Esta semana o Matthias está a fazer o estágio numa empresa, como é obrigatório no seu ano (contei aqui e aqui). Decidiu que queria estagiar na área de engenharia, perguntou aos primos engenheiros o que recomendavam, e eles indicaram um gabinete berlinense que tem muito boa fama.
Informou-se, telefonou, concorreu, insistiu - deram-lhe o lugar.
Tem trabalhado seis horas por dia, e mostra-me todo orgulhoso o projecto: vários edifícios, este é o Bismarck, este é o Palais, este é o andar que eu calculei hoje.
Está a calcular o betão necessário para as estruturas. No princípio tinha de fazer tudo manualmente, mas agora ensinaram-no a trabalhar com CAD, o que torna o processo muito mais rápido e eficiente.
- Acho admirável que as empresas tenham tempo para gastar com miúdos da vossa idade, comentei eu.
- Porquê?! Faço-lhes o trabalho de graça!, respondeu ele, muito zangado.
Digo então aqui, muito baixinho para ele não ouvir: apetecia-me ir àquela empresa dar beijinhos a todos, especialmente ao Alexander que é o seu tutor, e mais ao português simpático que trata dos computadores, porque lhe ensinam imenso e sobretudo sobretudo porque lhe dão a sensação de ter valor e ser útil.
E se calhar percebi alguma coisa mal, porque o Alexander já lhe ofereceu um emprego de Verão. Ao meu rapazinho de 14 anos.
13 comentários:
Isso é porque o teu filho aprende a trabalhar com CAD em tao pouco tempo. Poh, estou de boca aberta...
Sabes que eu sou fã do Matthias.
Pois...isto só prova as qualidades de trabalho do Matthias, não a responsabilidade social do capital. Mas podes sempre tentar reunir mais algumas provas, Helena hehehe.
Estou a imaginar a minha filha mais velha (13) a chegar a casa igualmente encantada porque conseguiu fazer uma montagem de fotografias sequenciais, ou a entrevistar uma actriz portuguesa, daquelas que ela admira... será que aqui as oportunidades surgem assim tão cedo?!...
(Parabéns, Mãe!)
Paulo: chega-te para lá.
De resto: grande Antuérpia, a recontextualizar aqui de forma inequívoca a luta de classes. Eu e o Marx do corredor saudamos-te com estima e consideração.
Rita, Antuérpia: pois é. Se calhar eu só vejo nele um rapaz de 14 anos, e o pessoal lá do gabinete está todo contente com a sorte grande que lhe saiu. Assim de repente lembro-me de quando engarrafamos vinho na quinta do Douro, e da admiração da chefe pela maneira super-eficiente como o Matthias organiza o seu trabalho de etiquetagem.
Hoje disse-lhe que no último dia devia levar um bolo, e ele respondeu que espera que a empresa também lhe dê um bolo a ele. Ahem, acho que este gajo não vai ser nunca da geração à rasca.
Paulo, se já vou dar à Rita uma foto autografada, arranjo também uma para ti, queres? ;-)
Qual preferes: ao piano, ou a jogar à bola num parque de campismo de navajos, sob o imenso céu do Southwest?
SofiAlgarvia,
pois é: tão importante dar aos miúdos autoconfiança!
Rita, queres uma dele ao piano ou uma dele a jogar à bola ou então aquela fatal dele a fazer saltos mortais no trampolim cheio de neve?
Qualquer uma me serve, mas essa última não. Arrepia-se-me o coração.
Olha que a Christina só fez fotos do "antes"... ;-)
Se me lembro daquela noite... quatro horas a inventar histórias divertidas para o distrair, tentado abstrair da cara inchada e da roupa cheia de sangue.
E ele a brincar: "hoje ao almoço chateei-me por ter feito uma nódoa de molho de tomate na camisola, mas agora por sorte já não se nota..."
omd, isso do trampolim deve ter doído (a ele, e a ti!).
começo a achar a ideia dos "estágios" fantástica. O meu miúdo também tem que fazer um, mas só no próximo ano. :)
A ele mais que a mim. Eu estava muito concentrada a abstrair e a inventar histórias divertidas para lhe contar...
Essa história dos estágios é boa, mas é preciso escolher bem o sítio e a atitude. Um colega do Matthias foi enviado para casa, porque no gabinete de advogados não sabiam o que lhe fazer.
Rita, eu?!! Obrigada pelo cumprimento, mas nunca faria tal coisa. Não fales ao teu Marx de mim, que ele não iria gostar: sou equitativa por natureza, tanto em relação ao (grande) capital como aos trabalhadores. Por outras palavras, cada um, quando tem de levar, leva.
Mas viva o Matthias, Helena o tal trabalhador que nunca «levaria». Competente e assertivo, isto é, sabendo o que quere agindo em conformidade.
Assertivo em demasia: arruma comigo em meia frase. Sniff.
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