14 março 2011

"Um protesto espontâneo e pacífico mostrou um país digno"


(Foto copiada do blogue de Paulo Vaz Henriques - podem ver mais algumas aqui.)

Quanto mais fotos e filmes vejo, mais orgulhosa fico: grande manifestação! Não apenas pelos números, mas pelo colorido - sinal de diversidade -, e pela forma pacífica como decorreu.  

No Ladrões de Bicicletas: ponto da situação.
Muito boa, esta síntese:
Que surpresa maravilhosa ontem: cerca de duzentos mil manifestantes em Lisboa, oitenta mil no Porto, milhares por outras cidades do país, jovens na maioria, jovens que não caem na armadilha da luta de gerações. A unidade intergeracional faz-se com a luta contra a precariedade e os salários baixos, uma combinação que é a expressão de um capitalismo medíocre porque sem contrapoderes legais e sociais robustos, contra o desemprego de massas, a consequência de políticas de austeridade destrutivas. Um protesto espontâneo e pacifico mostrou um país digno, um país de cidadãos que não se deixam atemorizar pela chantagem antidemocrática dos mercados financeiros sem trela, de cidadãos que sabem que só a acção colectiva, o tal nós, pode contrariar os planos de contínua regressão, formulados e instituídos pelos doutrinários do choque e do pavor, os que nos querem conformados e amedrontados porque isolados. Seguir-se-á outra manifestação no dia 19. Que sejamos cada vez mais: a esperança contra o medo.

No  oblogouavida: a revolta dos (es)cravos
Destaco:  
O resultado desta campanha DoItYourself não se fez esperar: as pessoas sentiram que aquela luta era delas, gerando-se uma onda de motivação sem precedentes - artistas e músicos participaram e publicitaram o protesto, cada um fez campanha como pôde e inventou as próprias palavras de ordem - e voltámos a ter uma manifestação 'marca branca', com mil slogans diferentes e cartazes feitos à mão. Isto é uma nova forma de fazer política, que não há nada mais político do que reclamar as ruas.
Por cada um que se inscreveu no Facebook, vieram cinco para as ruas, incluindo alguns dos que nunca participam em protestos de rua e muitos dos que escolhem habitualmente não votar, os descrentes do sistema, a real maioria. Agora, quando a maioria do país acorda do 'lado errado' do capitalismo, vieram pais, avós e netos, em auto-defesa, pelo direito ao futuro e contra o desemprego, o trabalho não remunerado, os salários de miséria, os vínculos precários no trabalho, contra a inevitabilidade da política da austeridade só-para-alguns e os governantes que partem, repartem e dão ao sistema financeiro especulativo a melhor parte. Os abraços emocionados de quem descobria pela primeira vez o poder colectivo da rua, por um objectivo comum, eram promessas de novas batalhas futuras. Elas já estão em discussão e preparação, online. A luta continua.



No The Ressabiator: política de marca branca
Destaco:
Ontem fui à manifestação da Avenida da Liberdade e aquilo que mais me entusiasmou foi a variedade. Letreiros para todos os gostos e todas as cores. Gente de todas as idades e feitios. Carrinhos de bebé, bicicletas e gaitas de foles. Hipsters no limite do gótico. Numa furgoneta, os Homens da Luta cantavam a música do festival com Vitorino entre os acompanhantes. A coisa foi realmente apartidária – havia desde skin-heads até anarquistas, toda a escala possível do espectro político – e refrescante por isso mesmo.

A melhor definição que já vi de democracia defende que esta é o governo através da discussão. Meter o voto na urna é apenas a maneira de escolher os melhores argumentos. Mas, nos últimos anos, essa discussão e esses argumentos têm-se estreitado até ao absurdo. Ou se vota num partido ou noutro (se possível reduzindo a escolha a dois); ou se salva o país ou se recebe um salário; ou se paga ao jovem ou se dá a reforma ao idoso. Sempre escolhas que limitam artificialmente o âmbito da discussão e a tornam cada vez mais extrema.
Uma manifestação destas demonstra, pelo contrário, uma vontade de encontrar outras opções e de fazer outras escolhas, de acrescentar argumentos novos e novas soluções à discussão pública.
 

3 comentários:

maria disse...

diversidade, mesmo:

hoje uma colega dizia-me a propósito:"quer saber a lata do meu irmão?! No sábado foi para a manifestação em Lisboa" (o moço não trabalha nem faz ideias nenhumas disso - os pais vão pagando à vez)

Helena Araújo disse...

Sim, há de tudo, claro.
Mas penso que é tentar tapar o sol com a peneira fazer de conta que isto é a manifestação dos vampirinhos de luxo e dos que tiraram cursos sem saída profissional.

Ant.º das Neves Castanho disse...

Helena, só duas coisas:

1ª) Parece-me abusivo e muito enganador afirmar que "a 19 de Março haverá uma nova manifestação"! É assim como dizer que "logo ao jantar almoçamos outra vez"...

2ª) A manifestação demonstrou claramente a vontade de outras opções e outras escolhas", sem dúvida. Mas esteve e está muito, demasiado longe (ainda?) de acrescentar argumentos novos (isso dá algum trabalho...) e muito menos qualquer tipo de solução, mesmo que embrionária, para os problemas que enfrentamos. Estamos a milhas de algo que se pareça com isso e não devemos iludir-nos, nem iludir ninguém. Haja seriedade ao menos no início, senão nunca mais haverá...