26 outubro 2012

música e poesia do Brasil






Quando vivia em San Francisco, ofereci-me como voluntária no festival de Stern Grove. No único fim-de-semana em que realmente podiam precisar de mim, porque o convidado era o Chico César, e talvez fosse importante haver alguém na equipa que falasse português, eu estava em Los Angeles (a mostrar aos miúdos o dilúvio na Disneyland, por sinal). Pedi a uma amiga, a Susan, que fizesse ela de voluntária em Stern Grove, e abalámos para o sul.
Quando voltei, a Susan tinha um CD do Chico César autografado para mim, e um outro para ela, com uma dedicatória linda: "obrigado por me traduzir".

("Obrigado por me traduzir" - e não seremos sempre tradutores daqueles que encontramos? E saberemos traduzi-los com justiça? Saberemos entender o original, saberemos acrescentar-lhe algo bom que é nosso - como quem abre pontes para direcções novas? Saberemos acrescentar-lhes o ponto de quem conta um conto, dois pontos até: olhar e traduzir o outro, abrir-lhe a frase para que se continue - um devir)

Às vezes a Susan ficava a tomar conta dos miúdos para nós irmos dar uma voltinha à noite. No dia seguinte, os miúdos contavam que a Susan tinha posto aquele CD a tocar, e que tinham dançado "horas e horas" na cozinha - "olha, mãe!", e dançavam como gatos: ágeis, graciosos. Com os olhos cheios de luz.

Já lá vão dez anos, e continuo muito grata à Susan e ao Chico César.
Música e poesia do Brasil, aonde eu for é bom que vá com vocês.

2 comentários:

Carla R. disse...

Um grande bem-haja a todas as Susan do mundo !! Para quando uma estatua ?

Helena Araújo disse...

Isto não é caso de estátuas, Carla. É caso de oferecer o mesmo aos outros. Uma mão lava a outra...
(Mas a estátua da Susan ia ficar uma maravilha - deve ser das mulheres mais bonitas que conheço. Das mulheres da vida real, claro.)

Já pus uma etiqueta no outro post. "Baú de recordações" está bem? Acho que ainda não tinha nenhuma do género.