25 novembro 2011

observadores passivos

Numa reunião de pais (da Jenaplan de Weimar, a tal escola que educa para a Democracia, e para a participação, e tal) combinou-se irmos todos assistir a um jogo de futebol num bar. Um dos pais, vietnamita, disse: "eu, nesse bar, não entro". Neonazis.
Então escolheu-se outro bar, para ele poder entrar.

Somos todos observadores passivos?

Quanto mais olho para o que acontece na minha vida, menos vontade tenho de atirar pedras aos telhados dos alemães que aqui viviam nos anos 30.
(E antes de cederem à tentação de me virem atirar pedras a mim, arranjem um espelhito, nunca se sabe...)
(Por acaso estava agora a lembrar-me de amigos meus em Portugal: ele tem a pele clara e ela tem a pele escura. Lembro-me de andarmos à procura de um restaurante, e ser ele a entrar para ver se havia mesa para o grupo, porque se fosse ela a perguntar era provável que não houvesse.)

2 comentários:

Anónimo disse...

Helena, parece-me que podemos perder de vista a ruptura que o terrorismo político representa com a lógica do quotidiano. A sua irrupção não é um indício de que a água esteja a aquecer, pode ser um indício do contrário: a radicalização desesperada de quem começa a perceber que o dia D não chegará. O terrorismo é muitas vezes o resultado de uma lógica política autista. É o caso. O terrorismo político combate-se com a repressão. O estado tem os meiso suficientes e vai aplicá-los. Como fez depois de 2001 com o terrorismo islâmico. Distingamos o aspecto humano do político.
Provavelmente, a Helena subestimou o que havia na Turíngia por saber que se trata da mistura de uma sub-cultura juvenil- agressiva e provocatória - que atraia acima de tudo o "lumpem" da sociedade. É na cena rock e no hooliganismo associado ao futebol que ele tem expressão cultural.
Provavelmente a Helena não queria cultivar o estigma que pudesse etiquetar esses jovens. O mesmo se passa com os salafitas de möenchengladbach, dirigidos por um ex-pugilista alemão que se converteu ao islamismo. Ele defende a pena de morte para os homossexuais em público. Em Frankfurt perante mais de mil jovens.O discurso e a atitude são assustadoras. Há quem hesite em tomar posição por causa do estigma que isso pode trazer. Não será por simpatia.
Penso que é importante distinguir os diversos planos de consideração num fenómeno deste tipo.


Pedro

Helena Araújo disse...

Pedro,
Não quer ter um blogue? O que escreve é sempre muito interessante!

No caso: o que me preocupa é como nós convivemos pacatamente com sinais de grave degradação na nossa sociedade. Há um café onde um asiático tem medo de entrar, porque pode levar uma tareia, e ninguém faz nada. Ninguém se dá conta que isto é pura e simplesmente inaceitável, e que é preciso impedir isso. Concretamente: não pode haver café algum onde um estrangeiro tenha medo de entrar.
Ainda não são terroristas, são "apenas" homens jovens que se juntam para bater em estrangeiros, só porque estes se lhes atravessaram no caminho. Penso que o combate a este fenómeno é diferente do combate ao terrorismo. E mais difícil: a sociedade reage contra assassínios e bombas com mais repugnância que contra estas manifestações de gratuita agressividade contra estrangeiros.

Não tenho problema nenhum em "etiquetar" esses simpáticos jovens. Não é para os proteger que não faço nada - é para não me incomodar: prefiro ficar no meu mundo confortável. O asiático que vá a outro bar...