16 fevereiro 2012

do trapézio, sem rede

Via Rui Bebiano, cheguei a um blogue que se apresenta como "poesia passada para português".
Agarrem-me, parece-me que apanhei mais um vício.
Só para terem uma ideia de como é um caso sério, copio para aqui o post mais recente:

Terça-feira, 14 de Fevereiro de 2012

Berta Piñan

Lição de gramática



Como se diz em ouolof a palavra fronteira, a palavra
pátria? E em soniké, como designareis o desamparo?
Se quiserdes dizer em berbere, por exemplo, "eu tive uma casa
num arrabalde de Rabat", poreis a frase nesta ordem? Como
se conjugam em bambara os verbos que conduzem ao norte,
que adjectivos se devem acrescentar à palavra mar, à palavra morte?
Se tiverdes de partir, a palavra adeus será um substantivo?
Como se pronuncia em diakhanké a palavra exílio? Há que
juntar os lábios? Doem? Que pronomes usais para aquele que espera
na praia, para o que regressa sem nada? Quando apontais para além, no sentido
de casa, que advérbio escolheis? Como se diz na vossa, na nossa língua
a palavra futuro?



(Versão minha; o original pode ser lido algures por aqui, na p. 14. Notas: 1) A versão que apresento parte do original asturiano e fez-se sem recurso a dicionário; a proximidade do asturiano com o castelhano e com o próprio português permitiu-me correr o risco calculado de tentar a transposição para o português. 2) Ouolof (palavra de ressonâncias herbertianas), soniké, berbere, bambara e diakhanké são línguas faladas por diferentes populações ou grupos étnicos de várias regiões do continente africano (do Norte, do Centro ou da África Ocidental - por exemplo, em países como o Mali ou o Senegal...). 3) Por último, com esta versão deste poema extraordinário, desejo agradecer esta tradução de um outro poema extraordinário. E, se possível, retribuir.)

2 comentários:

António Carlos disse...

E este, Helena, conheces?

http://www.poesiailimitada.blogspot.com/

Helena Araújo disse...

Agora, sim!
Obrigada.