25 julho 2014

o concerto




Na sexta-feira passada (eu sei, eu sei - notícia de última hora é outra coisa) fui ao concerto de homenagem à Elisabete Matos. O concerto.
Cheguei ao Largo com duas horas de antecedência, mas já estava praticamente cheio. E eu a pensar que era só em Berlim que o pessoal deslarga a produtividade para cuidar da cultura!
Pois bem, ali fiquei de guarda à meia dúzia de cadeiras que consegui guardar numa lateral do palco, onde mais tarde passariam todos os VIPs e os magníficos vestidos da Elisabete. Mas nem consegui ler o livro que avisadamente levara comigo, porque estava sempre a explicar aos interessados nas minhas cadeiras que "os meus filhos" só tinham ido ali beber uma água, coitadinhos, e estavam mesmo mesmo a chegar. (Este é o momento em que perco mais uma dúzia de leitores, "gostava tanto de a ler, mas agora que vejo que faz estas porcarias nunca mais cá volto". Eu e a minha boca grande...)
Os "meus filhos" (alguns deles mais velhos que eu, ele há milagres) foram chegando, a chuva chegou também, os instrumentos foram retirados à pressa, o pessoal ficou à espera a ver no que é que as coisas davam, ouvi de passagem que em Massamá chovia torrencialmente, e depois parou de chover, os instrumentos voltaram, o Primeiro Ministro entrou rapidamente em cena, a praça toda rebentou em vaias de tal maneira que as palmas do lado contrário mal se ouviam. O Joachim ficou chocado: "Portugal está assim?" Depois do concerto tentaram explicar-lhe que um ministro que chega ao poder por meio de intrigas e promessas falsas não merece o nosso respeito, mas ele continuava a achar estranho que um governante seja vaiado desta maneira. Tem sorte, tem sorte - vem de um país no qual, muito antes de se chegar à fase da vaia, os governantes vão embora pelo seu próprio pé.
O Jorge Rodrigues apresentou as peças que se ouviriam de entrada. Ao traçar o retrato de Scarpia, da Tosca, "um homem com ar de santinho, frequentador da igreja e alegadamente homem de bons princípios, mas na realidade um biltre", a praça rebentou em aplausos.  Pobre Jorge Rodrigues, sabia lá ele que as suas palavras teriam este efeito? Por sorte, o Joachim não percebeu a quem era dirigido o remoque.
O concerto começou. Fabuloso, tudo: os cantores, o Jorge Rodrigues, os coros, a orquestra, os vestidos. Se querem saber pormenores sobre a música, vão ler o Paulo, que sabe falar muito bem sobre isso (sobre este concerto: aqui aqui).
Eu fico-me pelo elogio ao Jorge Rodrigues, que era bem capaz de me fazer apaixonar pela Ópera, todas as óperas, até as de Wagner. Sobre a Elisabete, nem chovo no molhado, por causa das inundações que no caso iam dar dilúvio (mas que sorte a nossa, a dos portugueses, terem entre os seus uma cantora destas!). Não falarei dos cantores, portanto. Deixo apenas um suspiro para o Paulo Ferreira, que cantou um Calaf maravilhoso: ah, se ele deixasse aquela lambisgóia da Turandot e viesse cá cantar-me árias ao ouvido, ah, se ele quisesse vir decifrar comigo todos os enigmas do mundo...    
Mal o concerto acabou, começou uma chuva torrencial. Refugiámo-nos no café ao lado, de bem com a vida.

Avisa o Paulo, e eu repasso: o mesmo concerto, gravado no sábado, passa hoje na RTP2, às 23:06, depois de um documentário sobre a Elisabete Matos.
Vejam, deliciem-se com as descrições do Jorge Rodrigues e aquele extraordinário grupo de cantores, com a excelente interpretação das peças. Mas aviso já: no Paulo Ferreira ninguém toca, que eu vi primeiro.


3 comentários:

Paulo disse...

Estava a sentir a falta do teu comentário ao concerto. Resta dizer que Passos não foi à segunda noite, pelo que a sua entrada triunfal não ficou registada

bettips disse...

Ele há "deslargares" de produtividade que sabem bem... Gostei de te ouver por cá! E claro, como do Porto a Lx é mais longe que de Berlim a Lx (cá pelas contas coelhais, para não dizer asneira maior), verei em "deferido", como a AR me chega. Se bem que prefiro um concerto ou uma ópera em que todos estejam afinados (por cá, só as maiorias existentes me fazem "afinar!).
Abç

Gi disse...

:-)
A começar a ver o concerto na rtp2, e cheia de curiosidade em relação ao Paulo Ferreira.