07 fevereiro 2011

Bernd Eichinger e eu

Acabou de decorrer numa igreja de Munique uma cerimónia de despedida de Bernd Eichinger. A igreja cheia de famosos do cinema e da televisão, a tv a transmitir em directo - e quem é o padre que celebra? O que celebrou o nosso casamento e nos baptizou os filhos! Eu bem digo que estou aqui estou em Hollywood.
Linda cerimónia, como só a igreja católica sabe fazer. Nem sei porque é que Hollywood não se lembrou de instalar uma filial no Vaticano. Filial, digo eu? Sede!
Largada a gracinha, olhem que bonito (vou mudar de linha, que isto agora é a sério):

Na despedida de um homem do cinema, um padre lê o Evangelho escrito por João como uma construção literária, como uma peça de teatro que procura encontrar a essência de Deus. Eu, que o conheço há um quarto de século e inúmeras sessões de estudos bíblicos, imagino bem como lhe agradaria ter discutido com Eichinger os recursos dramáticos da Paixão segundo S. João. Ele continua: fala do Jesus de João, um amigo, faz a ponte para as pessoas com quem preparou esta celebração, da amizade que transparecia das suas palavras. Lembra de Bernd Eichinger o homem que sempre tentou ver Deus nas pessoas. 
No final, deu a palavra a Karl Rahner (quantas vezes já lhe ouvi citações de Rahner) para afirmar a intangibilidade divina que habita o Homem, e convidou os presentes a homenagear Eichinger de pé e em silêncio. 
Mais uma vez se revela o dom deste padre para fazer as pessoas entenderem o sobrenatural através do seu próprio corpo. Imagino que Eichinger teria ficado satisfeito com esta despedida.
E eis como a minha história se cruzou hoje com a de Bernd Eichinger - não no lado Sunset Boulevard de Hollywood, mas no seu extremo oposto: o melhor lugar.

***

Uma informação para quem tem filhos, é cristão e mora na região de Munique: as celebrações que este padre faz para crianças são absolutamente imperdíveis. Alguns dos que lá estiveram hoje bem podiam lembrar-se de fazer um documentário sobre este fenómeno.

2 comentários:

Ana Paula disse...

Há gente que tem mesmo sorte: até na forma como lhe celebram o avesso da vida!
Tenho participado em funerais de não cristãos (pelo menos, como se diz, " de não praticantes"), e pejados de outros tantos não cristãos (pelo menos, como se diz, " de não praticantes"), onde aquilo que é dito, o modo como é dito, é de espantar ( leia-se afastar)qualquer um! O falecido (a) se acordasse morreria de novo e eu própria, como cristã, se não tivesse outras experiências de vida e rituais cristãos,fugiria também...
Uma nova evangelização destes momentos é preciso!

Helena Araújo disse...

Parece que este merecia bem a sorte que teve. De certeza que viste filmes dele: o Céu sobre Berlim, o Perfume, a Queda. E "milhões" de outros. Mas não apenas pelos filmes que fazia: pelo que disseram ontem, era mesmo boa pessoa.

Estás a falar de funerais na Igreja de pessoas e com pessoas que raramente lá vão? Hehehe, já estive num assim: a sacristoa respondia ao padre em voz muito alta, por temor que mais ninguém na igreja conhecesse as deixas...

E os funerais que não passam pela igreja? Estive uma vez num desses, e ficou uma sensação de vazio. Poucos sabem fazer bem estas cerimónias de despedida. E aí está outro nicho de mercado (por exemplo para os licenciados de Filosofia... - sempre é melhor que andarem a conduzir táxis...): alguém que se especialize em organizar funerais com dignidade para pessoas que não têm religião.

O mesmo se diga para os casamentos: se as pessoas não casam pela Igreja, a cerimónia muitas vezes fica um bocadinho aquém do que se imaginou. Ora aí está outro emprego de futuro: inventar bonitas celebrações de casamento para quem não casa pela Igreja.

Nichos de mercado é comigo...