27 janeiro 2014

acossados

Será exagero estabelecer um paralelo entre estudantes universitários, que aceitam ser objecto de troça em brincadeiras indignas para poderem pertencer ao grupo, e jovens profissionais, que aceitam estágios sem vencimento, ou empregos com vínculos precários e salários de miséria para poderem entrar na vida profissional?

Olho para tudo isto, e vejo os filhos do nosso tempo: acossados na vida académica, acossados na vida profissional. E que dizer da sociedade que encolhe os ombros perante este oportunismo à margem de qualquer ética?


(Do PúblicoNos dias seguintes ao seu funeral foram à sua universidade, foram ao hotel de luxo onde ela estava a estagiar. E essa é outras das razões por que querem que se escreva este texto. Catarina Soares já não existe, mas sentiram que no sítio onde estava a estagiar é como se ela nunca tivesse existido. O que presenciavam que é todos os dias se levantava às 6h30 para estar em Lisboa às 8h e sair às 16h e que no final de estágio iria receber uma remuneração simbólica que a ajudaria a comprar um iphone; à noite estava a acabar as últimas cadeiras da licenciatura em Turismo. Queriam receber o que lhe era devido e doar o dinheiro a uma instituição, mas era como se Catarina fosse "invisível, não havia uma ficha com os dados dela, não tinham a morada dela”. Querem que a morte da filha sirva “pelo menos de alerta contra os estágios não remunerados que supostamente dão experiência e currículo, mas que mais não são do que trabalho escravo”. Custa-lhes saber que a filha ia trabalhar no dia de Natal porque o chefe lhe tinha dito “que é nesse dia que se ganha mais”, quando nunca tiveram intenção de lhe pagar.)

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