19 outubro 2012

"a quem nos visita, o sol da nossa simpatia"


Ontem troquei um dos melhores violoncelistas do nosso tempo pelo filme Viagem a Portugal, e não me arrependi. Nem um bocadinho.

Por sorte estava na última fila, e ninguém me via literalmente de boca aberta, simultaneamente horrorizada com a história e fascinada por aquela complexa sobreposição de obras de arte - tanta arte, e tão boa, e tão bem entrelaçada (interpretação, argumento, fotografia, ritmo) que quase não dá para acreditar.

Passei o filme a pensar que a primeira pergunta que faria ao Sérgio Tréfaut, no fim, seria: "isto foi tudo inventado, não foi?" - mas tive azar. Após a última cena, vem a maldita revelação: nada disso foi inventado. E o Sérgio Tréfaut acrescentou que aquilo se passa várias vezes por dia nos nossos aeroportos. Alguém vá protestar com o arquitecto da Embaixada do Brasil, que não previu um buraco no chão onde eu pudesse enfiar-me naquele momento.

A conversa com o realizador foi longa e muito agradável.
E tinham uma intérprete que me deixou outra vez de boca aberta: excelente trabalho de tradução consecutiva!
(a minha sorte é que já quase não há moscas, caso contrário neste festival Berlinda ainda me arriscava a sei lá o quê, calateboca... fechateboca, melhor dizendo)

Alguém insistiu que este filme tem de passar no Parlamento Europeu. Concordo inteiramente.


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(E não é que ontem descobri que não sou insensível ao charme de homens mais velhos? Coitadinho do Queyras, ao pé do Makena Diop não tem grandes hipóteses...)


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O Festival Berlinda está a revelar-se extraordinário. Como é que com uma organização tão simples, e sem os habituais apoios de mil instituições e fundações, consegue encher as salas assim, noite após noite? No concerto do João Vasco e do Eduardo Jordão havia até pessoas em pé. No Viagem a Portugal, a sala estava praticamente cheia (nas fotos só se vê metade do público - as cadeiras estavam ocupadas até à última fila). Alguma coisa está a acontecer em Berlim, e está a acontecer muito bem.

Talvez deva fazer aqui uma declaração de interesses: volta e meia a Berlinda publica textos meus, e às vezes tenho de ir ao aeroporto buscar ou levar algum artista convidado. É tudo. Não tenho a menor responsabilidade na organização e no êxito deste festival. Por isso estou tão à vontade para elogiar.

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