Tal e qual: o umbiguismo nacional (2), de Carlos Barbosa de Oliveira.
Ando há dias a pensar que espécie de mosca terá mordido alguns bloguistas portugueses, que olham para este terrível momento da Líbia e só lá vêem Sócrates e Amado.
Confesso que fiquei muito surpreendida quando o Kadhafi começou a frequentar os salões europeus. Então agora já lhe perdoámos?, pensei eu, que sou muito rancorosa. Abençoado petróleo, que tudo lava.
Mas a verdade é que todos temos as mãos sujas: eu não deixei de fazer uma única viagem para que o meu país não precisasse do petróleo da Líbia. Não criei um único posto de trabalho para que o meu país não precisasse de fazer acordos de colaboração económica com a Líbia. E não é só a Líbia: continuo a ser tentada pelos preços mais baratos, sem passar a dormir mal devido às condições de extrema pobreza e exploração em que vivem aqueles que produzem o que consumo a preços tão vantajosos.
Em vez de atirarem pedras ao Sócrates, digam lá como é que a economia portuguesa pode lutar por um lugarzinho ao sol sem fazer cedências aos princípios. Diga cada um dos que o ataca: o que é que mudou na sua vida privada, nos seus hábitos de consumo e na sua atitude de cidadão empreendedor e criador de riqueza, para que o governo português não se faça dependente desses ditadores?
Se acho bem que se faça cedências aos princípios? Não, não acho bem. Mas haverá algo profundamente hipócrita na minha crítica ao governo, se eu própria não tenho um projecto alternativo para resolver os nossos problemas - e só tenho algumas ideias mais ou menos desconexas - e enquanto não ajustar o meu comportamento de homo economicus à defesa integral desses princípios.
"Ah, mas não era preciso exagerar como o Sócrates exagerou!", dirão. Não sei. Admito que os mais pequenos tenham de se esforçar um pouco mais para chegar às tetas da vaquinha na qual os grandes já se instalaram.
3 comentários:
Como é óbvio...
Tudo é legítimo para atacar o Sócrates! Vai-se a ver e, se calhar, até o terramoto da Nova Zelândia foi por culpa dele, claro...
Foi, foi!
Andou a agitar asas de borboletas na China. Podes crer.
:-)
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