A pergunta anda por aí.
E é uma bola à trave, porque a escolha não é entre ser homicida ou homossexual, mas entre crime passional de gays ("ai essa gente, que nojo") ou assédio sexual e autodefesa (uma questão de honra e castidade, uma Santa Maria Goretti de calças). Uma autodefesa excessiva, sem dúvida, mas um rapaz assim tão intensamente heterossexual acaba por perder a cabeça e defender-se muito mais do que seria necessário, coitado...
A pergunta, se querem realmente saber, é assim: mais vale ser homicida que vítima de assédio homossexual?
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Aqui está mais um caso em que não quero saber pormenores. É tudo simplesmente horroroso.
Imagino o espanto e o sofrimento da família e dos amigos da vítima perante o insuportável peso desta morte. Que terrível dor estão a sentir!
E imagino a perplexidade entre os familiares e amigos do suspeito, postos perante um abismo inescrutável, levados pelo amor a esboçar explicações que lhes amorteçam o choque, que são imediatamente ampliadas pelos media. Bem sei que o negócio da informação vive muito disto, e que quanto maior a tragédia mais rentável se torna cada frase captada e cada detalhe mais sórdido. O lamentável resultado está mais uma vez à vista: comentários em praça pública sem a menor sombra de respeito ou compaixão pelos sentimentos das pessoas.
Reafirme-se o básico: mesmo que o rapaz seja incrivelmente heterossexual, mesmo que fosse um caso de terrível assédio, nada pode desculpar a barbárie. Só isso.
O resto é trabalho de psis, polícias e tribunais.
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Uma nota para o pessoal que deixa comentários torpes pela internet: lembrem-se que isso de que acusam os tão temidos "maricas" é muito semelhante ao que os fogosos machos latinos infligem quotidianamente a muitas mulheres. Vejam lá se acham realmente que "ele teve o que mereceu" - é que a internet tem ouvidos, e às tantas alguma Lorena Bobbit pode concluir que ou há moralidade...
5 comentários:
Só duas achegas: esta e esta.
Paulo,
no douta ignorância gostei especialmente da comparação "Seria muito diferente se em vez de um paneleiro velho, estivéssemos a falar de um septuagenário heterossexual que andasse com uma “dançarina” brasileira (puta, claro está, porque estas são muito sabidas e querem é subir na vida porque lá na terra delas passam fome). Já se sabe que estas atrevidas só andam atrás deles pelo dinheiro e que eles aproveitam (quem é que, podendo, não aproveitaria?) para ferrar o dente em carne fresca, e fazem eles muito bem, provando a macheza do garanhão lusitano que nem no leito de morte perde a tusa."
Viste os comentários ao texto do Ferreira Fernandes? Oh, pá, até apetece passar a andar de tesoura de podar na carteira. Ia dizer para quê, mas cala-te boca, que às vezes aparecem senhoras nestas caixas de comentários.
Não tinha lido, Helena, e até fiquei mal-disposto.
Por mais campanhas de informação, até com o Ronaldo, as mentalidades teimam em não mudar.
Gostei do seu texto, Helena.
os ditos machos andam sempre distraidos. Um nojo os comentários nessas caixas dos textos que refere.
Boa semana
obrigada, António.
Boa semana para si também.
(Já sabe em quem vai votar?)
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