18 setembro 2011

Russendisko (3)

Sobre Wladimir Kaminer, autor do meu mais divertido material de tradução, unanimemente proclamado pelas leitoras deste blogue (enfim, a que se pronunciou sobre este tema) como sendo "parecido com o George Clooney, mas mais bonito", de uma recensão na amazon.de:


Quando, no verão de 1990, a era Gorbatschow se aproxima do fim e Putin ainda não é presidente, mas um mero esbirro da KGB, na altura em que Helmut Kohl se catapulta para a História, um moscovita de 23 anos chamado Wladimir Kaminer decide mudar de vida. "Go West" é o lema - mas porquê procurar a distância, se o bilhete para Berlim-Leste custa apenas 96 rublos e não exigem vistos aos russos? E é assim que Kaminer se enfia no seu fato domingueiro azul celeste e entra num comboio, com o seu amigo Mischa, um pacote de cigarros russos e uma garrafa de vodka da marca "Adeus!". Do swidanija! Quarenta e oito horas mais tarde encontram-se, com uma ressaca, em Berlim-Lichtenberg: "Os primeiros berlinenses que conhecemos eram ciganos e vietnamitas. Ficámos logo amigos." Longe vão esses dias no centro de estrangeiros em Marzahn. Hoje, Wladimir Kaminer - o DJ, escritor e homem do teatro - é uma das estrelas no novo cenário multi-culti de Berlim. O jornal FAZ publica os seus textos nas "Páginas de Berlim" com tanto gosto como o taz, esse jornal ameaçado de extinção; e até na rádio: Kaminer modera um programa na SFB (O mundo de Wladimir). No Café Burger, que se tornou um agradável local de festas após ter sido tomado por Bert Papenfuß, o poeta de Prenzlauer Berg, Kaminer celebra mensalmente a sua "Russendisko" de má fama - o entendimento entre os povos e a internacional dos proletários, em tempos pregados por Wladimir Iljitsch Lenin, são experimentados na pequena superfície de dança, enquanto um beamer projecta  velhos desenhos animados e filmes de guerra soviéticos no papel de parede florido.
Russendisko foi o nome que Kaminer deu ao seu primeiro livro: 50 pequenos contos do quotidiano berlinense, que os suspeitos habituais do "Paris Bar" só conhecem de ouvir falar. Quem quer sobreviver aqui, tem de ser flexível: os turcos do stand de comidas da frente são afinal búlgaros, o funcionário certinho da repartição de emprego aparece à noite no bar de gays - e mesmo os contrabandistas de cigarros vietnamitas não são mais que um cliché criado pelos media: a maior parte deles vem do centro da Mongólia. Os heróis de Kaminer andam imensamente ocupados a tentar desenvencilhar-se na selva da cidade, por entre armadilhas do direito de asilo, intrigas amorosas e trabalhos obscuros. Por exemplo, Sasha, o estudante de línguas eslavas, que lava pratos no restaurante australiano de bifes de crocodilo; ou o "médico da rádio" ucraniano, que explica aos russos berlinenses o que podem fazer contra as borbulhas: "Eles falam em Clerasil, mas eu lembro-vos que a gasolina também resolve o problema." Não faltam as damas do sexo por telefone ("Desaperta as calças, vamos nostalgiar juntos!"), nem o anónimo requerente de asilo que, ao ver-se perseguido pela polícia, salta por uma janela providencial e desce por um cartaz dos Republicanos ("Coragem para escolher - vota nacional!").
Quem, ao ler estes relatos, conclui que Kaminer não passa de um farsante cínico, não percebeu nada. Para além de ser um excelente observador, Kaminer ama os seus estranhos índios da grande cidade, esses que levam muita pancada da vida mas nunca perdem a esperança. E, cá para nós: quem, como Kaminer, escreve não apenas em alemão, mas marrou esta língua pela cartilha soviética "O alemão dos alemães para autodidactas" - não pode ser um mau escritor, ah, que digo eu: não pode ser má pessoa. Portanto: compre Kaminer! E faça o que um guia turístico russo recomenda aos seus leitores como o máximo da emoção em Berlim: "Hasteie a sua bandeira pessoal no novo Reichstag - viver e conquistar Berlim!" 

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