e tão desejável. Quando ela morreu, ele pintou por mais algum tempo. Algumas paisagens. Depois morreu. E puseram-no junto dela. A sua jovem mulher.
RAYMOND CARVER
(Versão Luís Parrado; original reproduzido em Good poems, selecção e introdução de Garrisson Keillor, Peguin Books, Nova Iorque, 2002, p. 146).





Será amor?

Este Bonnard lembra-me o Edward Hopper, cuja esposa foi a sua modelo durante décadas. A mulher nos quadros do Hopper não envelhece, estiliza-se. É o amor?
Penso no Lucian Freud, que nunca teria retocado o real em nome de uma estética embelezante (embelezante?! o que há de belo na recusa da nossa circunstância de mortais?)
Seria o seu realismo sinal de menos amor?

É amor o que idealiza o que vê, ou o que vê - e acolhe - o que é?


(Com um agradecimento especial a quem pôs no youtube esta canção do João Lóio. Muito grata ficaria a quem pusesse todas as outras do álbum "mais um dia".)


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