18 janeiro 2013

pensava eu que estas coisas só aconteciam nesse país ultra fundamentalista que é a Irlanda...

Em Colónia, uma mulher foi drogada numa festa e acordou 14 horas mais tarde sem se lembrar de nada. Para fazer a recolha de provas da violação, foi a um hospital de uma instituição católica . Não foi atendida, nem nesse hospital, nem no segundo ao qual se dirigiu (também católico), porque os médicos pensaram que, se ficasse provada a violação, ela iria querer a pílula do dia seguinte, o que os tornaria em parte responsáveis por um aborto - e temiam perder o emprego.

Claro que os responsáveis do hospital estão chocados e já pediram imensa desculpa. Parece que esta vergonha foi o resultado de uma série de mal-entendidos, alimentados por uma ameaça implícita de despedimento (não seria a primeira vez que acontecia a um médico, num caso semelhante). O que torna o incidente ainda mais grave, porque revela que os empregados de instituições da Igreja Católica têm medo de perder o emprego se prestarem auxílio segundo a sua consciência e normas elementares de humanidade, no caso de estas se oporem a regulamentos ambíguos que traduzem o fundamentalismo moral da Igreja.

E eu que pensava que Cristo tinha vindo cá para nos libertar. Vou ter de reler aquela parte do "dou-vos um mandamento novo" - suspeito que haja por lá umas entrelinhas nas quais ainda não reparei.
(Provavelmente a culpa é do tradutor, como de costume: se não for do Martinho Lutero, há-de ser do São Jerónimo.)

PS. A propósito deste caso, ler também a Helena Ferro de Gouveia.

3 comentários:

anouc disse...

A igreja, enquanto instituição, precisa urgentemente de se humanizar. Mas urgentemente MESMO.

Leonor disse...

O problema não é a Irlanda, o problema é a Igreja Católica, Helena.

Helena Araújo disse...

Leonor, a Igreja Católica tem muitas faces diferentes. Há muitos lugares de miséria de onde todos fogem, excepto alguns católicos.
A Igreja Católica não é só o Vaticano, o Papa e toda a Hierarquia. Isso pensam eles. Os católicos, todos os católicos, dão com o exemplo da sua vida um testemunho pessoal, e é com estes testemunhos que se desenha a face da Igreja.
Neste caso concreto, foi fácil: o protesto de toda a sociedade, a começar pelo dos católicos, foi tão grande que o hospital católico se viu confrontado com a sua própria mesquinhez e está agora a tratar de "refundar-se".

Falei da Irlanda devido à tragédia recente daquela mulher que nem católica era, mas morreu envenenada pelo feto que não pôde abortar, porque o aborto é proibido nesse país.