24 novembro 2011

será isto o futuro?

Já aqui falei de um post no blogue ninguém sai daqui vivo, onde se conta de um português que trabalha 10 a 12 horas por dia e que mesmo em férias é acordado bem cedo para ajudar a resolver problemas da empresa.

Hoje, dia de greve geral em Portugal, recordo-o para acrescentar que conheço muitas pessoas na Alemanha que trabalham a esse ritmo. Parece que é o futuro, o admirável mundo novo. Ou se está disposto a fazer o trabalho de dois, ou se fica no topo da lista do borda-fora. E depois ficam muito admirados por o número de casos de burn out estar a crescer assustadoramente. 

Quando vim viver para cá, há vinte anos, não era preciso trabalhar mais do que oito horas por dia para ter direito a ganhar muito bem. Na primeira empresa em que trabalhei, todos os minutos dados a mais eram somados e convertidos em dias de férias. Todos os minutos.
Agora, os contratos de trabalho são feitos com isenção de horário.


Uma amiga (que trabalha na Alemanha) contou-me que espera ser despedida por volta dos cinquenta anos, porque está a ficar demasiado cara à empresa. Ao que parece, os quadros intermédios de algumas empresas correm o risco de ser despedidos por volta dessa idade. Recebem uma indemnização, vão para o desemprego. De longa duração, pois: quem emprega pessoas de cinquenta anos?

Conheci na região da antiga RDA um americano cuja função era "tirar gorduras às empresas" para as vender depois por bom preço. Empresas alemãs, numa região com graves problemas de desemprego.
Contou-me que a responsável do sector de pessoal (uma alemã, obviamente, daquelas que considera que "a responsabilidade social do capital" é um valor fundamental desta sociedade) protestou por ele querer despedir um pai de família, uma senhora de 55 anos, pessoas assim. E ele terá comentado, a rir: "você trabalha para os sindicatos ou para mim?"
Ela trabalhava para uma ideia da Alemanha que até há poucos anos estava generalizada e era indiscutível.

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