12 junho 2013

mudança de ramo



Recentemente dei um salto brutal na minha carreira: agora trabalho na caixa da Russendisko, a original, no Café Burger. Sou a que põe carimbos no pessoal - eu bem digo que o céu é o limite!

Passam-me todos pelas mãos: os casais, as mulheres sozinhas, as mulheres em pares, os homens sozinhos e os homens em pares, os grupos, os bêbedos, os que se atiram a tudo o que mexe (inclusivamente a desgraçada que só mexe o suficiente para lhes pôr o carimbo no braço, "ah, aí não, tenho uma ideia melhor" - e levantam a t-shirt, para eu os carimbar no peito, hahaha, exibicionistas de plano B, coitados)
É impressionante a quantidade de casais em que cada um paga a sua entrada. As minhas colegas da caixa tentam reeducar o povo, viram-se para o homem que estende uma nota e perguntam: "paga para os dois?" Mas por essa altura já a mulher está numa agitação febril a tentar encontrar cinco euros nos confins da sua bolsa.

No intervalo vou conversando com as colegas. Uma é russa de uma ilha mais ou menos japonesa, a outra é russa do Azerbaijão. São muito divertidas, eu distraio-me com as conversas, troco tudo e carimbo as pessoas erradas.

É um carimbo de tinta transparente, visível com luz negra. Eu carimbo, eles olham para a pele, põem cara de não percebo, já eu estou de lanterna apontada para lhes mostrar as estrelinhas e a palavra "Russendisko". Alargam os olhos, exclamam "ah", "oh", "wow" ou o que calhar, alguns riem, outros sorriem - parecem crianças, e é bom vê-los assim.
Duvido que mais alguém leve tantos sorrisos por minuto como eu, nesses sábados.

Gosto muito da política da discoteca: entram todos, menos os demasiado bêbedos. Nada de fitas por causa da roupa e do estilo, da idade, do aspecto físico, sei lá quê. No sábado passado houve duas despedidas de casamento (já vinham alegrotes) e vários aniversários. Estava um ambiente óptimo.

Os seguranças são simpáticos. Um deles consegue algo prodigioso: sem tirar os olhos da rua, repara em quem está a tentar entrar sem pagar e vai atrás dessa pessoa. Além disso, não sei se já disse, é muito simpático. Sim: precisei de chegar a esta idade para achar graça a seguranças russos com cara de serem capazes de fazer mudanças de pianos atirando-os da rua para a varanda do andar certo... (ainda estou para saber se é a famosa sabedoria que vem com a idade, se é senilidade precoce)

Infelizmente não me pagam, mas posso entrar de graça e dançar quanto me apetece. Também me dão bebidas se eu quiser, mas como depois tenho de levar o carro para casa bebo apenas água.

6 comentários:

Gi disse...

Helena, estou aqui a rir e a perguntar se este post foi escrito por ti ou pela tua filha ;-)

Helena Araújo disse...

hahaha
Então a minha filha de 19 anos ia lá sofrer de senilidade precoce?!...

Luís Novaes Tito disse...

Mudança de ramo? Então a frase não é: "cada macaco no seu galho"?
Smile (por extenso) ou laughing out loud (igualmente por extenso)

Helena Araújo disse...

E eu sou lá macaco, Luís?!
;-)

Além de que, convenhamos, essa frase não faz sentido nenhum. Desde quando é que os macacos ficam num galho só...

snowgaze disse...

HIHI Parece muito divertido. :)

Helena Araújo disse...

é muito divertido!
Quando vieres a Berlim, há-de ser num fim-de-semana de Russendisko.