06 abril 2014

desmesurado

Na terça-feira passada ouvi na Filarmonia o Jonas Kaufmann a cantar a Winterreise, acompanhado pelo Helmut Deutsch - este pianista é tão bom, que eu às vezes dava comigo a ouvir o que ele tocava, alheia à voz. Um concerto excelente, mas que perdia pelo espaço onde decorreu. A sala para 2.400 pessoas, apesar da sua extraordinária acústica, é desmesurada para aquele tipo de música.
Se me deixassem mandar, fazia uma terceira sala na Filarmonia, com a mesma acústica mas lugar para, no máximo, 800 pessoas - e todas à frente do cantor. Se eu, no bloco B, já tinha dificuldade em entrar na magia daquela peça, que sentiriam as pessoas nas costas do Jonas Kaufmann, ao fundo da sala? Provavelmente deliciavam-se com o Helmut Deutsch. E já valia bem o bilhete.

Na sexta-feira o Jordi Savall esteve na Konzerthaus com o Concert des Nations. Belíssima música em instrumentos antigos, mas, lá está: a minha terceira sala da Filarmonia está a fazer muita falta nesta cidade.

Deixo aqui duas das peças de que mais gostei (sem contar o Quartett e-Moll TWV 43:e4 do Telemann e a Triosonatte d-Moll Wq 145 do Carl Philipp Emanuel Bach - neste concerto, as composições dos alemães mostraram-se com uma profundidade excepcional).




Esta, uma dos encores, tocada por músicos muito bem dispostos e sorridentes:



E, a propósito de músicos sorridentes: o Jordi Savall só sorria quando queria dar os parabéns aos outros músicos. De resto - enquanto tocava, quando recebia os aplausos, quando voltava ao palco ou saía dele - tinha uma cara séria e triste. Como será fazer música debatendo-se com tamanha tristeza?


Sem comentários: