Há pouco mais de duas semanas fomos à Baviera, à festa de uma amiga que fazia 50 anos. Chegámos na véspera do aniversário, quinze minutos antes da meia-noite. Mesmo a tempo de ver os vizinhos invadir a casa, com garrafa de champanhe e copos, e um muffin amoroso com uma vela em cima.
O marido e os filhos trouxeram então o presente que seria uma enorme surpresa: um ramo de flores, com letras que a aniversariante foi pousando em cima da mesa, para formar uma frase. Uma parte da frase foi fácil, "em vez de Berlim", mas com as restantes letras era-lhe impossível formar uma palavra. Depois de muito tentar, comentou: "a única coisa que me ocorre é Nova Iorque, mas isso não pode ser". No meio de muita galhofa os vizinhos terminaram a frase, "Nova Iorque em vez de Berlim", e mesmo assim levou-lhe algum tempo até perceber que o seu presente era uma semana em Nova Iorque com toda a família. Na semana das férias de Outono, que estava previsto passarem em Berlim.
Passámos o resto do serão em grande risota a propósito dos filhos e do marido a trabalhar clandestinamente durante seis meses para preparar a surpresa. De a terem praticamente obrigado a festejar esse aniversário em vez de desaparecer para Londres, como queria. De terem ido fazer os passaportes para os miúdos sem a assinatura da mãe, dos papéis escritos a vermelho que acompanharam todo o processo: "supresa para a mãe e esposa! não enviar correspondência para casa!" (no dia seguinte, depois de ela própria ter ido fazer um passaporte de urgência, e levantado os dos filhos, mostravam as folhinhas muito coloridas, em letras garrafais, que tinham vindo com os documentos - o pessoal da burocracia às vezes comove...). Do susto que a filha apanhou quando ouviu a mãe a combinar com a avó berlinense comprarem os bilhetes de comboio com antecedência, do SMS aflito que enviou ao pai. Do amigo que ajudou a arranjar um apartamento pagável em Brooklyn. Peripécias.
Na sexta-feira passada meteram-se no avião. Pouco depois de chegar, escreveram no facebook: já comprámos velas, a Sandy pode vir.
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Gostei muito da festa de aniversário. Escolheram um restaurante instalado na antiga vacaria de uma quinta, um ambiente rústico engraçado. Os convidados eram recebidos com um "happy bithday" tocado no saxofone pelo marido e pelo filho da aniversariante, e eu via as pessoas passar com presentes lindamente decorados. Quase todos ofereciam dólares para a viagem, mas, em vez do habitual envelope, traziam uma pequena obra de arte. Gosto de ver a criatividade nos presentes dos alemães, o tanto que põem no mínimo que fazem.
A aniversariante quis apresentar as 70 pessoas que convidara, e arranjou uma maneira muito original de o fazer: "levante-se quem me conhece há 50 anos", levantaram-se os pais, a tia e a madrinha; "levante-se quem me conhece há mais de 40 anos", levantaram-se o marido da tia e os primos; etc.
Fiquei com vontade de fazer o mesmo em alguma festa nossa. De experiência em experiência, a minha vida vai-se enchendo de © © ©...
Algumas pessoas fizeram as gracinhas habituais antes de darem o seu presente em público. Puseram a amiga em cima de um skate para testarem o seu equilíbrio antes de lhe oferecerem um passeio de Segway em Munique, coisas assim (no dia seguinte, ela diria, furiosa: "qual é a ideia de me porem a fazer figuras tristes em público? isto é coisa de amigos?!" Mas parece que é uma tradição da Baviera. Pelo que eu conclui que, se festejar o meu 50º, não convido ninguém dessa região).
Quando um grupo de colegas lhe ofereceu uma voltinha de helicóptero em Nova Iorque, ela exclamou: "mas toda a gente sabia desta viagem?!" - Pois parece que sim...
Depois veio o DJ, e começámos a dançar. O homem era bom, parecia que conhecia as músicas de sempre da minha vida. As que dançava já aos 15 anos, e não me importaria de dançar aos 80. Às vezes o DJ fazia um gostinho aos mais novos, e punha a música deles. Eu pensava: coitados, dançam isto aos 15, talvez o dancem aos 50, talvez aos 80. Cá eu tive muito mais sorte com as músicas que me calharam para a vida!
No dia seguinte, fiquei a saber o segredo de um bom DJ: nunca se deve escolher alguém mais novo que nós. Estes alemães sabem-na toda...
2 comentários:
Gostei de ler. Interessante, estes alemães.
Bjs
Rita,
eu gostei especialmente do pormenor de o DJ não poder ser mais novo que os convidados da festa... hehehe.
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