16 dezembro 2012

não há amor como o primeiro!

Tenho andado por aí a dar com a cabeça nas paredes, ele é a Konzerthaus, ele é a Semperoper, ele será num futuro próximo o Radialsystem
(as más companhias, as más companhias, já avisava a minha avó - tenho uma amiga que não desiste enquanto não me levar ao Radialsystem, e eu estou a ponto de me deixar convencer, então desde que vi que eles têm um programa de "night music" em que as pessoas ouvem a música estendidas em colchões de yoga, ai, agarrem-me que...)
mas ontem fui à Late Night na Filarmónica de Berlim, e saí de lá a sorrir. Muito depois do bengaleiro, muito depois de ter entrado no carro - ainda a sorrir. O Simon Rattle, ah, o Simon Rattle! Não há amor como o primeiro.

O programa começou com Paul Hindemith, Kammermusik nr. 1, op.24,  nr. 1 (gostei especialmente da terceira parte, ao minuto 4:30, "muito lento e com expressão"):



O Final:



Seguiu-se "Being beauteous", cantata com poema de Rimbaud, de Hans Werner Henze. Simon Rattle falou do compositor, "um amigo de há quarenta anos", que morreu recentemente. Disse "esta belíssima peça é também um In Memoriam", e a voz embargou-se-lhe.



O problema é que nunca gostei de Henze. Não será o meu primeiro desamor, mas nisso de desamores sou igualmente fiel a todos. A soprano bem se esforçava, o Simon Rattle bem se esforçava, os músicos davam tudo por tudo, mas eu...
A minha amiga gostou muito, por isso fiz-lhe um jeitinho e aplaudi com força.

Seguiu-se uma pausa forçada - Simon Rattle veio ao palco pedir desculpa, sorrindo: "costume change..."
Finalmente voltaram ao palco. A soprano toda vestida de novo. Será que havia necessidade?
Pouco depois percebemos que sim - a última peça, de William Walton, não tinha nada a ver com as anteriores. E foi interpretada com um enorme sentido de humor. Soprano e maestro trocavam de papéis: dirigiam e declamavam alternadamente (excepto daquela vez em que o Simon Rattle veio meter o bedelho na direcção da soprano, e mandou calar os músicos mal a maestrina os tinha mandado começar). E o Rattle a esganiçar a voz na parte em que fazia de rainha Vitória? E a soprano, a Barbara Hannigan, no fim da peça, que só se lembrou que também era maestrina quando o Simon Rattle já ia a meio de cumprimentar os músicos, e foi com grande espalhafato de atrapalhação fingida cumprimentá-los também?
Depois admiram-se que a gente saia daquela sala com um sorriso compulsivo.