13 junho 2013

uma data duplamente histórica


12 de Junho de 2013: dia em que o presidente da República da Alemanha lançou a primeira pedra do que virá a ser, daqui a mais ou menos 500 mil milhões de euros, um belo pastiche do palácio do Kaiser no centro do Berlim. O palácio tinha sido danificado na segunda guerra mundial, e depois o regime comunista reduziu-o a pó, por motivos ideológicos. Só sobrou a varanda de onde o Karl Liebknecht proclamou a República.


(foto encontrada aqui, onde há muitas mais imagens deste edifício)

No que eram as traseiras da antiga residência do Kaiser fizeram o Palácio da República, muito gostava eu de saber porque é que o fizeram nas traseiras. Talvez para poupar os governantes da RDA ao olhar perscrutador dos deuses gregos e romanos na rotunda do Altes Museum, mesmo em frente da parte nobre do antigo palácio? Espertinhos! O Kaiser, coitado, é que não se lembrou disso. Não admira que passasse a vida refugiado em Potsdam: não é fácil governar com os deuses da Antiguidade a espreitarem por cima do nosso ombro. Como se já não bastasse a catedral protestante! (Pode ser que eu esteja a confundir épocas e imperadores, mas é por uma boa causa: dá-me jeito à narrativa)
Depois da queda do muro disse-se que o Palácio da República estava cheio de amianto, e que era preciso fazer obras para o retirar. Devia ter mesmo muito amianto, porque no fim das obras não sobrou absolutamente nada. Mas foi por motivos técnicos e não ideológicos, que com a saúde da população não se brinca. Já com a saúde mental, enfim, como direi... Não havia necessidade de humilhar assim o povo da RDA.

No mesmo dia em que se deu início a esta magnífica obra, uma escavadora entrou no nosso terreno e começou a mexer terra ó pra lá e ó pra cá. A ver se no Natal estamos na casa nova! (e se a nossa empreitada tem muito menos algarismos que a do palácio)
Obras na Alemanha, é assim: quatro meses antes de lançarmos a primeira pedra (vá, a primeira pá de terra) já estávamos a decidir onde e quantos interruptores e tomadas queremos. Praticamente só falta escolher a cor do chão e dos azulejos. Nada de "já agora" - que é isso que encarece a obra e deita grãos de areia na engrenagem. Amanhã vou deitar fora todas as revistas de arquitectura que por aí tenho. Não me vá dar uma inspiração extemporânea...

6 comentários:

Paulo disse...

Ainda vi o Palácio da República no tempo do muro. Feio como só ele.
Estava a pensar que o PPC podia propor que Berlim importasse uns mármores e uns azulejos de cá; era para ajudar a nossa economia.

(Tu podias intermediar o negócio e com as sobras ainda ajudavas a tua.)

Helena Araújo disse...

Paulo,
olha que isso são opiniães...
O nosso arquitecto (que era da RDA) está tristíssimo, porque diz que era uma bela obra de arquitectura. Além das recordações que praticamente todas as famílias têm, de terem lá passado algumas boas horinhas.

Quanto aos azulejos e mármores: boa ideia, boa ideia! Até podiam dizer à Joana Vasconcelos que fizesse os azulejos, e eu tratava de pôr defeito a essa obra (a internet está cheia de argumentos, não me seria difícil arranjar um pot-pourri) para ficar com o refugo, e dava os azulejos brancos (puros, minimalistas) para o palácio. hihihihi

Rita Maria disse...

Eu bem que tinha prometido que se construíssem esse palácio Eurodisney me ia embora. Humpf.

(eu acho que era muito feio, mas um edifício que é um parlamento mas também um espaço cultural e popular é uma mensagem muito forte, independentemente do que nele teve lugar depois)

Helena Araújo disse...

Pois, foste-te embora, e eles - zumba! - começaram logo a construir, porque já não sentiam resistência do lado de lá. Vai-se a ver e a culpa é tua!
;-)

Independentemente de ser feio: parece-me que não se pode fazer isso com a História e as memórias dos habitantes da RDA. Não pode, mas fez... :(

snowgaze disse...

Boa sorte para a tua construção, espero que corra tudo de acordo com os planos. :-)

Helena Araújo disse...

Obrigada, Snowgaze!