11 março 2012

as mãos do Thielemann, aquelas mãos...



Nocturnos de Debussy (incluindo "sereias", ao que consta a primeira vez que se experimentou um coro só em vocalizos), Messiaen (alguns Poèmes pour Mi) e a Pathétique de Tchaikovsky. Um concerto em cheio, com o maestro Christian Thielemann e o RIAS Kammerchor.

Fui ao ensaio geral na sexta-feira, e a sala estava bastante cheia. Gostei de ver lá umas cem crianças de infantários (são as que se vêem do lado direito, logo no início deste vídeo), e muitos adolescentes de várias escolas. Os adolescentes fizeram mais barulho e rebuliço que os miúdos de cinco anos mas, curiosamente, ninguém tossiu. Eu a pensar que talvez aquela sala tenha não sei quê químico que quase queima os pulmões dos espectadores, porque eles tossem como se já estivessem quase a ver as trompetes do Apocalipse, mas pelos vistos durante a manhã os químicos não estão activos. Vou ter de reformular a minha teoria.

Eu estava com uma amiga, que me falou das mãos deste maestro, e lhe imitou os movimentos com um sorriso encantado e um pequeno arpejo da voz. Fiquei atenta - e era mesmo como ela dizia: as mãos dele desenham a música com doçura. Deliciosos os momentos de piano, quando ele se esticava todo para trás na cadeira alta, deixando ondular a mão esquerda suavemente. Mas logo a seguir se erguia e agitava a batuta, ou se baixava a ficar quase de cócoras. Foi a primeira vez que vi um maestro de cócoras.

Fui assistir ao concerto nessa noite, porque o achei lindíssimo, e porque queria ver se o Thielemann se põe de cócoras quando está de casaca. Sim, põe - mais tarde, em conversa com amigos no bar, comentávamos bem-dispostos essa sua maneira de se baixar e rodar a mão esquerda como se estivesse a fazer festas a um cão. Mas também salta carregado de energia, e o seu cabelo um pouco longo acompanha o salto com algum atraso: já o maestro aterrou no estrado e ainda o cabelo vem a caminho.

A soprano Jane Archibald cantou com brio as dificílimas árias de Messiaen. Foi muito aplaudida, e numa das vezes em que voltou ao palco entrou com tanto ímpeto que um sapato lhe saltou do pé e foi bater no estrado do maestro. Era um sapato lindo, de altíssimos saltos, prateado e com cristais - ah, Cinderela!
Porque será que estas cantoras insistem em cantar em cima de andas? Afinal de contas, por baixo daqueles vestidos compridos até galochas podiam ter, que ninguém via. Será que os saltos têm um efeito especial na voz? Não deve ser: afinal a Ewa Podleś cantou que foi uma maravilha, e nem sequer estava dois centímetros acima do chão. Pois não é, com certeza: a Jane Archibald tirou o outro sapato, e cantou descalça um encore, "Le Collier". Tão bem como da primeira vez, ou melhor. Depois agarrou nos sapatos com um sorriso coquete, e saiu da sala.



Hoje à noite vai haver repetição deste concerto, que será transmitido em directo pelo digital concert hall (não sei é se a soprano vai repetir o truque do sapatinho). Garanto que não me pagam a publicidade (olha, pensando bem, podiam pagar...), mas cá vai mais um bocadinho de serviço público: Domingo, 11 de Março, às 19 horas de Lisboa. No digital concert hall, custa 10 euros e podem ver esta transmissão em directo e - durante 24 horas - os concertos que há no arquivo. 

4 comentários:

Paulo disse...

Ah, estava a ver que não saía uma crítica decente desse concerto.

Helena Araújo disse...

E meteu secção Caras-Berlim e tudo, viste?
Também devia fazer uma de jeito ao concerto de hoje. Imagina, Paulo: estava a ser transmitido em directo, e um dos violinistas entrou na sala atrasado, quando o maestro já ia começar a segunda parte. hehehehe.
(quer dizer: coitadinho do rapaz!)

Paulo disse...

Acontece até aos melhores.

Helena Araújo disse...

Já te aconteceu num concerto um dos músicos entrar quando o maestro já quer começar a peça? Eu pensava que era impensável! Coitado do rapaz, tive mesmo pena dele.