22 janeiro 2013

o Henrique Raposo não é hiperactivo nem mal-educado, tem é falta de óculos para ler um bocadinho antes de começar a falar



A propósito deste texto no Expresso, que hoje foi muito aplaudido nas redes sociais, não resisto a fazer alguns comentários rápidos. Parece-me que o Henrique Raposo está a confundir coisas muito diferentes, a ser demagógico, e a enviar-nos em direcções erradas. A começar pelo título, "as crianças não são hiperactivas, são mal-educadas": ouro sobre azul para pessoas que gostam de teorias simplórias.
Vejamos, por partes:

- Quando a criança sofre realmente de hiperactividade, aquela frase é uma ofensa e uma agressão. Um dos erros frequentes é não perceber a tragédia de uma criança hiperactiva, obrigá-la a comportamentos que ela não consegue ter, dar-lhe permanentemente a sensação de ser chata, insuportável e burra.

- No que diz respeito a crianças que não são hiperactivas, e que se "portam mal": quando eu era criança, corria em liberdade vários quilómetros por dia. Ia a pé para a escola, e passava as tardes em aventuras pela rua e pelos campos com os irmãos, os primos e os vizinhos. Os nossos filhos não têm isso. Na nossa sociedade do medo e da falta de tempo, são levados de carro à escola e movem-se entre o computador e a televisão (estou a exagerar, mas não muito). Como é que crianças que crescem assim podem ser calmas? Claro que o café onde o Henrique Raposo quer ler o jornal não é o sítio certo para as crianças que precisam de movimento. Contudo, a solução para este problema não é dar-lhes um par de chapadas para as educar, é tirá-las do café e largá-las horas e horas a correr ao ar livre, a construir casas em árvores, etc. O problema é que os pais não têm tempo e pachorra para oferecer isso aos seus filhos, neste nosso mundo "perigosíssimo" no qual não se pode nunca largar as crianças de vista.
O nosso estilo de vida é uma violência para as crianças. Elas acabam por desenvolver comportamentos que nos desagradam, e alguns pais correm o risco de confundir isso com hiperactividade (o Henrique Raposo confunde com má-educação). Adultos confusos acalmam as crianças com gotas ou com chapadas, em vez de mudar a sua vida para lhes dar aquilo de que precisam para um crescimento saudável. E é melhor nem falar na escola (é mais fácil dar gotas aos miúdos para que consigam acompanhar o ritmo dos outros, do que ter turmas mais pequenas para que cada criança possa aprender ao seu próprio ritmo). Nos dois casos (família e escola), muitas vezes não estamos perante uma criança mal-educada ou incapaz, mas perante uma criança vítima de um sistema que ignora as necessidades dela.

- Educação moral não se faz à bofetada. Se queremos que uma criança aprenda o respeito pelos outros, temos de começar pelo respeito por ela. Bater numa criança que está a fazer mal a um ser mais frágil (uma pomba, por exemplo) não é educá-la, é amestrá-la. Mas claro que é muito mais fácil dar uma bofetada e continuar a ler o jornal, do que falar com ela calmamente para fazer nascer no seu coração a empatia pelos outros seres.

29 comentários:

Ana V. disse...

Fantasticamente de acordo!

Goldfish disse...

Comentando apenas o teu texto, que o outro não li: sim, é verdade. Há crianças hiperactivas, que não conseguem controlar os seus impulsos e é insultuoso pensar que são "apenas" mal-educadas; sim, a grande maioria dos miúdos não tem onde nem como gastar energias (sem falar no correr e andar na rua, basta lembrar-me dos minúsculos recreios de tantos colégios privados que conheço; conheço um que, em vez de triciclos, tem carrinhos eléctricos para as crianças da infantil); mas também há muita falta de educação, por falta de tempo para educar mas também por falta de vontade - até porque o que é ser educado não é consensual nos dias que correm.

Filifólia disse...

É isso. Ponto!

Rosário disse...

costumo dizer: a hiperactividade está para as crianças como a depressão está para os adultos. parece ser chapa 4.
se a criança é desassossegada (tantos ss!) é porque é hiperactiva, se o adulto está frustrado está deprimido.
agora vou ler o texto do senhor

Helena Araújo disse...

Goldfish, e que dizer dos infantários que têm televisão? A primeira vez que vi, nem queria acreditar.

Rosário, é verdade, sim. Em Portugal, metade das crianças tem hiperactividae e a outra metade síndroma de Asperger...
Mas há uma diferença enorme: a um adulto frustrado ninguém diz "isso passa-te com um par de bofetadas".

A. disse...

Bem, para começar, devo dizer que o Henrique Raposo tem das crónicas mais parvas de sempre, repetidamente.

Fora isso, hiperactividade, juntamente com ADHD (attencion defficiency hyperactivity disorder) é diagnosticável medicamente, e o sindroma nao é exclusivo a crianças.

Eu tenho um colega génio hiperactivo - embora ele diga que nao tem ADHD porque se consegue concentrar, até demasiado, ao ponto de nao ouvir pessoas a chamar o seu nome aos gritos - que teve problemas na escola por causa da hiperactividade - e convenhamos ADHD embora ele nao admita.
Aliás, conta que ficava completamente "high on sweets", e que não podia comer smarties.
No dia a dia continua a demonstrar os sintomas, parecendo que está "high" sempre que está a trabalhar afincadamente. Quando ele está nesse transe, nem vale a pena tentar ter uma conversa com ele que ele está a mil.

Crianças mal educadas, sempre as houve, não é de hoje. Mas hiperactividade é outra coisa diferente.

A. disse...

Ah, e já agora: hoje em dia uma palmada é muito mal vista, e obviamente nao se educa uma criança à bofetada, mas há casos e casos, e no fundamentelismo de hoje em dia, por vezes põe-se tudo no mesmo saco, e há casos em que amestrar é de vital importância.

E dou um exemplo comigo, que nao me traumatizou para a vida: eu comecei a gatinhar e depois a andar muito cedo, e tinha a mania de querer enfiar os dedos nas tomadas electricas. E se os meus pais tinham todas as tomadas protegidas, na casa de outras pessoas era um problema e um perigo. E como tal, os meus pais davam-me uma palmada na mao sempre que me apanhavam prestes a enfiar os dedos nas tomadas. Uma vez em casa de uns amigos, depois de estar quase a enfiar os dedos numa tomada, o meu pai deu-me uma palmada nas maos, e os amigos ficaram horrorizados, que ele me estava a bater! Só que, como o meu pai explicou, aos dois anos não dava para me sentar calmamente e explicar que eu não devia fazer isso porque podia morrer electrocutada. Pelo que tinham de o prevenir. E como também comecei a falar muito cedo, a minha mae contava que eu apontava para as tomadas e dizia: "não não, tautau". Se calhar devo a vida a isso.

Helena Araújo disse...

Sem dúvida, Luna.
O que ele estava a dizer é que os pais dão a desculpa da hiperactividade para não educar as crianças. Mas como é que ele sabe se são hiperactivas ou não, apenas porque não o deixam tomar o seu café sossegado?

Nós estamos todos a dizer que não é tão simples. E eu acrescento ainda - este ponto, de facto, é-me muito importante - que não convém usar na educação das crianças os princípios pedagógicos do cão Zico...

Helena Araújo disse...

O "sem dúvida, Luna" era para o primeiro comentário.
Quanto ao segundo comentário, tenho muitas dúvidas.
Também dei algumas palmadas aos meus filhos - e não me orgulho de nenhuma delas. Sinto que foram momentos em que a força ganhou à inteligência.
Sem querer agora comparar-me com os teus pais, ou criticá-los, nunca precisei de bater nos meus filhos para os condicionar para evitar um perigo, mas estava especialmente atenta quando havia algo perigoso por perto.

A. disse...

Helena,

a minha mae deu-me uma estalada uma única vez (por eu ter sido incrivelmente mal educada e o merecer totalmente), e ficou doente. (literalmente, aquilo mexeu muito mais com ela que comigo, ficou de rastos)

Os meus pais nao eram de bater, mas eu nao considero uma palmadinha na mao bater (nao era uma palmatória, de que ambos os meus pais tinham horror por terem experenciado na escola, era uma palmadinha a dizer "ai nao se toca").

E de facto, aos 2 anos, nao dá para ter uma conversa a explicar que nao se deve meter os dedos das tomadas, e a palmadinha inofensiva na mão servia exactamente o propósito: que eu nao me matasse a enfiar dedos nas fichas.

A. disse...

E já agora, Helena, eu distingo bater - isto é, causar dor a sério - e dar uma palmadinha, da mesma forma que somos capazes de dar a alguém a roubar um biscoito antes de festa. Os meus pais nunca me bateram, no sentido da palavra, enxotaram a minha mao da tomada electrica seria mais correcto.

Helena Araújo disse...

Luna, o melhor é tirarmos os teus pais desta história. Também não quero trazer para aqui os meus.

Ficando apenas pelo nível dos princípios: penso que uma palmada, nem que seja para "enxotar o pó", é uma manifestação de força e uma humilhação que não humaniza quem apanha.
Há outras maneiras. Há aí uma comentadora que enchia o filho de cócegas quando este entrava numa dinâmica de se portar mal, e resolviam o problema às gargalhadas. Ou ia correr com ele uma volta ao quarteirão.
Um irmão meu, para impedir que o filho de dois anos se queimasse no forno quente, fez uma voz velhaca e disse "dá cá a tua mãozinha, vamos-ta queimar aqui, hohohoho" - o miúdo percebeu logo que devia ficar bem longe do forno quente.
Talvez sejam más soluções (admito perfeitamente que apareça gente a dizer que é mau por este ou por aquele motivo) mas mostram que é possível agir de outro modo.

A. disse...

Helena, o problema a resolver é maior: qual a melhor soluçao? Qual a soluçao pedagógica que resulta?

Como disse, a partir do momento que consegui entender conversas, os meus pais falaram comigo e ensinaram-me, e foram muito bem sucedidos (desde o "roubar", isto é, trazer brinquedos para casa de outros meninos no infantário (sermão e levar o brinquedo no dia seguinte e devolver) e coisas do género em que acho que foram geniais - tal como os pais da minha colega denise que "encontrava" sempre o que eu tinha perdido no dia anterior na primária, como é que se condicionam coisas aos dois anos? a conversa nao dá, ainda nao há entendimento para compreender a conversa, como impedir que uma criança meta sistematicamente os dedos em tomadas? Honestamente, ou se amarra, ou nao sei outra alternativa um safanao, porque naquela idade ainda nao dá para simplesmente ter uma conversa.

A. disse...

e já agora, prefiro que me dêem uma palmada do que me façam cócegas (para mim é uma tortura muito maior, mais longa, e horrível. o meu corpo reage muito mais rigorosamente à ameaça de cócegas que de uma qualquer palmada corporal, e entre alguem dar-me uma palmada nas maos ou rabo, ou cósegas, mil vezes palmada)

A. disse...

e já agora, eu nao me lembro minimamente do que estou a contar, conto apenas porque me contaram.

Rosário disse...

eu se calhar não me expliquei bem, mas também não compreendi a tua resposta. achas que todas as crianças diagnosticadas com hiperactividade são de facto hiperactivas ou portadoras de outra disfunção? é que eu tenho sérias dúvidas. acho que se exagera desse diagnóstico. acho que tanto os médicos como muitos pais se encostam um pouco a esse argumento para resolver a questão.
falo por aquilo que vejo nos filhos de amigos e conhecidos. às vezes ouço pais queixarem-se de que os filhos não aguentam sossegados à mesa dos restaurantes. mas deveriam estar? uma criança pode estar 2 ou 3 horas num restaurante a ouvir as conversas dos pais e amigos?
tenho 3 irmãos mais velhos, todos rapazes e todos com diferença de 11 e 12 meses. a minha mãe conta histórias incriveis dos 3, se fosse hoje não sei como teriam sido.
não gostei de ler o artigo que referenciaste, achei-o demasiado leve e irresponsável. não gosto que se desvalorize assim o problema, mas também não gosto que se mediquem tanto as crianças. não é possível que essa seja a primeira solução encontrada.

sem-se-ver disse...

a minha Mãe tinha a mão muito leve, e não fiquei minimamente traumatizada. muita pachorra tinha ela, mesmo assim. chateava-me mais quando era injusta, o que acontecia amiúde.

já o meu Pai deve ter-me batido umas 3 vezes - uma palmada no rabo que nem vos conto, e duas estaladas bem dadas -, e nem tugi nem mugi, porque eram justissimas.

as crianças sabem perfeitamente quando fizeram asneira. perfeitissimamente. e encaixam, porque o castigo é justo. e não ficam nada muito traumatizadinhas. desculpem lá que vos diga. desde que nao sejam brutalizadas, claro, e desde que não seja a regra da casa e por dá lá aquela palha.

(atençao, estes episodios já criança mais crescida; em bébé imagino que terão sido, quando muito, situaçoes como as que a Luna relata)

o hr é um imbecil, mas nisto tem alguma razao. o nível de falta de educaçao dos pais e, por isso, das criancinhas, é assustador. e o resto é conversa, gravissima, aliás, porque se andam a encharcar as crianças de comprimidos, o que devia levar à prisão todos os médicos que os prescrevem e todos os pais que os deixam prescrever.

Helena Araújo disse...

Rosário,
quando falei da hiperactividade e do Asperger que grassam em Portugal estava a ser cínica. Também tenho sérias dúvidas sobre essa "epidemia" - como dizia no post, penso que muitos desses comportamentos a que o H.R. chama "má-educação" são o resultado de um tipo de vida completamente desadequado que hoje se impõe às crianças.
Entendo e concordo inteiramente com o teu comentário. Gostava de saber que é que os teus irmãos faziam... (contas dos teus? eu conto dos meus - que miúdos de 6 e 10 anos hoje em dia se lembrariam de fazer uma "procissão das almas" pelas ruas da aldeia para assustar as mulheres? isso é má-educação? é pararir, ou para lhes dar uma tareia?)
Mas acrescento um exemplo que me deixou com um sentimento de impotência perante as dificuldades da vida real: a filha de amigos meus tem esse síndroma (na versão "sonhadora"). Tinha problemas graves na escola - para acompanhar a matéria, e para se integrar no grupo (as outras miúdas cansavam-se de esperar até que ela ficasse pronta para ir brincar). Passou uma semana na escola dos meus filhos, e no fim a professora disse aos pais que ela seria capaz de dar conta do recado se fosse bem acompanhada pelos professores e pelos pais (sobretudo com palavras positivas em vez dos habituais "despacha-te!") e pelos colegas (na escola dos meus filhos dava-se um grande valor à competência social dos miúdos). Mas essa escola ficava a 400 km do sítio onde ela morava... De modo que a puseram a Ritalina, para ela se poder aguentar no sistema escolar da cidadezinha onde vivem. Ou isso, ou a mãe deixar de trabalhar para lhe dar o acompanhamento necessário, ou mudarem de cidade e emprego, para virem viver para perto da nossa escola.

gralha disse...

Na mouche, Helena.

Helena Araújo disse...

Luna,
é isso mesmo: perante um problema, perguntamo-nos qual é a solução que resulta melhor.

Tu achas que "sacudir o pó", dar uma palmadinha leve para condicionar a criança perante situações de risco é aceitável. Eu prefiro procurar outras soluções. Se a criança gosta de cócegas, pode passar por cócegas. Se não gosta - podes ficar descansada - não vai passar nunca por cócegas.

Não me ocorreria dar uma palmadinha em bebés sempre que estendessem o dedo para a tomada ou a mão para um cão perigoso, ou sempre que corressem para a piscina ou para uma rua com carros. Se bem me lembro (a memória é um lugar traiçoeiro), penso que tentei sobretudo prever os perigos possíveis, e estar presente. Não os perder de vista quando havia tomadas desprotegidas ou piscina/lagos por perto, dar-lhes a mão quando estávamos num sítio com carros, não os deixar sozinhos com cães. Dizer "não!" com firmeza, e conduzir a atenção deles para outro lado.
Estar presente - com uma disponibilidade e uma atenção que surpreendiam algumas das minhas amigas portuguesas. Ou até alemãs: ficou célebre um salto de dois metros que dei, do sítio onde estava a tomar café com amigos até ao terraço onde o Matthias de ano e meio estava a começar a sua queda livre (de dois degraus). Apanhei-o, pousei-o no chão, voltei para o café. Nem sequer lhe disse nada - porque de facto é ao adulto que compete impedir que uma criança de 18 meses corra determinados riscos.

Finalmente: essa história de bater pode ter efeitos perversos. Tenho a certeza que não foi o teu caso, mas há miúdos que vêem as palmadas como sinal de afecto, e podem insistir em determinados comportamentos só para levar a almejada palmada. Nunca ouviste a frase "estás a pedir para apanhar!"?

Helena Araújo disse...

sem-se-ver,

vamos lá por partes:

1. A criança que é realmente hiperactiva precisa de ser tratada. E a nossa sociedade tem de aprender mais sobre esse problema, para não pressionar a criança para tentar ser o que não é. Dizer "as crianças não são hiperactivas, são mal-educadas" é uma generalização ignorante e uma injustiça. Claro que é o tipo de título que vende mais, mas continua a ser uma generalização e uma injustiça.

2. A criança a quem o médico diagnosticou erradamente hiperactividade e está a tomar psico-fármacos está a ser vítima de um crime. Mas essa, provavelmente, não incomoda o Henrique Raposo no café, porque já está "amansada".

3. A criança que nem sequer é levada ao médico, e cujo comportamento é desculpado pelos pais dizendo que é hiperactividade, é também uma vítima - no caso, da preguiça dos pais (a preguiça de a educarem e de lhe darem aquilo de que ela precisa - e que não é com certeza passarem uma hora sossegadas num café, ou levarem uma bofetada para ficarem sossegadas no café). O Henrique Raposo fala da preguiça dos pais, mas depois resolve o problema na base da bofetada, e chama-lhe "educação moral". É aqui que os nossos caminhos se separam.

4. Quanto às palmadas: penso que são sempre uma humilhação (e a educação de uma criança nunca devia passar pela humilhação) e, como já disse acima, representa uma vitória da força sobre a inteligência. Às vezes acontece - paciência. Mas não é por acontecer, e por nos ter acontecido em criança, que vamos aceitar que é esse o método desejável. Eu não aceito.
Dizes que encaixaste - pois claro: as crianças partem do princípio que o que os adultos fazem é correcto. Mas uma criança que acha que apanhar é natural e correcto é uma criança que acha natural e correcto bater nos mais fracos (nas outras crianças, e nas pombas do Henrique Raposo).
Também dizes que sabias perfeitamente que tinhas feito uma asneira: então para que era preciso bater, se tu já sabias?

Não me orgulho das palmadas que dei aos meus filhos. Orgulho-me (muito!) da calma com que disse à Christina de 2 anos: "pintaste o sofá? então agora toma este pano e limpa até desaparecer tudo" ou à de 3 anos: "estou furiosa! deitaste a água do copo ao chão e agora eu tenho de limpar, e queria era sentar-me a jantar porque estou cheia de fome!"

Conde de Oeiras e Mq de Pombal disse...



1 - Detesto ter de bater nos meus filhos e faço-o com a máxima moderação possível. E a máxima pedagogia e justiça. Mas fico sempre a recriminar-me de que não fiz tudo para evitar a palmada.

2 - Acho que ver televisão é um horror e evito-a em casa o mais possível. Bem "basta" a que vêem no Infantário... Mas ver televisão também tem um contexto. Ver televisão de controle na mão e sózinhos é uma coisa, ver acompanhados dos pais e sem o controlo é outra. Tudo tem de ser contextualizado (desculpem se me repito, não li tudo...).

3 - Perder tempo a ler o Raposo ou a comentá-lo é sempre uma perda de tempo. Nem sequer existe aqui redundância: é um pequeno troglodita rasteiro e descartável, merece absolutamente que não o leiamos. NUNCA.


Helena Araújo disse...

1. Pois. Também sentia a "palmada" como um falhanço meu. Mas parece-me que isto é uma questão cultural. Há muita gente que entende que é assim que se educam as crianças.

2. Ver tv em conjunto até pode ser um programa giro (tinhas de me ver sentada ao lado dos miúdos a falar sobre o que víamos, hehehe) (coitados deles!...)
Mas já nos aconteceu de eles preferirem fazer um jogo connosco, ou ir fazer uma corrida connosco, em vez de ver tv.

3. Eu costumo evitar, mas desta vez a internet foi atravessada poruma onda de "vejam como ele tem razão". E portantomente...

Conde de Oeiras e Mq de Pombal disse...



2 - Nós temos a sorte de eles gostarem de ver também muito do pouco que nós vemos no pequeno écran, desde comédias portuguesas dos anos 40, ao Woody Allen, passando por bons Documentários sobre animais, ou sobre ciganos no Sul de França, ou sobre jovens alemães errantes, em roullotes, pelo Sudoeste alentejano... Assim utilizada e disfrutada em conjunto, a tv até pode ser altamente estimulante e pedagógica...

patricia disse...

Cara Helena
Este texto...fez-me chorar. Pelas verdades lúcidas ditas.
Eu tenho 3 filhos e um deles sofre de PHDA. E por isso me revejo nas suas palavras.
E como mãe...eu sei que tenho um Tom Sawyer e que por isso ele teria possibilidade de ser uma criança muito mas feliz se tivesse nascido à 50 anos atrás.
E o mais difícil é sem duvida a ESCOLA. As nossas escolas publicas no meio de betão, com horários de 30 horas semanais de atividades monótonas e paradas dentro de uma sala de aulas, com recreios apinhados, agravam em muito os comportamentos indesejados.
E as escolas não se podem classificar apenas em função dos resultados dos exames nacionais. Uma escola tem que ser muito mais do que isso.
Eu agora encontrei uma escola (IPSS) no meio do campo, com 15 criancas por turmas, com galinhas, porcos, cabras e cavalos. E isso faz TODA a diferença. É uma escola que não vem nos rankings das mehores...que fica abaixo de muitas escolas publicas, mas uma escola é muito mais do que ensinar Português e Matemática.

Helena Araújo disse...

Patricia,
fico feliz por a ter feito sentir-se compreendida.
Não sei se uma criança com PHDA teria sido feliz há 50 anos. Nessa altura eram os irrequietos, os que tinham bichos-carpinteiros, e na escola fartavam-se de apanhar reguadas dos professores.
Mas é claro que, se o nosso estilo de vida já é violento para uma criança normal, para uma com PHDA torna-se insuportável (também pelo excesso de "inputs" sensoriais - a tv, a rádio, as buzinas, o computador ligado, etc. - como é que uma pessoa com dificuldade de filtrar consegue aguentar-se no meio de tanta confusão?).

E a escola, claro. Estou farta de falar da filha de uns amigos meus, que não teria tido necessidade de tomar ritalina se andasse na escola certa (que experimentou durante uma semana, mas que ficava, infelizmente, a 400 km de casa).
Tenho visto a reacção de alguns professores a este texto do H.R., e penso, com pena, nas crianças que têm realmente hiperactividade. Só o título já é um duro golpe nos esforços que os pais fazem para tentarem que a escola dê um tratamento adequado às necessidades dessas crianças.

Que interessam os rankings? No intuito de dar o melhor à criança (a melhor escola, as melhores oportunidades) corremos o risco de lhe dar uma infância miserável, que a deixará muito marcada.

sc disse...

Realmente este Raposo é mesmo ignorante!!!
Eu tenho um filho hiperactivo (diagnosticado) e sei bem o que é bater e pôr de castigo quase sem resultados...

Alice Santos disse...

Só agora cheguei a este texto e respetivos comentários, e, curiosamente, porque li uma crónica desse tal senhor Raposo, em que é disparate a seguir a disparate.
Foi ao tentar saber quem é, que vi que também escreveu sobre hiperatividade...
Parece que o senhor escreve sobre tudo. É pena que ao escrever sobre tudo não saiba de coisa nenhuma.
Afinal quem me sabe dizer quem é o senhor Henrique Cardoso?

Alice Santos

Helena Araújo disse...

Não sei dizer quem é, Alice Santos. Sei que muita gente se irrita com o que ele escreve, mas no caso desta crónica foi muito aplaudido. Triste sinal dos tempos, que não há maneira de andarem para a frente...