06 maio 2013

perdão?


Neste filme, o que mais me impressionou não foi o modo como uma comunidade transforma um acusado em acossado. Os riscos de uma acusação deste tipo não são novidade para ninguém, nem o é o potencial de destruição que podem ter educadores de infância (por exemplo) predispostos a imaginar o pior. Não esqueço uma reportagem, que li há anos, sobre famílias destruídas devido a meia dúzia de palavras que a criança largou no infantário. Depois do pai preso, do divórcio, dos meses sem poder ver os filhos, e de se chegar afinal à conclusão que a acusação não tinha razão de ser, um triste dano colateral: a criança passa a questionar todos os gestos de ternura do pai - "tu não podes fazer isso!"
A inocência infantil destruída pelo próprio esforço de a tentar proteger.
(E contudo: fazer o quê? Como ignorar o que pode ser um pedido de ajuda velado, quando sabemos que as crianças raramente ousam mais que o silêncio quando são alvo de abuso sexual?)

Em todo o caso: não foi isso que mais me impressionou, embora esteja muito bem construído. O que mais me impressionou, melhor dizendo: incomodou, foi a capacidade de perdão que existe neste filme.

Não digo mais, para não revelar o que não devo. Apenas isto: como é possível perdoar actos tão graves? Como é possível recuperar a confiança em alguém que se comportou daquele modo?

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