Deu a Primavera no meu coro.
Cantamos "se eu fosse um passarinho" (os antigos é que a sabiam toda: se eu fosse um passarinho, voava para ti / etc. etc. / em sonhos estou contigo, e falo-te / etc. etc. / de noite, a todas as horas / o meu coração acorda / a pensar em ti / a pensar que mil vezes / me darás o teu coração - ah, malandrotes!) (mas, pensando bem, que seria de esperar de uma colectânea de poemas chamada "a trompa mágica do rapaz"?)
Cantamos "canção rústica" (depois do baile o moço leva a mocinha a casa por um caminho alumiado pelos pirilampos, beija-lhe o dirndl, segreda-lhe não sei quê ao ouvido, e ambos pensam "aaai, abençoado mês de Maio" - e provavelmente vai cada um para sua casa pensar nas mil maneiras de se entregarem o coração um ao outro, mas sobre esta parte a canção é omissa.)
Cantamos, e enquanto cantamos rimos, que estas letras não são para menos. A seguir, o maestro manda-nos para o Laudate Pueri, para ganhar juízo.
O meu coro vai acabar dentro de algumas semanas. Morte anunciada há muito, por falta de membros - também, quem se teria lembrado de fazer um coro de diplomatas, gente que nunca pára muito tempo no mesmo sítio? Na segunda-feira passada, enquanto cantava "sit nomen domini benedictum" e me alegrava por ter conseguido chegar com elegância a um certo mi que lá tem, fui invadida por uma suave tristeza, saudades antecipadas de tudo: das melodias, dos risos, daquela sala de um edifício ministerial da RDA com as mesas reservadas para nomes estranhos e bandeirinhas de países que mal sabia que existem.
Vou sentir falta de tudo isto.
2 comentários:
oh...
pois...
E vou sentir saudades sobretudo do nosso maestro. É um rapaz engraçado. Com uma paciência impressionante.
Mas às tantas ele tem outros coros, e não se importa de me deixar cantar num deles a fazer a minha especialidade, que é inventar a quinta voz.
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