26 novembro 2013

uma casinha de imigrante

Então foi assim: comprámos um terreno e resolvemos construir uma casinha. Fizemos uma lista de desejos (dois escritórios, os quartos dos miúdos de maneira a poderem ser transformados em B&B quando eles saírem de casa, a cozinha e sala de jantar no topo, para podermos gozar a vista por cima dos telhados berlinenses, etc.) e falámos com o nosso arquitecto em Weimar, que nos fez um projecto muito honesto em estilo Bauhaus. 




Mostrei o projecto a um dos meus irmãos, que é arquitecto.
"Essa casa está muito alemã" disse ele. "Temos de a aportuguesar."
Dias depois, mandou-me isto:






Eu comecei a babar: vamos ter uma casinha de imigrante, uma bela casa portuguesa no coração de Berlim!

(Depois skypei com ele, para pedir mais uma janela aqui e uma porta acolá, e mais uma cobertura assim e assado, e ele, que deve ter má-consciência das que me fez quando dormia na cama de cima de beliche e eu na de baixo, respirou fundo e foi mudando o projecto.)

O engenheiro é que não achou graça nenhuma. "Vocês e o vosso Bauhaus-Barock!", resmungava ele, enquanto desenhava mais de trinta planos, em vez dos dez que faz habitualmente para uma habitação unifamiliar. O arquitecto alemão também não tinha muito que rir: "isso é muito bonito para Portugal - mas vocês têm consciência que os materiais desta casa têm de suportar variações de temperatura de mais de 60 graus?"

O empreiteiro foi a terceira vítima. Sem olhar muito bem para os planos, fez um orçamento para a cubicagem. Depois começou a construir, a deitar as mãos à cabeça, e a pôr custos extra nas facturas. Eu afligi-me: "não me digam que estamos a fazer uma segunda Casa da Música?!" O arquitecto disse que não pagava, que não tinha sido isso o combinado, e o empreiteiro entrou em greve. E nós a ver o Inverno chegar.

Tudo se resolveu. As paredes e o telhado já lá cantam (e mesmo a tempo, que esta manhã já havia gelo no passeio), só faltam alguns elementos do Bauhaus-Barock que serão postos em breve. Amanhã é a Richtfest: vamos comemorar com os operários e os vizinhos o fim da primeira fase da construção. Depois conto.


19 comentários:

jcd disse...

Muito bom, Helena. Excelente conceito esse do seu irmão de 'aportuguesar'. Felicidades.
Joana

Helena Araújo disse...

Obrigada, Joana.
Eu estou com alguma apreensão. Por exemplo, aqueles prolongamentos das paredes: vão levar isolamento como o resto da fachada (os tais 60 graus de diferença de temperatura), e por isso vão ficar um bocado largos. Será demasiado?
Se eu fosse de roer as unhas, era agora que ficava sem elas... ;-)

Ant.º das Neves Castanho disse...



Muitos Parabéns, é linda!

Pelos vistos (e vistas...), TU é que deverias ter seguido Arquite(c)tura (e para mais na melhor Escola do País, que é a do Porto!)...

Então uma boa «Festa do Pau de Fileira» (o fim do princípio!) e boa sorte para o resto da construção (a primeira Buahaus-barroca-luso-alemã, uau...).

Rita Maria disse...

OMG, já?!

Helena Araújo disse...

António,
eu, arquitectura?! Coitadinhos dos professores da escola do Porto...
"Festa do Pau de Fileira" - onde viste esse nome? Ando há que tempos a tentar encontrar uma tradução decente para isto.

Rita,
é mais assim: só agora? Já começaram em Junho - levaram quase seis meses a fazer algo que devia ter ficado pronto em três!

Gi disse...

Gosto da ideia de Bauhaus-Barock...
Mas sabes, àparte as cores (os materiais não se distinguem), para mim os dois projectos fazem-me lembrar aquelas coisas "descubra as diferenças".
Sou só eu?

António P. disse...

Bom dia Helena,
Casinha ??!!:))
Palácio :) resultante de colaboração luso-germânica, pelo que me apercebi.
E o empreiteiro é português? Com greves só pode :)
espero bem que para o ano já aí passe o Natal.
Felicidades.

Helena Araújo disse...

Gi,
agora deste-me um grande desgosto!
Então não vês as diferenças? O primeiro projecto é um caixotezito com janelitas, e o segundo é arquitectura.

António,
para palácio, falta-lhe a piscina e a localização ali para os lados do Alentejo! ;-)
O empreiteiro é da antiga RDA: faz um trabalho excelente, mas tem muitas manias sobre os direitos de quem trabalha e assim... ;-)
(estou a brincar, claro - só a primeira parte, aquilo do "excelente profissional", é que é verdade)

Paulo disse...

A ideia da Gi é gira. Pomo-nos a comparar os bonecos que representam a mesma perspectiva e a ver onde é que o teu irmão pôs e tirou coisas.

Helena Araújo disse...

Ah, era isso? Vamos embora! :)
(depois, para complicar, eu ponho aqui a fotografia do resultado final, e brincamos de novo)

Ant.º das Neves Castanho disse...



Vês? Se tivesses ido para Arquite(c)tura, saberias o que é a cerimómia do Pau de Fileira, porque terias de contactar com inginheiros (e ele há inginheiros que deviam ter sido tradutores...)!

snowgaze disse...

Gosto muito. Boa sorte para o resto, que corra tudo da melhor maneira :)

Cristina Torrão disse...

Olha, peço desculpa, mas gosto mais do projeto alemão original...

Helena Araújo disse...

Desculpas aceites, Cristina. ;-)

jj.amarante disse...

E tem acessos para cadeira de rodas para quando artirem uma perna?

Helena Araújo disse...

"quando", jj.amarante?!
Se acontecer alguma coisa dessas, logo se vê.
Já tivemos algumas pernas operadas, e foi possível subir o primeiro lanço de escadas com as muletas.

jj.amarante disse...

Eu tenho um bocadinho de má vontade contra degraus mas reconheço que as casas com dois pisos existem aos milhões.

Cristina Torrão disse...

Enfim, gostos... Gosto daquelas linhas simples ;)

Mas não deve mesmo ter sido fácil para o engenheiro e o arquiteto (principalmente, para o último).

Helena Araújo disse...

jj.amarante,
para poder fazer uma casa térrea com tudo o que queremos meter lá dentro, tínhamos de comprar um terreno com uns 1000 m2...
No way. Já com este terreno em formato edição de bolso ficámos com a corda na garganta, quanto mais com um campo de futebol inteiro!

Além disso, eu não tenho muito contra escadas. Estou convencida que esta casinha vai fazer muito pela saúde do meu coração e para os meus músculos.


Cristina,
deixa lá - concordaremos em discordar! :)
Sim, para os dois foi um sarilho. E para o empreiteiro também.