Encontrei esta foto no blog Der Terrorist, como ilustração de um post com o sugestivo título "os descendentes", e este texto:
Para quem ainda não tenha percebido, é de uma guerra que se trata. O saque do património é uma história muuuuuito antiga.
[Imagem "Hermann Göring admiring a painting given to him by Adolf Hitler on the occasion of his 45th birthday", Jan. 13, 1938]
É apenas uma das reacções a um artigo do DN com título "Indústria alemã quer Grécia a pagar dívida com património", uma das milhentas que desde ontem pululam nas redes sociais, e nas quais os alemães, para variar, são os abjectos da História.
(Suspiro. O nosso mundo seria tão mais pacífico se as pessoas se informassem bem antes de começarem a salivar...)
Apesar do título "Indústria alemã quer Grécia a pagar dívida com património", está bastante explícito que ele não estava a sugerir desmontar o Partenon ou vender as ilhas, estava a falar de privatizações de "empresas do setor da energia, portos, aeroportos ou imobiliárias". Parece-me que o Grillo inventou a roda com um pequeno atraso: essas privatizações, tanto quanto sei, já estão em curso há anos, precisamente para pagar a maldita dívida (ou será que só nos meus pesadelos é que a EDP foi vendida à China?).
Faço ainda notar que esta é a resposta de um tal de Ulrich Grillo (Ulrich Grillo who?) a uma afirmação do Ministro das Finanças alemão sobre a necessidade de um novo pacote de ajuda à Grécia, num momento em que se especula sobre um segundo haircut na dívida grega. Repare-se que Wolfgang Schäuble fala disto a poucas semanas das eleições, sinal de que o pacote já está mais do que decidido, e lembre-se que o primeiro haircut representou cerca de 70% da dívida grega: 50% capital e 20% resultante da renegociação dos juros (que passaram a ser entre os 2% e os 4%).
Pergunto: porque é que ninguém reage à afirmação do Schäuble, nem insinuam que é o São Francisco de Assis nem nada (esta é para rir, claro), mas desatam a brandir a herança genética do nazismo por causa de um palerma qualquer que, no contexto de um debate público, tenta puxar a brasa à sua insignificante sardinha?
Os factos já são suficientemente maus: estamos todos metidos num problema monumental, e nenhum país tem dúvidas sobre isso. Melhor seria pensarmos em conjunto numa solução com futuro, em vez de andar a distorcer os factos para os fazer caber num discurso de ódio que em nada serve a construção da paz entre os povos.
2 comentários:
Mais uma vez, os jornalistas a fazerem péssimo jornalismo, com o recurso a títulos enganosos. E depois da leitura da notícia, percebe-se afinal que não é nada disso.
Para mais, todos os meios de comunicação social falaram do ministro das Finanças, mas este Grillo praticamente não foi referido. Não vi qualquer referência a esta sugestão na TV ou nos maiores jornais. Essa entrevista praticamente não existiu no espaço público.
Parece que em Portugal se noticia não o que realmente se passa na Alemanha, mas quaisquer episódios insignificantes que possam alimentar o ressentimento nacional.
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