Tínhamos apenas uma hora para filmar. É impressionante o que este grupo consegue fazer, sobretudo o modo como mantém a calma no meio do maior stress. Filmámos praticamente tudo o que queríamos, andei uma hora a fazer de special guest star passeando livros pela biblioteca com cara de intelectual, e às nove arrumámos tudo e fomos tomar o pequeno-almoço.
Depois entrevistámos a historiadora Elke Hartmann, co-autora do projecto Houshamadyan, que procura recuperar os vestígios da vida dos arménios no império otomano, para reintegrar esse povo naquela geografia e para promover o diálogo entre os descendentes dos sobreviventes e os outros povos dessas mesmas regiões.
Não há dúvida: gente das Ciências Sociais é vinho de outra pipa. Enquanto ouvia esta mulher, admirava a profundidade de pensamento, a extensão dos conhecimentos, o cuidado da linguagem. Nada no seu discurso acontece ao acaso. Fascinante.
Toda a equipa de filmagem estava suspensa das suas palavras, todos encantados - e também preocupados. Como cortar estas frases preciosas? Ficámos com vontade de fazer um filme só para ela.
Seria daqueles filmes que deviam ser vistos por todos, porque ela mostra com muita clareza que a tragédia dos arménios se insere em mecanismos sociais que as sociedades não conseguem ultrapassar. Não é os arménios e os turcos há 100 anos - é hoje, e somos nós: o lugar dos estrangeiros numa Europa em crise, o ressurgir dos nacionalismos, o novo vigor do racismo.
Do site Houshamadyan tirei estas fotografias de um vestido arménio de noiva:
E depois fechei-o rapidamente. Não me posso perder por lá, porque tenho de ir fazer a mala. Amanhã partimos para Yerevan.
2 comentários:
Boa viagem e boas imagens.
Ui, que inveja...
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