14 fevereiro 2013

Berlinale 2013 - Pardé



(neste vídeo é possível escolher entre alemão e francês)

Pardé ("Cortina Fechada"), o filme proibido, era provavelmente o mais esperado nesta Berlinale. Jafar Panahi está impedido de trabalhar durante vinte anos, mas resiste - e a comunidade do cinema não o esquece. Pelo contrário: dá-lhe um lugar de honra. O momento do filme em que ele entrou em cena foi comovente: a sala inteira aplaudiu arrebatada, em sincera homenagem. Kamboziya Partovi, o co-autor do filme, diria depois no palco que Panahi estava em espírito entre nós. Acrescentando, com um sorriso e  os olhos húmidos: "gostaríamos que em breve o seu corpo se viesse unir ao espírito".
A actriz Maryam Moghadam vinha muito elegante, e lindíssima. Mostrava que, mesmo no mundo do cinema, uma mulher não precisa de exibir o corpo para impressionar. Tal como os filmes feitos naquela região, aliás: levam-nos onde querem, por vezes com uma intensidade avassaladora, sem precisarem de recorrer a imagens explícitas.

Pardé começa como um filme normal: um homem que esconde o seu cão do sistema que o quer matar, uma casa que é simultaneamente refúgio e prisão. Mas em breve tudo se complica, os perigos no exterior atingem e desmembram a narrativa no interior, por trás das cortinas fechadas. Deixamos de entender quem é actor e quem é realizador, quem manda na história do filme e na de si próprio. Às vezes a porta abre-se para deixar entrar um pouco de humanidade, na pessoa de vizinhos que ajudam e confortam. Mas o baixo contínuo de todo o filme permanece: opressão e medo.
Um filme complexo, como um lamento de dor e espanto, imperdível.
Inquietante, também: será uma despedida? Será que Jafar Panahi nos está a tentar dizer que não aguenta mais?

Nesta reportagem da ZDF (em arquivo até 12.03.2013) a partir de 1'39 podem-se ver algumas passagens do filme.
P.S. para os muito amigos que me procuram nas imagens da Berlinale: só por vossa causa, arranjei de me meter em frente à câmara nos últimos segundos da reportagem. (hehehe, não é qualquer um que consegue ser o emplastro do Jafar Panahi.)



3 comentários:

Paulo disse...

Vês? Tu é que falas das coisas que interessam na Berlinale.

(Gostei de ver o emplastro. Já tinha saudades.)

Helena Araújo disse...

:)

Vê lá tu se te pões por trás da Merkel na próxima visita que ela fizer, que eu cá também tenho saudades!

Helena Araújo disse...

Li não sei em que jornal português que este filme levou vaias. Só se tiver sido quando o mostraram à imprensa. Na première com o público, era só ondas positivas e de muito carinho para o Panahi.