Li-o, muito contente por ele, mas também cheia das questões que este post me suscita: como se terá soltado o cérebro do Idílio enquanto as pernas libertavam o veneno láctico? Como é que as imagens dos que lhe são próximos terão passado por um crivo estreito, um líquido revelador, um escrutínio que não convocámos, nem desejámos? E será que, no final dessa viagem, se sente outro, tão distante do ser ingénuo que iniciou a pedalada? (*)
Um dia destes pergunto-lhe. Ou arranjo quem lhe pergunte, que a insularidade de Berlim atrasa-me muito estas conversas.
(*) Espero que tenham reparado que estava a parafrasear o Luís Januário.
Terça-feira, 6 de Setembro de 2011
Ushuaia, por fim o fim...
Ushuaia, 06 de Setembro de 2011
Por fim, o fim... Treze meses e meio depois, trinta mil quilómetros percorridos, mil novecentas e quarenta horas a pedalar, cheguei a Ushuaia, “a cidade mais austral do mundo”, como se auto-intitula. Não era um sonho, como tantos me foram perguntando ao longo do percurso; tão pouco era uma “missão”; muito menos uma obsessão. Era tão-somente o desejo de viver a vida com intensidade, para além do quotidiano e da rotina, para além do estereótipo ocidental: nascer-estudar-trabalhar(“carreirar”)-reformar-se-morrer; de conhecer para além da porta de casa, do jornal, da revista, do documentário, da imagem trabalhada, seleccionada, “censurada”; de sentir. De viver outras vidas na minha própria vida. E não me desiludi, nem por um momento lamentei a decisão e estou absolutamente seguro de ter tomado poucas decisões tão acertadas na vida. Vivi muito nestes “poucos” meses. Sinto ter vivido mais de uma vida neste pouco mais de um ano. Vivi cada dia – não digo cada hora, para não exagerar nem parecer exagerado – mas senti-me transbordar tantas vezes… e nesses momentos gritava, cantava, assobiava, gargalhava, insultava, pedalava desabridamente até sentir os músculos arderem de esforço, e sentia-me flutuar, transcender-me, violar as regras físicas e pertencer a outro universo – estava louco, louco com o prazer de ser livre e poder ser louco; louco por existir, ter plena consciência de existir, sentir o prazer de existir e o sabor único da vida. Mas esta viagem não passaria de um efémero desfile de (belíssimas) paisagens e quilómetros, sem a marca profunda, tantas vezes emotiva e indelével de largas dezenas de crianças, mulheres e homens com quem me cruzei. Não os vou buscar para este epílogo, mas enquanto escrevo, os seus olhares desfilam no meu olhar; as suas vozes soam aos meus ouvidos; a sua tristeza ou alegria, pesam-me na alma – é nestes momentos que gostava de crer na vida para alem da morte, e poder esperar reencontrar cada olhar, cada voz, cada sorriso, especialmente os tristes, cada mão que apertei, cada abraço que partilhei. A todos os que me cumprimentaram, acenaram, buzinaram, deram sugestões e informações – umas vezes certas, outras erradas mas, estou seguro, sempre bem intencionadas; a todos os olhares, sorrisos, calorosos abraços, intensos apertos de mão, amistosas conversas, votos de boa viagem, boa sorte, êxito; a todos os que me acolheram, alimentaram, abriram a porta de casa e até das próprias vidas; a todos, um enorme e fraterno abraço e um eterno obrigado. A todos os que tiveram paciência para, por mais de 110 000 vezes, so far, “provar” do bacalhaudebicicletacomtodos e, em especial, aos que foram deixando lisonjeiros e estimulantes comentários, um enorme obrigado. Aos meus amigos, não preciso de lhes agradecer – por isso somos amigos… À minha família, agradecerei pessoalmente.
Sem tapete vermelho... P.S. a viagem chegou ao fim, mas ainda há mais duas ou três receitas para os interessados em bacalhau: norte do Chile, centro do Chile(?) e Argentina… estão praticamente concluídos.
Por fim, o fim... Treze meses e meio depois, trinta mil quilómetros percorridos, mil novecentas e quarenta horas a pedalar, cheguei a Ushuaia, “a cidade mais austral do mundo”, como se auto-intitula. Não era um sonho, como tantos me foram perguntando ao longo do percurso; tão pouco era uma “missão”; muito menos uma obsessão. Era tão-somente o desejo de viver a vida com intensidade, para além do quotidiano e da rotina, para além do estereótipo ocidental: nascer-estudar-trabalhar(“carreirar”)-reformar-se-morrer; de conhecer para além da porta de casa, do jornal, da revista, do documentário, da imagem trabalhada, seleccionada, “censurada”; de sentir. De viver outras vidas na minha própria vida. E não me desiludi, nem por um momento lamentei a decisão e estou absolutamente seguro de ter tomado poucas decisões tão acertadas na vida. Vivi muito nestes “poucos” meses. Sinto ter vivido mais de uma vida neste pouco mais de um ano. Vivi cada dia – não digo cada hora, para não exagerar nem parecer exagerado – mas senti-me transbordar tantas vezes… e nesses momentos gritava, cantava, assobiava, gargalhava, insultava, pedalava desabridamente até sentir os músculos arderem de esforço, e sentia-me flutuar, transcender-me, violar as regras físicas e pertencer a outro universo – estava louco, louco com o prazer de ser livre e poder ser louco; louco por existir, ter plena consciência de existir, sentir o prazer de existir e o sabor único da vida. Mas esta viagem não passaria de um efémero desfile de (belíssimas) paisagens e quilómetros, sem a marca profunda, tantas vezes emotiva e indelével de largas dezenas de crianças, mulheres e homens com quem me cruzei. Não os vou buscar para este epílogo, mas enquanto escrevo, os seus olhares desfilam no meu olhar; as suas vozes soam aos meus ouvidos; a sua tristeza ou alegria, pesam-me na alma – é nestes momentos que gostava de crer na vida para alem da morte, e poder esperar reencontrar cada olhar, cada voz, cada sorriso, especialmente os tristes, cada mão que apertei, cada abraço que partilhei. A todos os que me cumprimentaram, acenaram, buzinaram, deram sugestões e informações – umas vezes certas, outras erradas mas, estou seguro, sempre bem intencionadas; a todos os olhares, sorrisos, calorosos abraços, intensos apertos de mão, amistosas conversas, votos de boa viagem, boa sorte, êxito; a todos os que me acolheram, alimentaram, abriram a porta de casa e até das próprias vidas; a todos, um enorme e fraterno abraço e um eterno obrigado. A todos os que tiveram paciência para, por mais de 110 000 vezes, so far, “provar” do bacalhaudebicicletacomtodos e, em especial, aos que foram deixando lisonjeiros e estimulantes comentários, um enorme obrigado. Aos meus amigos, não preciso de lhes agradecer – por isso somos amigos… À minha família, agradecerei pessoalmente.
Sem tapete vermelho... P.S. a viagem chegou ao fim, mas ainda há mais duas ou três receitas para os interessados em bacalhau: norte do Chile, centro do Chile(?) e Argentina… estão praticamente concluídos.
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