28 março 2012

"Alemanha baixa salário mínimo dos não europeus"

Se lessem um título de notícia assim:


Alemanha baixa salário mínimo dos não europeus

Passa a ser de 44.800 euros por ano


- iam pensar o quê da Alemanha? O quê, digam lá, o quê?

E se a notícia continuasse assim: "O Governo alemão chegou a um acordo para reduzir o salário mínimo dos trabalhadores qualificados naturais de países fora da União Europeia e que são contratados por empresas da Alemanha, dos atuais 66 mil euros anuais para 44.800 euros."

- Iam pensar que os alemães estão loucos? E que isto é xenofobia pura e dura? E que é inadmissível?

E se a seguir se fizesse questão de dizer que esta é uma medida governamental da coligação chefiada pela Angela Merkel?
- Ah, fulanizemos, "a Merkel nunca me enganou, essa esta essa aquela, grandessíssima..."

A notícia em português está aqui. Para memória futura, copio-a para o fim deste post.

A notícia no jornal alemão que deu origem a esta vai já a seguir, em tradução um bocadinho à pressa, mas verdadeira no essencial.

É só para deixar bem claro que em Portugal há cada vez menos pudor de fazer um discurso de ódio contra a Alemanha (e a sua Merkel), que todos os pretextos são bons, e que a coisa chegou a tal ponto que já ninguém desconfia, nem mesmo o jornalista cujo dever é estar especialmente atento quando a esmola é desmesuradamente grande. Porque - parece-me - o que se pensa e diz da Alemanha (e da sua Merkel) já é tão mau que poucos admitem sequer que possa haver algo errado na história.
É verdade que para pessoas um tanto dadas a acreditar em histórias mirabolantes e amigas de se deliciarem com escândalos de mesa de café (desde presidentes que continuam presidentes apesar dos estranhos negócios que fizeram e ninguém investiga, até reis que sairão das brumas e ditadores que seriam, eles sim!, capazes de pôr isto com dono, passando pela Nossa Senhora que tudo concede desde que peçamos com jeitinho - sim, estou a falar de uma maré negra que vinha da Galiza para o Minho, mas arrepiou corrente porque a nossa Nossa Senhora é melhor que a deles, ou então os nossos ministros rezam com mais devoção) para pessoas assim é difícil perceber a diferença entre um país e The Onion.
Mas devia haver algum limite para as histórias mirabolantes, para as projecções da auto-imagem e para a má-fé em relação a um parceiro europeu.

De facto (e se calhar já deu para perceberem que estou mesmo chateada) fica mal a um povo que tanto se queixa da arrogância dos alemães e do modo como "olham para nós sem respeito" fazer exactamente a mesma coisa de que os acusa.


E cá vai o artigo original, para compararem com o português, e me dizerem se tenho ou não razão para estar furiosa, assustada e decepcionada.

Falta de pessoal qualificado

O governo baixa os obstáculos à entrada de profissionais estrangeiros com altas qualificações

Exclusivo -    Em breve será possível à economia alemã recrutar profissionais fora da UE por um preço claramente mais baixo. De futuro, bastará a um estrangeiro fazer prova de um rendimento anual de 44.800 euros para poder viver na Alemanha. 

Futuramente, será mais fácil a estrangeiros com boas qualificações receber um trabalho na Alemanha. Esta mudança é resultado de um acordo de facções dos partidos CDU e FDP, segundo o qual pessoas com um rendimento anual superior a 44.800 euros podem instalar-se neste país, em vez do limite mínimo de 66.000 euros que até agora eram exigidos. Para profissões onde há muita falta de profissionais (engenheiros, informáticos, médicos) esse limite pode baixar até 34.200 euros, segundo fontes da coligação.
Seis meses para procurar emprego
O acordo no Parlamento representa grandes melhorias para a economia, tornando-lhe possível ir ao estrangeiro buscar profissionais por um preço mais baixo (n.T.: por um preço mais baixo que o que a lei lhe permite hoje em dia, e não por um preço mais baixo que o pago aos profissionais alemães) para ocupar os postos de trabalho vagos. Apesar da facilidade de movimentos dentro da UE, ainda faltam candidatos aos empregos oferecidos, pelo que se decidiu abrir essa porta a pessoas que não são provenientes de países da UE. Tendo em conta a actual situação de oferta de emprego, o partido CDU abandonou a sua atitude de resistência a medidas que facilitem a entrada destes emigrantes.  
A segunda novidade é a introdução de um visto especial para busca de trabalho. As pessoas provenientes de países que não pertencem à UE podem ficar na Alemanha até seis meses à procura de um emprego - independentemente da sua qualificação, e dos seus rendimentos até à data. No entanto, têm de fazer prova de estarem em condições de pagar as suas despesas durante esse período. Se arranjarem um emprego, o rendimento anual tem de estar acima daquele limite.
O acordo quanto à norma "EU-Blue-Card" é um êxito raro da coligação, já que esses partidos costumam ter opções antagónicas no que diz respeito a estes temas.  
Estas propostas relativas à imigração deverão ser apresentadas na quarta-feira. Um nível intermédio a partir de 44.000 euros, sobre o qual se falou em tempos, será ignorado. De futuro, um salário a partir de 44.800 euros permite uma autorização de residência durante três anos. Depois disso, a pessoa pode estabelecer-se no país por um longo período.

Vantagens acrescidas para quem falar a língua
Uma outra regra nova refere-se ao conhecimento da língua. Quem falar bem alemão, pode tornar-se residente por período indeterminado já ao fim de dois anos. Essa foi uma condição imposta pela união CDU/CSU: "queremos premiar o esforço de integração".
Os estudantes estrangeiros que terminam um curso num estabelecimento de ensino superior alemão também podem ficar mais tempo neste país à procura de emprego: o prazo foi prolongado de 12 para 18 meses após o fim dos estudos. Durante o curso, podem ter um emprego paralelo durante 120 dias em vez dos 90 dias por ano que até agora eram autorizados. 



E agora, o artigo português:

Alemanha baixa salário mínimo dos não europeus

Passa a ser de 44.800 euros por ano

O Governo alemão chegou a um acordo para reduzir o salário mínimo dos trabalhadores qualificados naturais de países fora da União Europeia e que são contratados por empresas da Alemanha, dos atuais 66 mil euros anuais para 44.800 euros.

O diário «Financial Times Deutschland» revela esta quarta-feira que os partidos da coligação governamental, liderada pela chanceler Angela Merkel, decidiu adotar esta medida devido à falta de mão-de-obra qualificada no país e à forte procura das empresas locais.

Para os profissionais muito requisitados na Alemanha, como engenheiros, informáticos e médicos, o salário anual mínimo será reduzido até aos 34.200 euros anuais.

O Governo federal alemão planeia ainda, segundo o mesmo jornal, emitir um visto especial para quem for procurar emprego à Alemanha e que permitirá aos profissionais especializados não europeus residir naquele país até seis meses para poderem encontrar trabalho, cita a Lusa.

Esta iniciativa governamental estabelece ainda que quem demonstrar bons conhecimentos de alemão terá direito a um visto válido até dois anos e que os licenciados naturais de países fora da União Europeia, mas formados em universidade e escolas técnicas alemãs poderão ficar mais tempo no país para procurar trabalho.



ADENDA IMPORTANTE
A notícia foi corrigida. A nova versão:

Alemanha facilita vistos para obter mão-de-obra

Limite mínimo de salário anual para conseguir visto para trabalhar no país passa a ser de 44.800 euros

Notícia corrigida às 15h

O Governo alemão chegou a um acordo para baixar o limite mínimo de salário a partir do qual os trabalhadores qualificados naturais de países fora da União Europeia terão de preencher para trabalhar no país. A antiga lei previa que só quem ganhasse pelo menos 66 mil euros anuais é que teria acesso ao visto, mas agora basta ganhar 44.800 euros por ano.

A alteração, que tem que ver então com o limite mínimo para a prova de rendimentos e não, como por lapso circulou nas agências noticiosas e na imprensa, sobre uma redução do salário mínimo, facilita a vida aos estrangeiros que querem obter um visto para trabalhar e residir na Alemanha.

O diário «Financial Times Deutschland» revela esta quarta-feira que os partidos da coligação governamental, liderada pela chanceler Angela Merkel, decidiram adotar esta medida devido à falta de mão-de-obra qualificada no país e à forte procura das empresas locais.

Para os profissionais muito requisitados na Alemanha, como engenheiros, informáticos e médicos, salário anual mínimo a partir do qual poderão obter um visto para trabalharem no país será reduzido até aos 34.200 euros anuais, fazendo com que mais profissionais se possam candidatar.

O Governo federal alemão planeia ainda, segundo o mesmo jornal, emitir um visto especial para quem for procurar emprego à Alemanha e que permitirá aos profissionais especializados não europeus residir naquele país até seis meses para poderem encontrar trabalho, cita a Lusa.

Esta iniciativa governamental estabelece ainda que quem demonstrar bons conhecimentos de alemão terá direito a um visto válido até dois anos e que os licenciados naturais de países fora da União Europeia, mas formados em universidade e escolas técnicas alemãs poderão ficar mais tempo no país para procurar trabalho.

A Alemanha voltou a crescer no início deste ano.

40 comentários:

Unknown disse...

Tens toda a razão, Helena. Por aqui, toma-se por veridico tudo o que é lido na imprensa (incluindo o Correio da Manhã). Quando, frequentemente, o que é escrito já passou por um cérebro atrofiado e faccioso de alguém a quem deveria ser exigido um mínimo de isenção e um máximo de objectividade.

Parabens pelo texto. Gostei muito e subscrevo na sua totalidade.
Beijos,

Rita Maria disse...

Ia achar um escândalo mas li os dois com atenção e não os acho assim tão distintos. Os dois dizem no fundamental isto: dantes, uma empresa que quisesse contratar um não-europeu tinha de lhe pagar pelo menos 66 mil euros anuais para que ele estivesse autorizado a trabalhar e residir na Alemanha. Agora pode fazê-lo por 44.800 euros. Para profissões onde há muita falta de profissionais esse limite pode baixar até 34.200 euros.

Só na questão da língua e dos vistos é que a notícia portuguesa falha redondamente (enfim, "só" não é só, é grave, mas um "só" comparando com o que tu dizes).

Honestamente, desta vez acho que as duas notícias dizem mais ou menos o mesmo.

Helena Araújo disse...

Rita,

O artigo em português fala em "baixar o salário mínimo dos estrangeiros".

A regra dos 66 mil euros foi criada para só deixar entrar imigrantes com muito dinheiro. Não queriam cá pobretas ou classe média estrangeira - só magnatas ou perto disso.

O que o artigo leva a crer é que a mesma pessoa agora recebe 45 mil em vez de 66 mil. Mas não é a mesma pessoa, é um segmento do mercado de trabalho uns furos abaixo. São os que fazem um trabalho para o qual o mercado alemão paga uns 2.500 líquidos por mês.
Sabe-se que não há alemães em quantidade suficiente para todos os postos de trabalho em aberto, os europeus não estão muito interessados, e os de fora da Europa não podem concorrer porque as empresas teriam de pagar muito mais por eles devido àquele obstáculo legal criado por motivos completamente alheios a isto.

sem-se-ver disse...

bem, rita, se entendi, acho que há uma grande diferença - uma coisa é "Esta mudança é resultado de um acordo de facções dos partidos CDU e FDP, segundo o qual pessoas com um rendimento anual superior a 44.800 euros podem instalar-se neste país, em vez do limite mínimo de 66.000 euros que até agora eram exigidos. " - que eu interpreto, espero que acertadamente, como sendo que o governo alemão me deixa instalar na alemanha (enqt quadro superior) se eu tiver um rendimento anual superior a 44.800; ie, eu, sem-se-ver, empregada em portugal e a ser paga pelo menos nesse montante anualmente no meu país, posso tentar arranjar emprego na alemanha (em vez de ter por cá rendimentos de 66.000 euros).

ie, o acordo entre estes partidos e a noticia alemã não refere quanto eu vou ganhar na alemanha, e muito menos faz referencia a se irei ganhar mais, igual ou menos que um trabalhador alemão. o que diz é que se eu provar que os meus rendimentos cá forem de etc, me poderei instalar lá.

por isso, e se realmente entendi bem, parece-me que a jornalista portuguesa leu na noticia alemã o que ela nem sequer contempla - os salarios a serem pagos lá.

Rita Maria disse...

Falam em baixar o salário mínimo dos não europeus, tanto um texto como o outro e ler outra coisa que não "mínimo que se lhe tem de pagar" em "salário mínimo" já é má vontade do leitor, não culpa do jornalista, nem sequer intenção do jornalista.

A lei tinha sido feita acima de tudo para desencorajar as empresas de contratar emigrantes de fora do espaço Schengen - para um americano por exemplo era muito difícil ficar cá a trabalhar, ou a empresa lhe pagava isso tudo ou provava que só aquela pessoa era indicada para o trabalho e nenhum europeu o podia fazer, o que era praticamente impossível (vivi de perto alguns destes processos). O objectivo agora é que as empresas tenham maior facilidade em contratar os estrangeiros de que necessitam, pelo que o valor baixou.

O artigo contextualiza pouco e traduz mal a questão dos vistos mas a meu ver não é sensacionalista nem abusivo, nem sequer substancialmente diferente do artigo do FTD.

Parece-me que nós as duas é que já reagimos com urticária a qualquer artigo sobre a Alemanha e jogamos automaticamente ao "descubra os cinco erros escandalosos".

Anónimo disse...

Obrigada Helena por este esclarecimento. Confesso que li a noticia hoje de manhã num jornal portugues online, e apesar de não ter saltado para a "xenofobia" imaginei que algo teria sido "lost in translation", mas que no todo a "noticia" não era boa.
Agora a noticia original parece-me praticamente o inverso do publicado no jornal português...
Sem alarmismos, assusta-me o rumo do jornalismo neste país... e da sociedade em si...

Helena Araújo disse...

Sem-se-ver,
percebeste tudo mal! (ou estás a gozar connosco?)
É indiferente o que ganhas no teu país de origem, um país não europeu. Se queres vir trabalhar na Alemanha, podes vir sem emprego durante seis meses, mas tens de provar que tens o dinheiro suficiente para esse período. E o emprego que arranjares na Alemanha tem de te pagar pelo menos 44.800 euros por ano. Até agora, já tinhas de ter um emprego apalavrado com uma empresa, e tinhas de receber dessa empresa alemã 66 mil euros por ano.

jj.amarante disse...

Mas no site da Agência Financeira já fizeram uma correcção à notícia às 15:00.

Helena Araújo disse...

Rita,
sim, essa urticária costuma ser um problema que me acontece muito.

Mas desta vez comecei por ver reacções de portugueses a este artigo (do género "WTF?"), depois fui ler o artigo e pareceu-me que haveria ali algo lost in translation (como dizia a anónima). Ao chegar finalmente ao original alemão pareceu-me que havia não apenas incompetência mas também má vontade.

Facto é que as pessoas leram "Alemanha baixa salário mínimo dos estrangeiros" e ficaram chocadas ou desconfiadas que aquilo não podia ser verdade.
Podes dizer que é intenção do leitor e não do jornalista. Contudo, se as pessoas reagem assim é porque a notícia está mal feita.

Antes de mais: "salário mínimo" é uma expressão com um significado preciso e um valor simbólico altíssimo - um montante exacto que é o mínimo definido por lei para pagar o trabalho dos assalariados, uma conquista fundamental.
Não se pode, portanto, usar a expressão "salário mínimo" quando se quer dizer "o rendimento mínimo anual de um não europeu para ser autorizado a trabalhar na Alemanha". Não é a mesma coisa.

Mais: dizer "baixar salário mínimo" toca imediatamente todas as campainhas dos ataques às conquistas sem retorno. E dizer "baixar salário mínimo dos estrangeiros" vem com uma terrível carga de xenofobia. Não se pode usar estas expressões assim de ânimo leve.

E como explicar que o título tão esclarecedor "Alemanha reduz obstáculos à entrada de estrangeiros" se tenha transformado numa frase que, no mínimo, pode ser mal interpretada: "Alemanha baixa salário mínimo dos estrangeiros"?
Em momento algum se fala na notícia alemã em "salário mínimo", mas de terem baixado o montante do rendimento mínimo anual que permite a um não europeu estabelecer-se aqui. Porque é que o jornalista português escolheu a expressão "salário mínimo" (muito errada, no caso) para falar disso?

Anónimo disse...

Existe uma enorme má vontade. A CDU ganhou as eleições no Sarre e os jornalistas portugueses procuram ocultar que isso sucedeu. Aqui trata-se de limiar mínimo de rendimento, nunca de salário mínimo. Se não existe salário mínimo para alemães, como poderia existir para estrangeiros exteriores à UE?
Alíás não há um único artigo em Portugal a explicar que a política "neo-liberal" para aumentar a competitividade foi lançada por um governo de esquerda, verde-vermelho, que estava aflito para combater o desemprego e o fraco crescimento económico.Chamou-se Agenda 2010 e não visava apenas diminuir custos.

Pedro

Helena Araújo disse...

jj.amarante,
Só li o seu comentário depois de responder à Rita. Obrigada pela informação!
Já fiz uma adenda ao post. A segunda versão está incomparavelmente melhor.

Só tenho uma dúvida: chama-se "governamental" a uma proposta feita por um grupo de deputados dos partidos que estão no governo?

Interessada disse...

Todos reconhecemos que há jornalistas no nosso país que não o deviam ser, e talvez influenciada por inúmeros casos, numa 1ª leitura, estive de acordo com a Helena.
Depois, como quase sempre, encantei-me com o raciocínio da Rita.
Acho que, se não tivesse lido nenhuma, a minha interpretação teria sido a do jornalista.
Talvez o pecado esteja no facto de haver interpretações e não uma transcrição da Lei.
E esta, como sabemos, presta-se não raras vezes a diversas interpretações.
Concedo que talvez o espírito da Lei tenha sido o que traduz o pensamento da Helena, mas o que é certo é que a Lei permite o que refere a Rita-uma empresa pode agora contratar um não-europeu por um valor inferior ao que lhe tinha que dar anteriormente.
E disto não podemos fujir.
Como vai ser utilizada, se em benefício ou prejuizo do cidadão entranjeiro, está a questão fundamental.
Delirei com as vossas interpretações porque julgo que elas traduzem na realidade a forma de pensar de cada uma, ambas bem intencionadas.

Helena Araújo disse...

Pedro,
pois...

Rita Maria disse...

Num artigo e no outro há zero de contextualização - no artigo português isso torna a notícia má porque as pessoas desconhecem a realidade anterior e os seus objectivos políticos, no artigo alemão isso é menos grave porque as pessoas os conhecem melhor, embora exista também na Alemanha uma ignorância geral face a este tema. Mas em ambos os casos estamos longe do sensacionalismo ou do incitamento à xenofobia.

Tens razão que dava jeito que o artigo português explicasse estas e outras coisas - por exemplo que na Alemanha não existe salário mínimo ou que dificultar a entrada de pessoas de fora do espaço Schengen é uma medida inerente à própria ideia do espaço Schengen, com motivações mais pacíficas (impedir a contratação de estrangeiros a preços mais baixos que os dos Europeus contribuindo para uma baixa de salários a médio prazo) e menos pacíficas (impedir que o nosso Estado Social tenha de lidar com a pobreza dos outros. Mandamos-lhes esmolas mas por amor de Deus que fiquem lá nos países deles).

Mas quem leia o primeiro parágrafo do artigo português não pode deixar de perceber que se refere ao valor pelo qual podem ser contratados trabalhadores estrangeiros a partir de agora – pode não se compreender imediatamente de que fala o artigo, como aconteceu à sem-se-ver, mas a leitura que referes, que a mesma pessoa passa a ganhar menos do que o que ganhava é francamente abusiva. A não ser que se seja funcionalmente analfabeto não se pode ler isto no texto. E sim, a vontade de dar largas aos seus preconceitos transforma muitos leitores de jornais respeitáveis em analfabetos funcionais.

Sobre o título alemão: também não vale a pena fazer de conta que é uma medida bonitinha para "levantar obstáculos" aos pobres trabalhadores do terceiro mundo, coitadinhos, é uma medida para que as empresas os possam contratar sem ter de pagar tanto, e que só será aprovada porque se trata de uma necessidade económica real. O título do FTD também não é “esclarecedor”, é político e altamente ideológico.

Se o jornal fosse social-democrata e não liberal, por exemplo, podia titular antes: “CDU e FDP permitem às empresas ir buscar engenheiros, informáticos e médicos estrangeiros a 2850€ por mês”, o que é claramente inferior ao que ganham agora engenheiros, informáticos e médicos alemães. Era uma perspectiva “esclarecedora” tão legítima como a do FTD.

Anónimo disse...

Não, é uma proposta de lei parlamentar dos partidos que sustentam o governo. Na Alemanha é frequente, porque os grupos parlamentares têm maior autonomia que em Portugal.

Pedro

Rita Maria disse...

@Pedro É verdade que não se falou das eleições regionais da semana passada, mas não é verdade que não existisse um salário mínimo para trabalhadores de fora da UE - e não, não era um limiar mínimo de existência, era mesmo um salário mínimo com poucas excepções (as que referi acima, ou seja, quando uma empresa conseguia provar que não existia um europeu capaz de fazer aquele trabalho). Era um valor mínimo destinado a garantir que a Alemanha não era invadida por trabalhadores sem qualificações, por um lado, e a garantir que as empresas não trocavam trabalhadores qualificados alemães bem pagos por trabalhadores qualificados estrangeiros a metade do preço, por outro.

Sobre a Agenda 2010, sejamos sérios: se um partido social-democrata em conjunto com uns verdes aprovar medidas liberais, elas não deixam de ser medidas liberais para passar a ser medidas sociais-democratas. De contrário Portugal era a Suécia.

Rita Maria disse...

(li agora a notícia nova - está bastante mal escrita e acho que já não se percebe bem que o valor referido se refere aos contratos que as pessoas vão assinar à Alemanha e não ao que auferiam no país de origem, como sugere a ideia de "prova de rendimentos". Aliás esta frase é francamente enganadora e acho mesmo que eles estão enganados: "Para os profissionais muito requisitados na Alemanha, como engenheiros, informáticos e médicos, salário anual mínimo a partir do qual poderão obter um visto para trabalharem no país será reduzido até aos 34.200 euros anuais, fazendo com que mais profissionais se possam candidatar." )

Helena Araújo disse...

Interessada,
anteriormente, uma empresa tinha de pagar a um não europeu pelo menos 5.500 euros por mês para o poder contratar. Mesmo que fosse para fazer um trabalho que qualquer alemão faria por, digamos, 2 mil euros por mês.
E isso não é porque o não europeu fosse extraordinariamente excelente, mas porque a lei alemã não permitia que se contratasse um não europeu abaixo desse preço.
Ora, isso não quer dizer que o não europeu agora recebe um preço pouco justo pelo seu trabalho, mas que antes o preço do seu trabalho estava empolado artificialmente (e, já agora, injustamente - se comparado com o dos trabalhadores europeus)

Anónimo disse...

Preconceito: o FTD é europeísta tem como referência a religiosidade europeísta, na versão social-democrata de Wolfgang Münchau. O seu colunista principal é um federalista furioso e tem diverso discípulos de Münchau em posição importante. Liberal, no sentido em que não é marxista, sim.


Pedro

Rita Maria disse...

Liberal, no sentido em que tende a favorecer a liberalização do mercado de trabalho e no sentido em que tende a favorecer uma actuação mais livre das empresas no geral.

Nem tudo, Pedro, se explica pela dicotomia europeísmo/não-europeísmo.

Helena Araújo disse...

Rita,
tu achas que engenheiros, informáticos e médicos alemães recém-licenciados começam a ganhar muito acima de 2850€ por mês?
Aquele valor é um valor mínimo. Não quer necessariamente dizer que um médico ucraniano com vinte anos de experiência e falando perfeitamente alemão se tenha de sujeitar a isso. E não tem: a Inglaterra e a Irlanda pagam incrivelmente mais.

Rita Maria disse...

Se acho que no início de carreira ganham isso: sei que às vezes no início de carreira ganham mais que isso; Se acho que é isso que vai acontecer: não necessariamente mas em parte. Se esse salário nunca viesse a concretizar-se, então a medida era inútil.

Mas não era isso que eu queria dizer, o que queria fazer era 1)explicar a origem da medida original a quem andava confuso nesta caixa de comentários e achava que ela era absurda; 2)demonstrar que a perspectiva do FTD estava longe de ser esclarecedora e neutra, daí uma possibilidade de título alternativo também ele com uma carga ideológica grande. Um título mais ou menos neutral seria "Proposta da CDU e do FDP facilita contratação de estrangeiros de fora da UE".

Helena Araújo disse...

Rita,
num ponto não cedo: usar a expressão "salário mínimo dos não europeus" é um abuso que induz em erro e faz pensar que os alemães roubam direitos aos estrangeiros com menos poder.

Quanto ao resto do que dizes, vou parecer o cão dos meus avós na parte de trás do carro, sempre a abanar a cabeça que sim, que sim - excepto numa ou outra curva, que não.

Sim: falta de contexto, as coisas muito mal explicadas, a possibilidade de os salários médios alemães baixarem (embora não tenha a certeza se isto é bom ou mau: se há quem faça o mesmo trabalho igualmente bem por metade do preço, porquê impedir essas pessoas de virem ocupar esses lugares? Sim, sei: contra os meus interesses falo).

A frase enganadora de que falas: sim, também tropecei nela. Isto só pode fazer sentido se for a pensar em "ajudantes" e "aprendizes" - por exemplo, informáticos recém-licenciados e que não falem alemão, e que só podem fazer alguns trabalhos sob a tutela de colegas mais experientes.
Não sei de que outro modo se podia entender. Porque não faz sentido nenhum imaginar que os médicos e informáticos não europeus só concorrem a lugares na Alemanha se estes forem realmente muito mal pagos...

Quanto à tua proposta de título: sim! sim!
(já pensaste ser jornalista? hihihi)

Interessada disse...

Helena

Eu percebi qual a intenção e não concluo que o estranjeiro passe a ter um salário injusto.
O que me parece é que fica aberta uma porta para baixar o salário, o que será uma tentação.
Ainda não estou esclarecida é quanto ao paralelismo com o trabalhador alemão.
A minha dúvida é esta: a Lei facilita ou não de forma inequívoca o pagamento de um ordenado inferior ao estrangeiro, para trabalho de qualidade idêntica?

Helena Araújo disse...

Que seria de mim sem o meu marido alemão? :-)

Ele acabou de chegar a casa e explicou que:

1. é absolutamente proibido dar remuneração diferente a pessoas que fazem o mesmo trabalho. Mas se uma pessoa que não fala alemão precisa de mais tempo e de mais atenção dos outros, pode receber menos.

2. Esse valor de 35 mil pode ser para atrair ao mercado de trabalho pessoas para trabalhar a meio tempo - por exemplo, para dividir um consultório médico.

Rita Maria disse...

Acordemos a coisa assim: induz em erro se a pessoa depois não ler a notícia mas só induz em erro sério (cambada de xenófobos!) se a pessoa quiser muito.

(quanto à última notícia, acho que a única explicação possível é que eles realmente perceberam mal e não sabem do que estão a falar. "Limite mínimo para a prova de rendimentos"? Mais, a parte dos vistos continua errada! Achas mesmo que esta segunda notícia é melhor?! É mais branda, mas factualmente menos correcta)

Helena Araújo disse...

Está bem, Rita. Parece-em que é uma boa plataforma de entendimento.
:-)

Acho que esta segunda é melhor, sim, porque apesar de continuar a ter incorrecções, mudou substancialmente a informação contida no título e nas primeiras frases e já não leva a ter aqueles maus pensamentos contra a Alemanha e a sua Merkel:

"Alemanha facilita vistos para obter mão-de-obra

Limite mínimo de salário anual para conseguir visto para trabalhar no país passa a ser de 44.800 euros (...)"

Rita Maria disse...

Mas Helena, agora fala de coisas que não existiam como proas de vencimento e pessoas que não tinham dinheiro que chegasse para ir trabalhar para a Alemanha...e é tudo mentira, invenção, incompreensão!

Dizer "alemães obrigados a beijar estrangeiros na rua" ou "Merkel adopta um gatinho turco" também nao sugere que os alemães sejam xenófobos, mas estarem incorrectas não é chato?

PS: Clássica progressão de uma discussão entre Rita Maria e Helena Araújo: x, y, x, y, x, y depois Rita está quase a ganhar, depois x, depois y, depois chega o Joachim. Alguém devia estudar porque é que eu gosto dele.

Helena Araújo disse...

Rita, uma coisa é uma notícia com erros. Outra coisa é uma notícia que inspira reacções do género "WTF?" e "no comments".

Quanto ao PS: hehehe

Rita Maria disse...

Desculpa insistir, mas eu acho mesmo grave que se mostre o segundo exemplo como uma melhoria face ao primeiro.

Tu estás a comparar uma notícia 70% verdadeira mas sem contextualização que desperta "WTF" com uma notícia 30% verdadeira com uma contextualização errónea e que não inspira esses sentimentos.

Factualmente, a primeira é má, a segunda é péssima - nós não podemos, mas não podemos NUNCA, aceitar menos verdade em troca de mais benignidade.

É só parar um segundo para pensar no que o teu "está errada mas pelo menos não inspira xenofobia" podia significar se aplicado a lei geral.

Helena Araújo disse...

Rita,
só por causa desta frase
"A alteração, que tem que ver então com o limite mínimo para a prova de rendimentos e não, como por lapso circulou nas agências noticiosas e na imprensa, sobre uma redução do salário mínimo, facilita a vida aos estrangeiros que querem obter um visto para trabalhar e residir na Alemanha."
já há uma brutal melhoria.

Claro que podia fazer-se melhor, porque essa medida não foi feita para facilitar a vida aos não europeus, mas às empresas alemãs., etc.
Mas está muito melhor do que antes. Muito menos mau, pronto.

Eu estou a comparar uma notícia onde praticamente não há uma coisa certa e ainda por cima tem erros gravíssimos que levam as pessoas a pensar que a Alemanha é xenófoba (e mantenho: "salário mínimo" é uma expressão que não se podia ter usado neste contexto, e "salário mínimo dos estrangeiros" é ainda pior - e o próprio jornal se deu conta disso e mencionou o seu erro) com uma notícia onde trocaram os erros "WTF?!" por outros erros mais corriqueiros.

Não é "menos verdade" em troca de "mais benignidade". É "o mesmo número de erros, mas muito menos graves" em troca de "menos insinuações sobre a xenofobia alemã".

E sim, parece-me que um erro "simples" devido à ignorância sobre o assunto é menos grave que um erro que alimenta preconceitos contra um país.

Rita Maria disse...

Pelo contrário, desmontando:"A alteração, que tem que ver então com o limite mínimo para a prova de rendimentos e não, como por lapso circulou nas agências noticiosas e na imprensa, sobre uma redução do salário mínimo, facilita a vida aos estrangeiros que querem obter um visto para trabalhar e residir na Alemanha."

1. "que tem que ver" - no comments.

2. "limite mínimo para a prova de rendimentos" - sugere que dantes existia uma prova de rendimentos o que é absolutamente FALSO. Não havia e continua a não existir uma prova de rendimentos.

3. "não, como por lapso circulou nas agências noticiosas e na imprensa, sobre uma redução do salário mínimo" - há uma redução do salário mínimo, objectivamente, chames-lhe tu o que chamares. Ela pode ser melhor ou pior explicada e deve ser bem explicada ou, no caso, contextualizada, mas trata-se realmente do valor mínimo que uma empresa tem de pagar para empregar aquela pessoa, portanto um salário mínimo no valor clássico do termo sem tirar nem por.

4. "facilita a vida aos estrangeiros que querem obter um visto para trabalhar e residir na Alemanha" - só há duas explicações para esta frase. Ou é altamente ideológica , na linha Passos Coelho, se as empresas puderem pagar menos é mais fácil arranjar emprego, ou quem escreve a notícia acha, no seguimento da ideia de que existiria a tal prova de rendimentos, que há pessoas que dantes não podiam conseguir visto por não cumprirem os critérios e agora podem. E isto é falso e falacioso porque sugere que o que os alemães analisavam não era o contrato de trabalho mas a pessoa, o seu nível social e as suas posses - o que efectivamente se fosse verdade, que não é, era uma senhora insinuação sobre a xenofobia alemã.

Para mim o que aconteceu foi que o jornal fez exactamente aquilo que eu sugeri - preocupou-se em tirar aquilo que sugeria uma interpretação xenófoba mas não verificou nem um bocadinho os factos, nem um milímetro!, aceitando em vez disso como verdadeiras interpretações pró-Alemanha que lhes foram depositadas nas caixas de comentários e que estavam ainda mais erradas que a notícia principal. Ora um órgão de comunicação que escreve mal uma notícia é mau, um órgão de comunicação que ao ver ser necessária uma correção ainda assim não verifica os factos é criminoso.

Helena Araújo disse...

1. no comments, não é preciso ir por aí.

2. parece-me que foi um problema na tradução da notícia original: "Einkommen von 44.800 Euro pro Jahr vorweisen."
Rita, não pode ser que tu deixes passar "salário mínimo" como estás a tentar fazer passar, e ao mesmo tempo aches que esta "prova de rendimentos" é um erro grave. Esta prova de rendimentos não tem de modo algum o potencial explosivo "WTF?!" de um "baixa salário mínimo dos não europeus".

3. Salário mínimo é outra coisa - objectiva, legal e simbolicamente. Houve uma redução do limite inferior do salário de um não europeu que lhe permite obter um visto para trabalhar na Alemanha.

4. Claro que a Alemanha (ou todo o espaço de Schengen?) não quer no espaço europeu pobretas do resto do mundo. Ou que outra explicação tens para esse limite de 66.000 euros anuais?
Aliás, se bem me lembro, a Alemanha começou a deixar entrar pessoas do resto do mundo devido à pressão de uma empresa de software que eu conheço muito bem, e que paga muito bem aos seus informáticos. Às tantas, os contornos desse regulamento para dar "green card" temporário a certos estrangeiros foram desenhados segundo a necessidade das empresas que pressionaram o governo para abrir as fronteiras (aos informáticos indianos, por exemplo). Ou seja: nem a pensar nas posses da pessoa, nem na pessoa em si, mas no perfil dos lugares vagos a preencher. É cá uma intuição que tenho...

Coda: pronto, está bem - neste ponto estamos de acordo. Jornalismo de má qualidade.
Passamos ao assunto seguinte? ;-)

Rita Maria disse...

Passamos. Eu já respondi acima algumas vezes a algumas das perguntas que fazes agora e continuarei a achar para todo o sempre que a correção de uma notícia não pode ser medida nunca pelo seu potencial explosivo.

Boa e má fé aceito, boa e má redação aceito, boa e má contextualização aceito, mas a verdade acima de tudo, acima de todas estas outras questões.

(simbolicamente salário mínimo pode ser outra coisa, objetiva e legalmente não - é o mínimo que uma empresa tem de pagar a uma pessoa. É um termo absolutamente correcto quando aplicado a esta realidade - não é correto quando se refere o salário mínimo dos estrangeiros não referir que não há salário mínimo para os alemães, mas o termo é este. Salário mínimo)

Helena Araújo disse...

Passamos a outro tema, e atiramos uma moedinha ao ar para ver quem ganhou este?
Queres cara ou coroa?

Interessada disse...

@Helena "Claro que podia fazer-se melhor, porque essa medida não foi feita para facilitar a vida aos não europeus, mas às empresas alemãs., etc. "
ah!a ideologia não perdoa ;)

Helena Araújo disse...

Pois não, Interessada.
É a nossa Europa. Vê-se bem na costa da Itália, ou às portas de Melilla.

Rita Maria disse...

Não, encerramos aqui, eu já disse tudo o que tinha a dizer, algumas partes várias vezes :)

Anónimo disse...

A Helena tem razão no fundamental. O tema que ela escolhe é a distorção de uma notícia que visa criticar um país e o seu governo, cujo conteúdo não tem fundamento. Não é a qualidade nem a mediocridade do jornalismo que estão em apreço, embora isso se possa discutir depois e também tenha pertinência.Para mim o primeiro é o mais importante. Na verdade, afirma-se que foi retirado um direito aos trabalhadores, e que a supressão desse direito diz respeito apenas aos estrangeiros de fora de EU. Ora, não é nada disso que se passa. É o contrário. Estas regras nem se aplicam a todas as pessoas de fora da EU mas apenas às que são oriundas de países que carecem de vistos, em alguns casos por imposição alheia que obrigam a reciprocidade (EUA). Os turcos e as pessoas das repúblicas da ex-Jugoslávia não se regem por estas regras e representam a maioria dos estrangeiros que vivem na Alemanha.
Os motivos de falseamento da informação podem ser muito distintos: má vontade (a distorção apressada de quem nem verifica a informação, como sucedeu na conversa com Schäuble), má fé, falta de compreensão, ignorância, insuficiente investigação. A má fé e a má vontade são bem piores que a ignorância, pela intencionalidade da falsificação. Esse parece-me ter sido o motivo de escolha da Helena. Quando se oculta o resultado das eleições no Sarre e se publicita qualquer resultado anterior (que não significam grande coisa para Merkel) existe má fé, distorção com dolo, quando se insinua que houve um plano liberal para acumular excedentes comerciais num passado ignoto, ocultando intencionalmente que foi um governo de esquerda que o concretizou, isso é má fé.
Poe exemplo,no blogue Ladrões de Bicicletas (que não dá notícias, mas opina) faz-se isso sem ser por desconhecimento. De resto, nesse blogue, apenas Jorge Bateira tem compreensão que a importância que a moeda tem para a Alemanha é um adquirido político, construído na e pela história do pós-guerra e não depende do Ordo-liberalismo, cantilena ignorante que todos os restantes restantes repetem. Um bocadinho menos de ideologia e mais descrição honesta também seria importante no jornalismo.

Pedro

Helena Araújo disse...

Olhem para isto: finalmente um homem que me compreende!
( ;-) para o Pedro)

Obrigada por este comentário, Pedro, e sobretudo pela sua clareza.

Só um pequeno detalhe: eu não escolhi o tema - eu fui atropelada por ele! Se fosse falar sobre a falta de qualidade do jornalismo, nunca mais fazia outra coisa. Mas ver esta mentira descarada sobre um parceiro europeu foi mesmo demais.