05 fevereiro 2011

conselho para os irmãos mais novos da "geração parva":

Se bem percebi, o Vasco Pulido Valente acha desnecessário haver tantos licenciados em Portugal.
Assim sem pensar muito, não vejo melhor desistência de um país que esta de dizer que não vale a pena formar os seus jovens porque a Economia não precisa deles. Mas dou de barato que esta minha reacção epidérmica seja culpa da Angela Merkel: de tanto a ouvir insistir que a prioridade das prioridades para o futuro da Alemanha é dar a melhor formação possível a todos os seus jovens, acabo por acreditar. Aliás, nem se fala em "dar formação a" mas em "esperar de cada indivíduo que ponha o máximo do seu potencial ao serviço do país". Chego a suspeitar que um dia destes ainda vão decretar que abandonar a escola é um crime de lesa-pátria, passível de prisão. É que, dizem eles, se não for assim, não há hipótese de competir com a China, a Índia e todos esses países emergentes.
Em defesa do Vasco Pulido Valente concedo, contudo, que pode bem dar-se o caso de a Alemanha e Portugal serem realidades completamente diferentes, e que quem nasceu para chinelo...

Enquanto o governo não abre os olhos para estas revelações do Vasco Pulido Valente, e enquanto não fecham as universidades, aqui deixo um conselho aos jovens portugueses:

Esqueçam o espanhol, aprendam muito bem inglês e alemão. Façam o vosso curso universitário ou técnico, de preferência complementem-no com estágios de Verão (mesmo que não remunerados). Não se esqueçam de aprender óptimo inglês e alemão. No fim do curso pode ser eventualmente necessário que façam algum estágio não remunerado - sugiro que o escolham e façam com o objectivo primordial de aprender o mais possível. Depois disso, andor: a Alemanha chegou à conclusão que lhe faltam muitos milhares de jovens qualificados no mercado de trabalho. Calcula-se que sejam uns seis milhões até 2030. Em especial são necessárias pessoas com formação académica - até 2020 serão umas 800.000 pessoas com curso universitário e mais de um milhão com curso técnico: ciências económicas e sociais, ciências naturais, engenharia civil e mecânica, matemática, direito. E também: enfermeiros, assistentes de geriatria, pessoal de hotelaria e restauração, técnicos de processamento de dados, contabilidade ou comunicação internacional. Etc. Etc. Etc.

Claro que bonito bonito era Portugal precisar destas pessoas e ter condições para lhes dar empregos dignos. E - ao contrário do que diz o Vasco Pulido Valente - talvez precise, mas enquanto for possível ter o pessoal a produzir em estágios sucessivos e a recibos verdes durante anos e anos, parva será a empresa que se der ao trabalho de investir num vínculo condigno.

17 comentários:

jj.amarante disse...

Já no tempo do Salazar se dizia: se ficam com muitos estudos depois não há homens para trabalhar os campos nem mulheres para servir. Pena não haver uma máquina do tempo para o Vasco Pulido Valente poder ir conviver com essa gente e ficar por lá, aonde parece pertencer.

Helena Araújo disse...

Por uns instantes pensei: pena não haver uma máquina do tempo para o Vasco Pulido Valente lhes levar uns tractorzinhos...
;-)

sem-se-ver disse...

(nada a ver: não sei se está por aí, mas se estiver não percas o another year do mike leigh. beijos)

André Pereira Matos disse...

Obrigado por estas palavras. Ser licenciado em Portugal e ouvir Vasco Pulido Valente tem o seu quê de desmotivador - já para não pensar nas condições que temos... Obrigado! Estou à espera de mais informações sobre esses empregos na Alemanha e quem sabe...

Rita Maria disse...

Eu aceito estagiários. É favor enviar candidatura para o meu endereço de trabalho com a referência "o vasco pulido valente é parvo" :)

Helena Araújo disse...

"dois dedos de conversa" - o blogue que ultrapassa os centros de emprego pela direita!

Rita, acho que podíamos começar aqui um projecto novo - já que o anterior nos correu tão bem... ;-)

Que achas de criarmos aí uma cartilha para facilitar a vinda de jovens licenciados portugueses para a Alemanha?

Rita Maria disse...

Desculpa lá, eu pela direita não faço nada.

(uma coisa parecida com o Tugas em Madrid? Detesto o nome mas aquilo é um manancial de recursos e mesmo muito útil)

Helena Araújo disse...

Bom, se não gostas da expressão "ultrapassar pela direita", então: o blogue que mete as centros de emprego num chinelo. Está melhor?
A verdade é que devia ter posto o nome do teu blogue, e não do meu.

Vou ver o Tugas em Madrid, e depois te digo.

Tripalio disse...

Bravo!

belo post.
é triste ver um alcoólico como VPV pensar e escrever como um fascista, pedindo educação apenas para os filhos dele e dos amigos, como no antigamente.

André Pereira Matos disse...

Aceitam mesmo estagiários? Em que áreas? Posso mandar CV para onde? :)

Helena Araújo disse...

Tripalio,
"como um fascista"? Eu acho que é mais como um provinciano.

André,
siga o rasto à Rita Maria, é fácil encontrar o e-mail dela.

Rita Maria disse...

E o fascismo português não era todo ele provinciano?

(sim, aceitamos mesmo estagiários e, tirando pagar-lhes muito pouco, fazemos tudo bem: damos-lhes responsabilidades e ficamos com os bons. No caso de um Inglês irrepreensível até há hipóteses para gente sem Alemão nenhum - há sempre posições novas, algo como Helios Media Jobs no google deve chegar. Mas o que mais há em Berlim são estágios...)

Anónimo disse...

"mas enquanto for possível ter o pessoal a produzir em estágios sucessivos e a recibos verdes" decorre e muito dessa ideia de fazer estágios não remunerados. Borra a pintura toda.

Helena Araújo disse...

Anónimo,
se se está a referir ao estágio não remunerado que sugeri antes do "andor", esclareço que esse único estágio, escolhido com o objectivo de aprender o mais possível, se destina a ganhar alguma experiência profissional séria antes de concorrer a empregos nos países onde eles existem.

Mas, obviamente, nada obsta a que tentem concorrer na qualidade de recém-licenciados sem experiência.

Anónimo disse...

Helena, é o que fazem no jornalismo e em muitas áreas. oferecem estágios não remunerados uns atrás dos outros e os estagiários revezam-se sem aprender nada mas como carne para canhão que em nada enriquece o panorama das empresas mas que as faz poupa na qualidade. os estágios não remunerados fazem parte do problema. nuno magalhães

Helena Araújo disse...

Nuno,
eu não tenho grandes problemas com um primeiro estágio não remunerado. O problema é quando se aceita fazer o segundo não remunerado (até me ocorre uma frase de um polaco em Auschwitz: "o nosso maior inimigo era a esperança, o acreditar que as coisas iam melhorar").
Por isso disse que esse primeiro estágio devia ser escolhido com o objectivo de aprender o mais possível. Um estágio onde uma pessoa não aprende nada é um contra-senso.

Já contei aqui: o meu filho de 13 anos contactou a Telekom para fazer um estágio de duas semanas (é uma coisa obrigatória das escolas) e perguntou-lhes "mas vão-me pôr a servir cafés, ou vão-me dar algo interessante para fazer e aprender?".

Ant.º das Neves Castanho disse...

Vasco Pulido Valente especializou-se, como escriba, em banalidades. E cada banalidade tem sempre outra no seu reverso: dizer que "há Licenciados a mais em Portugal" é tão inútil e estéril como dizer que "há falta de trabalho para os Licenciados em Portugal"...

O problema, porém, não está nas "habilitações académicas" a mais (que nunca o serão...), mas sim na forma como se encara a vida em geral, e a sua vertente laboral em particular. O meu Mestre Canalizador é Licenciado em Jornalismo, mas bem cedo desistiu de ser Jornalista. Trabalha muito bem (aprendeu com o Pai, que era Canalizador), não faz "descontos" mas, como é competente, acaba por "saír-me barato"! Não lhe falta trabalho, mas ainda consegue passar alguns fins-de-semana do ano com a Família à beira-mar, num sítio onde tem o seu próprio barco de recreio (algo que eu nunca terei...). Não lhe foi preciso emigrar para um país desenvolvido, com falta de Licenciados, para ser feliz e realizado!

E eu, se querem mesmo saber, também prefiro ser feliz em Portugal, à portuguesa e com um bem-estar material à medida das possibilidades actuais do meu País. E também, se possível, contribuír para que ele melhore e evolua.

Contudo, há demasiadas coisas que se perdem com o "progresso" material, que eu não invejo para Portugal. Os Economistas de Chicago que desculpem lá qualquer coisinha, mas se eles gostam de viver e de morrer em Chicago, pois eu cá gosto muito de ver o pôr-do-Sol num Monte alentejano e de ouvir os sinos do campanário da Igreja mais próxima. E dizer "não, obrigado". A muita, muita coisa. Incluindo, se for necessário, à televisão, à "internet", ao carro, ao avião e, claro, ao tele-móvel. Que nunca fizeram falta nenhuma a Agostinho de Hipona, nem a Espinoza, nem a Leonardo da Vinci, nem a Bach...