16 fevereiro 2013

Berlinale 2013 - Inch'Allah



Inch'Allah - mais um daqueles filmes, sobre a vida na Palestina e em Israel, que não nos largam. Como Paradise Now, ou o Rock the Casbah (apresentado nesta Berlinale 2013): a estupidez da guerra, os contextos que transformam pessoas em monstros.
Conta-se a história de uma médica canadiana que vive entre israelitas e trabalha entre palestinianos, e todos os dias atravessa o muro, ao encontro de uma crescente solidão que acabará por obrigá-la a tomar posição por um dos lados.
No fim do filme, a realizadora e duas actrizes ficaram a conversar com o público. A actriz principal fala dos seus olhos como o elemento central do filme, e tem razão. Pelos olhos dela vamos avançando pelo beco sem saída dos dois povos, sentimos vontade de fugir - tal como ela, quando pede à mãe, pelo skype, que lhe mostre o rio da sua terra, no Canadá.
Contaram que o muro do filme foi construído na Jordânia, junto a um campo de refugiados, e depois levado para outro lado, para fazerem as cenas do lado israelita. Falaram do casting dos rapazinhos palestinianos: como se escolhe entre 400 miúdos? Simples: faz-se um concurso de cuspir...
Uma das cenas mais fortes do filme começa justamente com um diálogo de cuspidelas, que me fez pensar num confronto que tive há tempos em Portugal com ciganitas: elas foram malcriadas comigo, eu optei por continuar a tratá-las com delicadeza, mas elas foram aumentando a violência verbal. No filme, um rapazito cospe para o chão à frente da médica, em sinal de desprezo - e mais não conto. Mas é uma cena memorável. Inesquecível também a figura do rapazinho vestido de super-homem, o som da sua pedra a bater no muro.


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