26 janeiro 2011

a primeira vez

O Lutz, em grande forma:

(roubado do seu blogue, aqui)

Fez dezoito anos em Setembro. Recensiou-se como eleitor. Com a elevação de quem assume, pela primeira vez, a sua qualidade de cidadão pleno, dirigiu-se ontem ao local do voto, a Escola Primária 101. Num gesto bonito e muito apropriado à dignidade da ocasião, as pessoas na mesa do voto deram-lhe os parabéns.
Na cabine, descobriu que faltava a esferográfica. Depois de solicitar e receber uma nova, voltou e votou em branco.

(história não ficcional)

10 comentários:

Ant.º das Neves Castanho disse...

Acidez: 2º (ou mais):

1. Recenseou-se, mas não se recensiou, de todo.

2. Dezoito aninhos? É novo, não pensa.

2.1. Ou então tem ainda tudo muito em branco, entre os dois tímpanos...

3. Que lhe faça um óptimo proveito e, para a próxima, tente fazer, em diagonal (e dentro de um dos quadradinhos), uma perninha da cruzitas. Não dói nada (e nem é tão indigesto como outras coisas que se amiúde tomam na juventude).


4. O Lutz que não me leve a mal, mas os dezoito já lá vão ("há canos")...

Helena Araújo disse...

A. Castanho,
1. Tomara eu saber escrever em alemão como o Lutz escreve em português!

2. a 4. Prefiro não ir por aí. Respeito quem se dá ao trabalho de ir à assembleia de voto para votar em branco. É de longe mais digno de respeito que a atitude de ir à praia ou ficar em casa.
Preferia - claro que preferia! - que as pessoas se metessem mais na política, votassem e tentassem mudar. Mas tenho de respeitar a sua liberdade de não verem em nenhum dos candidatos um presidente da república capaz.

Achei imensa graça ao detalhe de ir pedir uma caneta para votar em branco!

lb disse...

A.Castanho:
Ponto 1.: Obrigado pela correcção (ou correção)!

Quanto aos pontos 2 e 3:
Quando eu tinha 18 anos, sabia em que votava. Que o meu filho e muitos outros da sua geração hoje não o sabem, acho triste. Eis o motivo deste pequeno post. Mas ao contrário de A.Castanho, não me contento com simplesmente atribui-lo à falta de maturidade do jovem.
O estado da sociedade em que queria que participasse activamente como cidadão, não é da sua responsabilidade, mas da nossa, da geração anterior. Idem as opções políticas que se lhe ofereceram nesta eleição.

O ponto 4 não percebi.

Helena Araújo disse...

Lutz,

tens a certeza que não é correpção?
;-)


"canos": há que anos.
Também não percebi logo.

Manda o teu filho para a Alemanha. Até eu preferia poder votar aqui!

maria n. disse...

Concordo com o Lutz. Não é falta de maturidade mas sim uma bofetada na cultura política e nos que já fizeram 18 anos há "canos".

Sendo as campanhas e as imagens construídas pelos meios de comunicação como são, que hipóteses tem um jovem que vota pela primeira vez, e o quer fazer bem, direitinho como deve ser, de preferência com caneta, de tomar uma decisão na qual acredite? Não arriscou e é compreensível. Vivemos numa era onde há a percepção generalizada de que uma entidade abstracta, estrangeira e longínqua decide o nosso futuro por nós e onde o nosso voto nada pode contra essa ordem “normal” das coisas. Aos seus olhos, os políticos no boletim, que em nada se ofereceram como alternativa ao que verdadeiramente são os nossos problemas, devem ter começado a parecer-se muito uns com os outros. Provavelmente o rapaz não pensou de menos. Pensou foi demais.

(e concordo tb que o Lutz regressou em grande forma)

Ant.º das Neves Castanho disse...

Desculpai não estar de acordo com a teoria de que os jovens são inocentes e que os males estão nos "outros", neste caso os mais velhos. Os mais velhos, que já andam cá "há que anos", os mais velhos, que lutaram e sofreram para que os mais jovens tenham o supremo luxo de pedir uma caneta para votar em branco, os mais velhos, que comeram o pão que o diabo amassou (muitos nem Juventude tiveram!) para os mais jovens poderem com toda a segurança exigir deles o pão, a roupa lavada, a casa, a segurança e a paz, o conselho avisado, o dinheiro para torrar e, claro, a cultura política e tudo o mais, os velhos, que depois eles mais tarde, enfim, não vale a pena alongar-me mais.


Estes jovens, felizmente, um dia eventualmente também irão ser velhos. Pedir-lhes-ão igualmente responsabilidades pela sua falta de cultura política - e que terão eles de que se orgulhar, perante os seus jovens? Que melhor Sociedade estão eles a fabricar com a sua demissão corrosiva? Talvez então se lembrem do tempo em que eram jovens e faziam todas as exigências com arrogância e sejam, então, mais humildes e se verguem perante o Tempo. Parece-me, contudo, que poderá ser tarde demais...

Helena Araújo disse...

A.Castanho,
essa teoria geracional tem um pequeno problema: muitos dos que votaram em branco são gente da nossa idade.
O panorama político em Portugal está completamente na lama. Os políticos são desacreditados, as pessoas não confiam no sistema.
Exigir a um rapaz de dezoito anos que ponha uma cruz num nome qualquer é pedir demais. E não foi ele, nem os da sua geração, quem criou esta situação.
Acho o voto em branco de alguém de 18 anos algo mais natural e honesto que o mesmo voto em alguém de 50 anos: estes já têm mais obrigação de ter uma história de empenhamento, de compreensão do possível e do desejável, e até de "jogos de cintura".

Ant.º das Neves Castanho disse...

Pois sim, de acordo. Mas o tema é mesmo a abstenção, ou o demissionismo, dos mais jovens. Se pensam que vão poder eternamente culpar a "Sociedade", os "mais velhos" (e a sua política), em suma, os "outros", sem nunca se empenharem em "sujar as mãos", como dizia o J.-P. Sartre...

maria n. disse...

A. Castanho,

O meu avô dizia o mesmo da geração do meu pai, e a do meu pai dizia o mesmo da minha (o pão que o diabo amassou e afins). É uma teoria muito velha que de nada serve ao caso, como a Helena já explicou, mas serve muito bem para nos desresponsabilizar pelo actual estado das coisas. A culpa é dos que agora chegam à idade de votar que não querem "sujar as mãos". Porque é que eles não querem "sujar as mãos" fica, no entanto, por explicar.

O voto em branco não é abstenção e a abstenção não é necessariamente demissionismo. Um eleitor pode optar por não ir votar, ou votar em branco, e ser, no entanto, bastante atento, interveniente e politicamente activo. O voto é uma parte essencial da democracia, mas não é a única parte através da qual podemos participar nela.

Ant.º das Neves Castanho disse...

maria n., claro que não serve para nos desresponsabilizar, mas uma teoria não é boa nem má só por ser velha ou nova.


Concordo com tudo o que disse neste comentário, mas acrescento o que diz ter ficado por explicar: deixando agora de lado a abstenção "activa", ou consciente, aquilo que critico e a que chamei o "demissionismo" dos jovens actauis é algo bem diferente e resulta de uma atitude de indiferença e, sobretudo, de preguiça face à participação no que é colectivo. Por culpa talvez mais de quem os educou (a Família, a Escola, o Estado, a Televisão comercial...), do que dos próprios jovens, não duvido. Mas a verdade é que todas as conquistas da Democracia e do Estado de Direito são reversíveis e não devemos nunca dá-las por "naturalmente" adquiridas, pelo que há que lutar pela sua preservação.


Os jovens estão sempre descontentes com o Mundo que herdam dos mais velhos. O problema está em querer e saber melhorá-lo, ou ficar-se apenas pela crítica destrutiva (e pela simultânea fruição do lado bom e quentinho desse Mundo tão mauzão...)!