Fui "ouvê-los" ontem. Nem sei o que é melhor: vê-los ou ouvi-los.
Ele dança e mima a música como ninguém. E ela, ao violino... como uma tempestade, toda a força da natureza.
Tínhamos lugares por trás da orquestra - ainda ninguém contou à administração da Filarmónica que esses são os melhores, e muito eu gostava de saber porque é que há quem pague 150 euros para ver o Rattle de costas, e perder isto:
- atenção, agora vai começar o derrapanço feminino, ai jesus que lá vou eeeeeeeu... -
A Anne-Sophie Mutter vinha num vestido fenomenal, em brocado cinzento, sem alças e com corte sereia. Por trás, à altura dos joelhos, tinha um enorme laço, sob o qual se formava a cauda. Daquele lugar quase nunca lhe via o rosto, mas podia apreciar todo o jogo dos músculos nos ombros e nas costas, enquanto ela fazia brotar do seu violino (da última vez que perguntei, era um Stradivarius - Stradivari, dizem eles por cá) uma impressionante cascata de música.
- atenção, agora vai começar o derrapanço masculino, ai jesus que lá vou eeeeeu... -
O vestido sublinhava um corpo magnífico. Nos intervalos, a mão direita segurava arco e violino, e a esquerda fazia arpejos no ar, por trás das costas. Antes de recomeçar, esfregava a mão esquerda sobre a nádega, para limpar o suor. Nunca me tinha ocorrido que músicos pudessem ter este tipo de liberdades corporais mais próprias dos courts de ténis.
- atenção, agora vou tentar salvar este post em extremis -
Gostei imenso da primeira peça do programa (sem a violinista, claro):
Fauré, Pelléas et Mélisande - Orchestersuite op. 80
No fim do concerto, o Simon Rattle cumprimentou quase metade dos músicos da sua orquestra. Até me lembrou o Mourinho, quase me comovia.
(já disse hoje que adoro viver em Berlim?)
10 comentários:
:)))
mdsol, não se ria tanto, olhe que vai ficar com rugas! ;-)
Inveja, inveja, inveja!!
A Anne-Sophie tem, que eu saiba, dois (DOIS!) Stradivarius.
P.S. Ontem lembrei-me imenso de ti por causa de um capítulo do livro que estou a ler (está na Gota). A ver se o digitalizo para te enviar. Chama-se Remembering Berlin.
Admito que fiquei com uma pontita de inveja por nao residir em Berlim... Que privilégio! Mas obrigada por me lembrar que também Essen tem uma filarmonia, vou já investigar o programa para os próximos meses... :)
Teresa,
obrigadíssima! Claro que gostava muito de ler, mas não ouso pedir-te essa trabalheira.
Rita,
ora nem mais! Toca a investigar programas.
Helena, se me prometeres um bilhetinho para ver Simon Rattle assim, compro já uma passagem para Berlim.
P.S. Adorei a descrição do concerto.
Paulo,
os lugares no podium são postos à venda poucos dias antes do concerto. Mas posso-te comprar um lugar no bloco G (que é dos mais baratos, ou seja, onde vês o maestro de frente), e tentar na própria semana um no podium.
Diz-me a que concerto queres ir, e eu vou para lá fazer fila no dia em que põem os bilhetes à venda, para te arranjar um jeitosinho.
Gostaste da descrição? Ai, que alívio! Eu a escrever e a pensar "espero que o Paulo não leia isto". É que, como à Teresa, faltam-me os termos de especialista, tipo "execução na tradição da vanguarda do romantismo" ou "passagens de arco que acrescentam à técnica de Paganini", e coisas assim.
Bem, se fosse só os termos técnicos o que me falta... ;-)
Ahahah. Gostava de te ver a escrever assim (e a mim também).
Enviar um comentário