O fim-de-semana terminou em belo, na Filarmonia: Simon Rattle e Magdalena Kožená, Mahler: das Lied von der Erde.
Deixem-me despachar rapidamente a parte "gaja": ela vinha com uma espécie de gabardine de tafetá sobre a saia comprida de brilhantes, e sapatos de saltos impossíveis. Como será que consegue cantar com tanta segurança, apesar de alcandorada sobre tão finas andas? Talvez estivesse a fazer playback - que isto nos dias de hoje, tudo é possível só para corresponder aos apelos da Vogue.
Pronto, já está, já posso ficar normal outra vez.
Um encantamento: mesmo depois de Simon Rattle baixar as mãos, as pessoas não queriam aplaudir. Como se ninguém quisesse ser o primeiro a quebrar o prodígio. E mesmo os longos e entusiásticos aplausos não conseguiram quebrar o mantra final, para sempre... para sempre... para sempre. Nem o habitual russo da balalaica, no parque de estacionamento, conseguiu sobrepor-se à melodia final, para sempre... para sempre... para sempre... e à serena nostalgia que ecoava ainda em nós.
O que se segue é a canção final do concerto, na voz de Janet Baker. Gostei mais da interpretação de Magdalena Kožená: tem um timbre de madeira e chocolate (podem verificar aqui), muito mais terra. Apesar daqueles sapatos de impossível periclitância.
3 comentários:
Madeira e chocolate, que bonito! Concordo.
Agora, não menosprezes a tua parte "gaja", que ninguém faz crítica de concertos em versão "gaja" tão bem como tu. E sapatos desses podem servir para A Canção da Terra mas dificilmente podem ser calçados pela Isolda.
Não podendo comparar porque não estava em Berlim, tenho a dizer que Dame Janet Baker também é sublime e maravilhosa.
Paulo,
digamos assim: gostei mais dos sapatos da Magdalena! ;-)
Obrigada pelo elogio. Vou já acrescentar essa linha ao meu currículo. Toda orgulhosa, podes crer!
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