21 agosto 2012

visita de Estado para o povo

Este fim-de-semana a chancelaria e os ministérios estenderam o tapete vermelho e abriram as suas portas ao povo. Uma animação.
Fomos de novo à chancelaria, e deram-me uns postais fantásticos da Angela Merkel, autografados e tudo. Pedi logo uma dúzia, para dar a uns miúdos portugueses que vêm cá passar uma semana. Tenho a certeza que vão adorar, já estou a ver a cara de felicidade que vão fazer.

Achei muito curioso que este ano se dava um papel preponderante a Portugal. Tanto na exposição à entrada, onde havia fotografias de gente importante recebida naquele sítio...


...como na sala das conferências de imprensa, onde decorria um filme sobre as actividades da chancelaria, entre elas as recepções para representantes importantes de outros países - e o exemplo escolhido era sempre Portugal, sempre o Passos Coelho.



Entre tantos exemplos possíveis, e alguns até bem importantes no contexto da História alemã (como por exemplo políticos israelitas, polacos, franceses ou americanos), foram lembrar-se de Portugal. Talvez em jeito de homenagem ao bom rapazinho que faz tudo como lhe mandam?

Na exposição da entrada também havia uma foto da rainha dos Países Baixos. Esta:


(com um olho assim azul, estou em crer que há uma visagista que perdeu o emprego)

Nas paredes exteriores do edifício havia belíssimos jardins verticais, mas penso que desta vez não é Patric Blanc, é simplesmente uma sábia combinação de heras (anotei, que esta ideia ainda me vai dar muito jeito daqui a uns meses).


O edifício é muito amplo, e está cheio de obras de arte contemporânea. Esta escultura, por exemplo, chama-se "a filósofa", e é da autoria de Markus Lüpertz, artista muito apreciado por Gerhard Schröder, segundo nos disseram.


No andar de baixo há uma exposição permanente sobre cada um dos chanceleres. As vitrinas onde se expõem alguns dos presentes mais interessantes que receberam têm também uma fotografia e um pequeno texto sobre o seu período de governação. Muitos deles são um enorme motivo de orgulho para o país, e algumas das fotografias são ícones da História da Europa.




Numa vitrina havia um livro aberto, mostrando duas folhas. Fiquei a olhá-lo, como se a História se tivesse materializado à minha frente.
Num dos lados via-se o famoso cartão do Kennedy, "ish bin ein beerleener":


No outro estava a folha com a famosa passagem do discurso de Reagan: "Mr. Gorbachev, tear down this wall!" - e com as marcações feitas por ele para dar a ênfase certa a cada palavra:


E eu que só lá tinha ido para beber um cocktail nos aprazíveis jardins da chancelaria...


No relvado por trás do edifício podia-se visitar um dos helicópteros usados para levar VIPs em distâncias curtas. À frente tem uma cabine de quatro lugares, e atrás do corredor transversal tem ainda lugar para dez pessoas. A Angela Merkel, dizia um polícia, senta-se sempre virada para trás. Aha, pensei eu, quer ter sempre tudo sob controlo? Pelos vistos não enjoa quando viaja de costas, comentou ele. O Papa, esse, sentou-se virado para a frente. "Aí nessa cadeira", acrescentava, e com tal entusiasmo que me lembrei de um conjunto de cadeiras que me deram uma vez, em Portugal, e da fitinha vermelha que adornava uma delas: era onde Salazar tinha estado uma vez sentado. Ainda bem que avisam, para a mandar colar bem - que as cadeiras do Salazar não são de confiança.


Nos jardins havia a animação do costume. Este ano o tema era desporto e deficiência. Chamaram ao palco pessoas com uma impressionante força de vontade. Vimos um homem sem uma perna a jogar ping-pong, falou-se de futebol para cegos...


E mais uma atenção a Portugal: o vinho que lá serviam era ribatejano.


Da chancelaria fomos para o Ministério do Interior. O programa anunciava viagens de barco, e com o calor que fazia vinha mesmo a calhar. Infelizmente, nesse dia as viagens de barco já estavam todas reservadas. Mas não perdemos tudo: fiquei a saber que o Estado alemão tem vagas para inúmeros lugares no serviço público para estrangeiros (desde jardineiro e cozinheiro até lugares de técnicos superiores), oferece 600 horas de aulas de alemão gratuitas, bem como um curso de orientação profissional. Perguntei à senhora se podia dizer isso aos jovens portugueses que estão sem emprego, e ela disse para entrarem em contacto com os serviços responsáveis: informações gerais e formação para o serviço público.
Para o final do dia, o programa anunciava música dos Roma e Sinti. Esperei em alegre expectativa, ouvindo dentro de mim acordes do Ko to tamo peva, e eis que a "música dos Roma e Sinti" era uma rapariga a cantar jazz. Nada como surpresas destas para esvaziar as gavetas em que comodamente me instalei.

Sem comentários: