19 novembro 2011

um requiem para os arménios vítimas do genocídio

Tigran Mansurian, um cristão arménio, compôs este ano um requiem, a convite do RIAS Kammerchor e da Münchener Kammerorchester, que hoje será apresentado pela primeira vez ao público na Filarmonia de Berlim. O compositor dedicou-o às vítimas do genocídio no qual ele próprio perdeu uma grande parte da família.

No mesmo concerto ouvir-se-á também o requiem de Mozart, na versão de Robert D. Levin.
Este novo requiem pretende oferecer ao de Mozart um eco e contraponto. O resultado é uma peça sublime, fora do nosso mundo e do nosso tempo, dialogando ora com Mozart ora com a tradição musical arménia. Toda a composição é espantosa, mas fui tocada especialmente pelo Agnus Dei: a fragilidade de um cordeiro completamente à mercê do seu destino.

O concerto será transmitido amanhã pela Deutschlandradio Kultur (entrar no link, e escolher uma das possibilidades na coluna da direita, na caixa live-stream) às 20:03 (19:03 em Portugal). O requiem de Mansurian vem na primeira parte, o de Mozart na segunda.

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Hoje assisti ao ensaio geral do requiem de Mansurian sentada atrás do compositor.
Vi-o agitar-se ao som da música, uma ou outra vez a sua mão tremeu emocionada sobre a partitura. No fim, levantou-se a aplaudiu coro e orquestra. Mas logo parou, tímido. Chamaram-no ao palco, havia passagens que ele devia esclarecer. Vi-o trabalhar com o maestro, vi-lhe a mão que dançava, ouvi a sua voz cantar o que sonhara. O maestro continuou o trabalho, ele voltou para o seu lugar, mostrou às acompanhantes as passagens onde havia dúvidas. No fim do trabalho, foi aplaudido pelos músicos.
E eu, ao pé dele: emocionada e grata.

Às vezes penso, com uma certa nostalgia: como teria sido ouvir a criança Mozart tocar piano, assistir a uma aula de piano de Liszt, ver Mahler a dirigir uma sinfonia sua? E depois caio em mim, e dou-me conta que estas coisas me acontecem hoje, no meio da minha vida.

Pude falar com o compositor, agradecer-lhe e dizer o quanto a sua obra me tinha emocionado. Ele é uma pessoa simples e afável, abre um sorriso que lhe inunda os olhos. Dissemos toi-toi-toi para a estreia esta noite, e rimo-nos com as variações: tu-tu-tu em arménio, tssu-tssu-tssu em russo (será? tentaram várias vezes ensinar-me, mas eu pronunciava sempre muito mal). Perguntei se podia publicar fotos que fiz dele, e ele disse que era uma honra. E sorriu de novo.

 

3 comentários:

sem-se-ver disse...

obg pelo link, vou pôr lembrete para nao me esquecer!

cjs disse...

Quando hoje me contaste, entusiasmada, o que me esperava à noite, pensei para comigo: entre Mozart e Mansurian só me fala do segundo?
Depois percebi. Realmente, assistir a um concerto na presença do compositor é outra coisa. Dez minutos de ovação contínua, diversas subidas ao palco - nas quais o senhor tropeçou e quase caiu, tal era a emoção - o abraço longo e sentido ao maestro, a distribuição pelas violinistas dos ramos de flores que lhe deram, uma plateia inteira rendida a um momento único e histórico.

Já o Mozart, esse, nem se dignou aparecer no final. Dizem que é da fama.

Gi disse...

Vou tentar ouvir, obrigada pelo link.