02 outubro 2013

greve das orquestras alemãs


Ontem de manhã os filarmónicos interromperam um ensaio com Reinhard Goebel, um maestro que se estreia agora com a orquestra (será que é mais um dos concorrentes?), e foram fazer uma pequena manif para a rua. Com acompanhamento musical, claro, ou não fossem eles os filarmónicos. E que peça melhor podiam ter escolhido, senão o solo da trompeta de Fidélio que anuncia a chegada do ministro que vem salvar a situação?




O discurso, traduzido muito à pressa, foi assim:
Esta manhã, cerca de 100 orquestras nacionais e regionais estão em greve. A Filarmónica de Berlim participa nesta acção, porque também se sente co-responsável pelo futuro das orquestras na Alemanha. Cerca de 25% das orquestras profissionais do mundo inteiro são alemãs - algumas delas têm mais de 500 anos. Do ponto de vista da concentração, diversidade e tradição, o panorama das orquestras alemãs é ímpar. Durante quanto tempo ainda? Pensamos que é preciso pôr um fim à política de poupança nas orquestras e nos músicos. Este nosso património cultural, único em todo o mundo, está seriamente em risco. Só nos últimos vinte anos, desapareceram 37 das 168 orquestras existentes. Foram destruídos milhares de postos de trabalho para jovens músicos. O encerramento e a fusão deixou apenas 131 orquestras, e muitas destas vêem a sua existência ou a sua dimensão ameaçadas. Em Schwerin, Chemnitz, Eisenach, Halle, Dessau [n.T.: cidades da antiga RDA], mas também em Baden-Baden e Freiburg [n.T.: cidades de um dos Estados mais ricos da Alemanha]. Tem de voltar a haver financiamentos satisfatórios para o teatro e as orquestras na Alemanha. Se a base das orquestras alemãs continua a desmoronar-se, também as orquestras mais famosas devem temer pelo seu futuro. O nosso protesto solidário e público dirige-se contra esta situação, ao lado de todas as orquestras alemãs de música clássica. Em coro com os nossos colegas, os membros da Orquestra Filarmónica de Berlim dizem: "basta!". Esta é a nossa exigência a todos os políticos com responsabilidades nesta área: manter a nossa paisagem de orquestras com as suas características únicas!

***

À hora do almoço passei pelos bastidores, e recolhi um dos cartazes. Estou  a pensar vendê-lo a quem der mais. É muito bonito, plastificado, e provavelmente vem com as impressões digitais de algum músico famoso, e a vibrar ainda bocadinhos das notas de Mozart e Bach, que é o que eles estiveram a ensaiar antes da manif. Então, temos negócio?
(Não é para mim, é para ajudar a orquestra - quer dizer, para ajudar a pagar os bilhetes que lhes comprei...)

3 comentários:

Paulo disse...

Só agora consegui ver os bravos de Berlim.

Helena Araújo disse...

Vi agora o teu post, Paulo. Como é que consegues sempre falar das coisas com seriedade, e como é que eu consigo sempre abandalhar? ;-)

Paulo disse...

Porque tu tens graça a abandalhar e eu não.