16 maio 2013

ups, só contaram pra você...

De que falamos quando dizemos "Alemanha"?
Dei uma vista de olhos pelos jornais alemães, e não vi a "Alemanha" a juntar-se a nenhum coro de críticas. Minto: há muito tempo que se fala da austeridade em Portugal como uma receita que, mesmo estando a ser cumprida à risca, não dá os resultados esperados, muito antes pelo contrário. Já tenho falado disso aqui. Mas nos últimos dias não tem sido tema. E não me dei conta de a Merkel ou o Schäuble (e, neste caso, os verdadeiros "responsáveis alemães" são eles) terem mudado o disco riscado da disciplina orçamental.
Ou ando completamente a leste, ou então o Público resolveu fazer uma incursão pelo território do Correio da Manhã.  

Alemanha junta-se ao coro de críticas contra a austeridade das troikas

Responsáveis alemães demarcam-se da austeridade imposta aos países periféricos. Críticas são particularmente duras contra a Comissão Europeia e o seu presidente, Durão Barroso.



Já não é só em Portugal, Grécia ou Irlanda que as receitas de austeridade impostas pelas troikas de credores internacionais estão a ser criticadas: na Alemanha, as equipas da Comissão Europeia, Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) também são acusadas de impor receitas erradas aos países sob programa de ajuda externa.
Mais de três anos passados desde o início da crise da dívida europeia, os responsáveis alemães já estão mais do que habituados, e mesmo resignados, a serem apontados como os responsáveis pelas dificuldades vividas pelos países periféricos. Esta resignação não os impede, no entanto, de se demarcarem muito claramente do mantra da austeridade a todo o vapor que tem imperado na Europa desde 2010.
O termo "austeridade" tem em alemão uma conotação particularmente negativa de sofrimento extremo, o que os responsáveis em Berlim garantem que está longe de ser o que defendem.
Dentro da troika, a irritação de Berlim dirige-se sobretudo contra a Comissão Europeia, incluindo o seu presidente, Durão Barroso, o que não deixa de ser paradoxal quando muitas das exigências de austeridade aplicadas aos países sob programa de ajuda são implicitamente apresentadas em Bruxelas como resultantes de exigências alemãs.


7 comentários:

Paulo disse...

Se encontrares a Isabel Arriaga e Cunha a passear sob as tílias pergunta-lhe quem são os tais responsáveis alemães, quem é Berlim, enfim, pede-lhe que se explique melhor, está bem?
Agradecido.

Helena Araújo disse...

...e onde é que foi beber as cervejinhas, já agora. ;-)

No domingo passado o Spiegel falava de um dossier da Chancelaria onde se diz que a Itália, a Espanha e a França não estão a desenvolver os esforços que são necessários.
http://www.spiegel.de/politik/deutschland/bundesregierung-mahnt-eurolaender-zu-reformen-an-a-899349.html

Paulo disse...

Pois. Não encontrei nada que condiga com o que se lê no Público.

Rita Maria disse...

Hoje um professor meu também falava desse artigo como um caso daqueles artigos típicos em que o título quer mais do que o artigo alcança, mas ainda não fui ver a versão integral (tenho o PDF, mas ainda não tive tempo).

(tu viste? Queres ver?)(e o de outro dia que dizia que o Lafontaine, ex-ministro de Schröder, era um senhor muito influente e quase se esquecia de dizer que é do Linkspartei?)

Helena Araújo disse...

Eu também não vi a versão integral. Sim, queria ver, por favor.

Isto é mais do que o título querer mais do que o artigo alcança. Isto é querer mais do que a inteligência alcança. Um autêntico caso de "quando a esmola é grande..."

E essa do Lafontaine também teve graça. Calculo que também se tenham esquecido de dizer que foi criticado por todos, a começar pelos do seu partido - nem os Linke parecem querer desistir do Euro. Por acaso ando há que tempos para escrever um novo post com essa adendazinha.

Rita Maria disse...

Seguiu!

(o Lafontaine é das piores coisas do Linkspartei edas suas figuras mais polémicas. Esse artigo devia ser da mesma pessoa, que vê o que quer muito ver...)

Textículos disse...

A menos que haja ex-chanceleres comentadores :)

"Could the Continent's pursuit of austerity be backfiring? German commentators believe the answer is yes."
http://www.spiegel.de/international/europe/german-press-says-extended-eu-recession-shows-austerity-ineffective-a-900252.html