21 janeiro 2011

ainda sobre as pessoas que acham que dantes é que se estava bem

Um post do João Pinto e Castro: pelos vistos as pessoas não chegam a achar - limitam-se a repetir o que ouviram alguém dizer.

(E eu, toca a repetir uma perplexidade antiga: como é que os portugueses se queixam permanentemente que estão mal, e eu só vejo restaurantes cheios, carros novos e bons, tanta a gente a viajar, telemóveis topo de gama, maquinetas, roupa de marca?) (bom, não sei como vai ser agora, com o pacote de austeridade, mas até ao Verão passado tinha a impressão que em Portugal havia uma certa desfocagem no modo de ver o próprio viver)

5 comentários:

Carla R. disse...

Pois é tão estranha, como partilhada, esta constatação.
E os inumeros festivais de musica a abarrotar, e mais caros que em França? Registe-se que é em Portugal que fico sempre a par dos ultimos lançamentos dos i-phones, e dos sapatos a varias centenas de euros, em comparação, conheço muito pouca gente em França com os ditos. Sempre me fez muita confusão, porque comparava os salarios minimos (e médios) dos dois paises...
E é ponto assente que Portugal é mais rico agora que antes e que sempre se falou de crise porque é português fazê-lo (comecei a trabalhar em publicidade no inicio de 90 e esta palavra seguia sempre o "Bom Dia").
Agora falta-me realmente estudar as estatisticas para perceber melhor esta realidade que me escapa da mãos mais depressa que uma enguia.

Helena Araújo disse...

Parece-me que há dois elementos importantes a considerar:

- a evolução "uns cada vez mais pobres, outros cada vez mais ricos" (a minha vizinha que trabalha há mais de vinte anos e continua a receber salário mínimo apesar de ser uma operária excepcional)

- os recibos verdes e a vida adiada: parece que há uma multidão de licenciados que não ganha o suficiente para ter a sua própria casa, continua na casa dos pais, e usa o salário como mesada, digamos assim, já que os pais asseguram as despesas existenciais (habitação, alimentação, etc.)

purpurina disse...

quanto à desfocagem, não é só impressão: http://fadopositivo.blogs.sapo.pt/57847.html

Anónimo disse...

Helena, há uma desfocagem nos padrões de consumo.Tem toda a razão. Para os portuguieses o ter é a medida do ser rico. Os plasmas, os dois carros, o portátil por cada membro da família, a facilidade no recurso a amulher-doisa. as pessoas não acreditam como se vive na Alemanha porque a ideia é a de que os ricos têm de ter muitas coias. Embora sem dinheiro que o permita fazer, a classe média em Portugal vivia como a classe média alta na Europa. O crédito sob todas as formas e a ajuda dão somente pública gerações anteriores permitiu isso. O congelamento das rendas de casa nos contratos antigos permitiu que milhares de pessoas comprassem casa por um valor 10 vezes inferior ao preço de mercado essa riqueza foi transferida para as gerações mais jovens, etc, etc, etc,. Agora estamos pagar os excessos. a dívida externa, não somente a pública, resulta disto. Por isso esta crise não se pode resolver com subsídios europeus, mas com uma mudança de expectativas e de políticas económicas.

Pedro

João Pinto e Castro disse...

Nas necessidades mais desiguais, as pessoas da classe média esforçam-se muito por demonstrarem que não são pobres através do consumo ostentatório. É esse fenómeno bem conhecido que nós observamos todos os dias em Portugal.