Corria o ano de 1961 quando deram a um certo violinista da RDA o lugar de primeiro violino numa orquestra importante daquele país. Contente e orgulhoso, foi fazer férias com a família na Alemanha Ocidental, onde foram surpreendidos pela notícia da construção do muro. "Regressamos? Não regressamos?" - regressaram, porque a vida deles e o honroso lugar de primeiro violino era do lado de lá. Mas ficaram ainda uma semaninha na Alemanha Ocidental, a gozar a vida tal com tinham planeado. No fim das férias, ao entrar em casa, deram-se conta que os vizinhos já tinham dividido entre eles todo o recheio. Ninguém seria capaz de imaginar que eles voltariam. Mas foram simpáticos, devolveram tudo e pediram desculpa.
Anos mais tarde a filha desse músico teve um namorado com quem discutia imenso sobre política. Ele era pró-regime, ela era extremamente crítica. Uma relação impossível - disse-lhe ele, o mais delicadamente que soube - por incompatibilidades políticas.
Ela acabou por casar com um pastor protestante, a família foi perseguida segundo todas as normas vigentes da ideologia. A sensação de cerco e claustrofobia aumentou de tal modo que fizeram o pedido para poderem emigrar para a RFA. Obtiveram-no, e saíram legalmente do país três anos antes da queda do muro.
Há tempos, foi ver o seu dossier nos arquivos da Stasi. Descobriu que o antigo namorado era informador da Stasi, e sobre ela escrevera: "Tentei repetidamente iniciar conversas sobre temas políticos, mas não mostrou qualquer interesse. Não vale a pena perder tempo com ela, é completamente apolítica."
Ah, o amor!
8 comentários:
Ó, que bonito!
É mesmo uma belíssima história de amor. E triste.
Ela agora anda a pensar escrever-lhe, para agradecer.
Não sei porque é que ainda não o fez.
Que história tão bonita! :))))
Quem sabe não se encontraram já no Facebook?
(um antigo namorado meu, suíço, descobriu-me através do Skype há uns anos)
:))))
Não sei se seria amor -- num dia em que me sentisse mais romântico, não duvidaria nem por um segundo --, mas lá que é uma bela história, isso é. E num dia mais propenso ao romance até escreveria: sabe-se lá como irá terminar essa história -- é que a vida dá cada volta...
Muito bonita, de facto.
Achas triste, Helena? Porque o rapaz não ficou com a rapariga?
Podemos esperar que tenha encontrado outra pessoa que o tenha feito feliz. Porque apesar de tudo ele tinha razão, a incompatibilidade política existia e a coisa não resultaria - ainda iam ambos presos.
Teresa,
ela talvez não o queira encontrar.
Carlos Azevedo,
se calhar é por isso mesmo que ela não lhe escreve: para a vida não dar uma volta que ela não queira...
Gi,
acho triste, sim, porque ele lhe fez um enorme presente (correndo riscos: o pessoal tinha de apresentar trabalho!) sem a menor esperança de que ela viesse a saber.
o coraçao tem razões... etc
muito bonito
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