13 agosto 2012

retalhos da vida de uma guerra fria

Faz hoje 51 anos que começaram a construir o muro de Berlim. No ano passado fiz uma série sobre a cerimónia do cinquentenário desse triste momento. Quem não leu, e estiver interessado, pode ver aqui: Muro de Berlim - 50 anos.

Ao pequeno-almoço, o Matthias perguntava-me algo sobre a chantagem que a França fez para a Alemanha entrar no Euro - o preço a pagar para autorizarem a reunificação. Respondi-lhe com uma piscadela de olho que nas relações internacionais não há chantagens, há compromissos, e ele riu-se. Mas percebeu os motivos e os medos dos franceses e da Europa: afinal de contas, a reunificação ocorreu apenas quarenta e cinco anos após o fim da guerra. Meio século é um período muito curto, e esse meio século mais ainda: um tempo de aceleração da História.

Ontem, enquanto passeava por alguns lugares de morte do muro de Berlim (de morte mesmo, pura e crua, resultado de ordens para atirar sobre os que tentavam escapar à "República Democrática" - e foi há apenas 23 anos, envolvendo pessoas que provavelmente hoje cruzam o meu caminho), lembrei-me do mais recente não-escândalo português: as escutas nos aparelhos de ar condicionado. Não estou maluquinha para ir meter a colher entre estes ex-marido e mulher (o PCP e a Zita Seabra, no caso). Só queria lembrar, a quem tenta ridicularizar e menorizar a insinuação das escutas nos aparelhos de ar condicionado, que a Guerra Fria aconteceu realmente, que ninguém estava a brincar em serviço, que o que seria de surpreender é que, no momento em que Portugal vacilava entre os dois blocos, não houvesse escutas instaladas quer por russos quer por americanos. Além disso, caro Ferreira Fernandes e caro autor deste vídeo engraçado, os aparelhos de ar condicionado não são apenas aquela coisa que faz barulho. Exigem instalações, feitas por técnicos que entram nos edifícios, prendem os aparelhos à parede e os ligam à electricidade. Digo eu, que nem vejo esses filmes, mas procuro "wanzen" e "stasi" no google imagens e fico logo cheia de ideias sobre como é que estas coisas se podem fazer. Para rejeição da hipótese, convenhamos que arranjaram teses muito fraquinhas.



De facto, não me interessa se as escutas eram instaladas pelos técnicos dessa empresa, ou de outra -  embora o assunto seja do interesse das pessoas atingidas pela insinuação, e interessará ao país e aos historiadores, para conhecer estes detalhes da guerra fria. O que me incomoda, e muito, é o modo como estes assuntos se tratam em Portugal: insinuações (ou, outras vezes, notícias), rebatidas com argumentos ad hominem e anedotas para ridicularizar o assunto em vez de o enfrentar e debater com seriedade.

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