10 fevereiro 2011

ainda o humor dos músicos









(uma gracinha da Berliner Philharmoniker)

Esta manhã, enquanto esperava pela minha vez para comprar bilhetes para a Berlinale, comecei a conversar com um senhor já de certa idade. Palavra puxa palavra, desatou a falar do humor de Haydn, e das suas brincadeiras musicais. "Um compositor cheio de ironia", dizia ele, acrescentando que nos concertos de Haydn era normalíssimo as pessoas conversarem e fazerem barulho, e que o compositor se vingava com maluquices. Como a Sinfonia da Despedida, na qual os músicos vão abandonando a sala até só restarem dois violinistas. Beethoven é que não estava para essas graças, e não permitia ruído durante os seus concertos. Pobres públicos que não se deram conta de que aqueles já não eram os tempos de Haydn - Beethoven chegou a abandonar um concerto insultando os ouvintes: "Nunca mais toco para porcos como vocês!"
Li um pouco sobre a sua surdez, e enchi-me de pena dele, desse músico que ainda antes dos trinta anos começou a ter problemas graves de audição: os zumbidos permanentes e o stress de sentir que estava a perder o orgão mais importante para o seu trabalho e o seu dom. Como se Deus lhe tivesse dado com uma mão e tirado com a outra. Não admira que apareça em todos os quadros com os cabelos em pé.

21 comentários:

Paulo disse...

Lá está: a navalha na mão de Beethoven não me inspira nem o esboço de um sorriso. A menos que eu esteja num dia de humor negro.
Já os rolos de Haydn são outra conversa. Olha aqui.

Helena Araújo disse...

Não pude ver. Mais um que não passa na Alemanha.
Mas se me deres um lamiré, para eu procurar no vimeo ou assim...

(tu não gostas de Beethoven, ou da ideia de ele ser um brincalhão?)

Paulo disse...

Talvez consigas ver este.
[Ai a falta de humor que grassa pela Alemanha]

Gosto muito de Beethoven e encontro piadas nas suas composições. Não acho é que ele fosse uma pessoa assim tipo super-bem-disposta.

António P. disse...

Está bem abelha !!
Pois Helena, está a preparar-se para não me dar o prémio.
Já percebi que deu o prémio ao tal senhor de idade que acha que o Haydn é irónico :))
Mas está perdoada...até lhe pago uma mejeca no Águia de Ouro quando cá voltar...se for no Verão. :))

Helena Araújo disse...

Uma "mejeca"?
O que é isso?
Estou a ver que tenho de ir rapidamente a Portugal aprender a falar português, que já me vão faltando as palavras.

Aquilo era uma aposta, não era um concurso. Esquecemo-nos de combinar a quanto. Ai que chatice. ;-)

António P. disse...

Um fino...como dizem lá na sua terra natal.
Na minha é uma imperial.
Em alemão : ........
Bons concertos

Helena Araújo disse...

Aaaah! Já podia ter dito antes.
Uma cerbeieja.

Em alemão: Pilsener? Hefeweizen? Hefeweisen Dunkel?
Ao pé da minha casa há um restaurante chamado "casa das 1000 cervejas". Acredito e não me admiro.

Obrigada - mas olhe que esta semana é mais filmes que concertos.

io disse...

Há coisa de um ano, assisti no S. Carlos à sinfonia do Adeus dirigida pela maestrina Julia Jones deliciei-me com aquele abandono paulatino e cúmplice: uma diversão.
Isso que contas do Beethoven fez-me lembrar outro concerto: Pierre Hantaï a interpretar as variações e a parar, a meio, para ralhar ou para olhar com ar de reprovação para o público. Confesso que também acho que tossimos demais, mas aquilo foi um exagero. Jurei a mim mesma que nunca mais havia de ver um concerto dele e tenciono cumprir.

Helena Araújo disse...

io,
ele se calhar também jurou a si próprio que nunca mais fazia um concerto em Portugal...

Já estive num concerto de japoneses na Filarmonia que não havia maneira de começar: a sala estava cheia de crianças barulhentas (sim, os pais pensaram que por ser um concerto com tambores gigantes, e a meio do dia, era uma coisa para crianças) e quando as crianças se acalmaram (porque o maestro olhou para uma das mães até ela sair da sala, e os outros pais no entretanto perceberam a mensagem) aí, tocou um telemóvel.
Que vergonha.

Anónimo disse...

Ora ainda bem que há quem, além e, quem sabe, antes de Brendel, encontrou piadas nas composições de Beethoven. Não sendo muito incómodo, o Paulo poderia deixar aqui alguns exemplos, justificando, claro, para nós também rirmos.

Paulo disse...

Há uns anos Artur Pizarro tocou a integral das sonatas de Beethoven no Maria Matos. Uma noite, quando atacava a "Patética", os ruídos na sala eram tantos que ele resolveu parar e recomeçar. Na segunda tentativa, logo após o primeiro acorde, voltam as tosses e um telemóvel. Pizarro revirou os olhos, baixou a tampa do piano e saiu do palco. Aplaudi e pensei que não voltasse, mas voltou. E tocou-a maravilhosamente. Agora digam lá se ele não tinha razão para estar zangado. Ouçam o primeiro acorde, aqui por Kempff, e imaginem-no combinado com tiriris.

P.S. Será que te deixam ouvi-lo, Helena?

Helena Araújo disse...

Ó Anónimo, porque é que não assina com o seu nome?

Helena Araújo disse...

Paulo,
"This video contains content from UMG. It is not available in your country.
Sorry about that."

Mas consegui ver o outro! Fantástico Barenboim!

Já contei que vi uma vez um violoncelista sair a meio do seu solo? Não voltou.
Nos lunch concert da Filarmonia, às terças, também levam para lá crianças pequeninas que se põe a andar, a gatinhar, a palrar...
As pessoas não têm vergonha? Acham que os seus rebentos são tão importantes que todos os outros têm de os aturar?

Paulo disse...

Caro anónimo (ou cara anónima),
Suponho que, estando a comentar aqui, terá alguns conhecimentos musicais, o que quase me fez sentir dispensado dessa tarefa hercúlea que é encontrar momentos de boa disposição em Beethoven. Porém, resolvi deixar aqui um exemplo que, penso, bastará para o/a deixar mais bem disposto/a. Se isso não acontecer, penso que o seu caso não tem remédio. Não conte com gargalhadas soltas. Essas, escreveu-as Beethoven na partitura.

Helena, espero que te deixem ouvir este pedacinho da Op. 111, por um Brendel com cara de poucos amigos.

Ant.º das Neves Castanho disse...

Helena, em Alemão "imperial" acho que se diz "Bier vom Fass" (não tenho aquela linda letra alemã, o "esszet", no meu teclado...).

Ant.º P., está a falar do «Águias de Ouro» de Estremoz? Então conhece certamente a "Cadeia Quinhentista", onde me deliciei e surpreendi ainda no passado Sábado! O Mundo é pequeno e Portugal, esse então...

Anónimo disse...

Nome do anónimo = Lucas Kevinne
(desculpe, não achei relevante incluí-lo)

Helena Araújo disse...

Lucas,

até há pouco tempo este blogue não permitia comentários anónimos. Mudei isso por causa de uma amiga que não se cria registar. Talvez volte em breve à situação anterior.
Pode ser esquisitice minha, mas acho muito relevante que as pessoas que aqui escrevem dêem o nome.
Sempre que vejo um anónimo, pergunto-me o que estará a esconder. É como se viesse de burka para as conversas - vê-nos, mas não se dá a ver. No caso do blogue: diz, mas foge à responsabilidade de ser confrontado pessoalmente com o que disse.

É verdade que pode dizer chamar-se Lucas, ou Manuel, ou Desatinado, ou M.C., ou outra coisa qualquer. Mas escrever como anónimo consegue ser mais ostensivamente agressivo que inventar-se um nick ou um nome falso de ocasião.

Helena Araújo disse...

uma amiga que não se *queria* registar

(talvez fosse boa ideia acordar antes de ligar o computador)

Helena Araújo disse...

Lucas,
(outra vez)
desculpe eu ferver tanto em tão pouca água. É que tenho mesmo alergia a anónimos!

io disse...

Voltou! Oh se voltou! Eu é que não voltei, nem voltarei. A dado passo até tinha medo de traçar a perna e coçar o nariz: estava na 2ª fila, mesmo em frente ao cravo. Nessa noite, sonhei com um grandessíssimo enxovalho hantaïano ... ;-)

io disse...
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