Acabámos de comprar um terreno para fazer uma casa. Depois de muita hesitação, convenhamos. Difícil escolher entre um loft no topo de um prédio antigo, com terraço sobre os telhados de Berlim, e uma casa bauhaus com jardim num bairro muito central e sossegado, quase só de moradias.
No fim, venceu o comodismo: estamos sem nervos para convencer vizinhos que é uma grande coisa fazermos um elevador, pô-los a pagar metade do dito, e a aturar o barulho de guindastes por cima das suas cabeças. E também, de algum modo, o calculismo. Lofts, sempre os haverá em Berlim. Mas terrenos para construir naquele bairro, isso será cada vez mais raro. E mais o trampolim gigante do Matthias: dava-me uma coisa má se o visse a tentar saltos mortais no céu sobre Berlim. Eu bem sei que a rede, e tal, mas há coisas que não consigo racionalizar.
De modo que comprámos o terreno para fazer uma casa, e eu fui do escritório do vendedor directamente para a Dussmann ver livros com títulos como "lowest cost houses", "green houses", "great small houses", e assim. Os sofás da Dussmann são uma maravilha.
Agora vai ser uma aflição para decidir se fazemos a casa sobre molas, para evitar a trepidação quando passam os comboios (casas sobre molas? o que eles inventam), ou se uma cave sólida já basta, e se fazemos com as tradicionais paredes exteriores de meio metro ou se, para poupar espaço, fazemos com paredes mais finas, mas com placas de vácuo (placas de vácuo? o que eles inventam!), e se leva uma instalação fotovoltaica ou painéis solares ou ambos os dois, e se aquecemos com gás do Putin ou antecipamos já a próxima chantagem e fazemos logo com geotermia, ou pellets, ou quê. Não esquecer o sistema de ventilação para arejar a casa sem perder calor (e ver se já há solução para humedecer o ar). E decidir como distribuir os espaços, e o que fazer quando os miúdos saírem de casa: ficamos nós com o apartamento de baixo, com terraço e jardim, ou com o de cima, com galeria e terraço no topo? Não percam o próximo inquérito sociológico neste blogue.
E depois, há as revistas de arquitectura que devíamos folhear para ficar com uma ideia de estilos e materiais (eu bem sabia que aquelas centenas de revistas que tenho vindo a juntar nos últimos dez anos me serviriam para alguma coisa) (eu muito gostava de saber quando vou ter tempo para folhear centenas de revistas de arquitectura).
Coitadinho do nosso arquitecto.
13 comentários:
Parabéns. Isso é que é um projecto :)
Fico a fazer figas para que corra tudo às mil maravilhas.
Obrigada! Percebes alguma coisa de construir casas sobre placas de borracha para evitar a trepidação?
Estou a ver que temos matéria para uma trilogia, p'raí.
Parabéns. :))))
Olá, descobri este blog há poucos dias por recomendação e estou a achá-lo interessante. Parabéns.
Não sei nada de arquitectura por isso não posso ajudar, mas posso isso sim ajudar a complicar mais as coisas. :) Não faço ideia que em Berlim é possível este tipo de coisas, mas deixo aqui um endereço para a wikipedia sobre o assunto:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Permacultura
Se um dia chegar a ter um terreno para construir uma casa, acho que iria experimentar algo relacionado coma permacultura.
Agora que quiser para além das centenas de revistas, há esta página da wikipedia.
mdsol,
obrigada!
jota,
obrigada!
Já temos algumas ideias: telhado verde, casa muito bem isolada sem fugas de calor, independência energética.
Paulo, espero que dê apenas uma trilogia, e não um internamento na psiquiatria...
Parabéns, Helena.
O seu arquitecto é capaz de se entusiasmar com um projecto para pessoas que têm ideias e perguntas e o obrigam a pensar para além do trivial :-)
Parabéns, Helena o importante é não parar.
Um bom arquitecto é aqule que sabe ouvir o que o cliente quer.
Um bom cliente é aquele que sabe o que quer da nova casa, nomeadamente as funcionalidades pretendias /desejadas :))
Gi,
coitado do homem. É que temos ideias e perguntas, queremos uma casa que entre para os anais da arquitectura (pelo menos tão bonita como a do António P.) e custe, digamos, 1.100 euros por metro quadrado. Ai, coitado do homem.
Além disso, queremos como de costume meter o Rossio na Betesga: e mais isto e mais aquilo e assim e assado, quando a casa não pode ter mais de 200 m2.
António,
o arquitecto tem tido bons ouvidos. E nós sabemos bem de mais o que queremos. O projecto está a sair engraçado. Mas ainda não calculámos o custo...
Ena! Ena! Este blogue hoje - sim,sim, não tenho cá vindo que isto não tem andado de feição! - é só boas notícias! Que fixe! Habemus terreno e breve, breve, haveremos de ter casa! Um beijo grande para o arquitecto ;-)
Boa, parabéns Helena! Adoro essa quantidade de ideias a borbulhar. Imagino que construir uma casa seja como preparar uma viagem de sonho: metade do gozo já está no projecto. E esse tem muito com quê (o que eles inventam, de facto; fascinante!).
io,
a ver vamos, a ver vamos.
antuérpia,
é como preparar uma viagem de sonho: metade do gozo já está no projecto. E depois a gente põe-se a caminho, e vem os temporais e tal, e no fim as facturas...
Esta história de construir uma casa sobre molas está-me a atormentar um bocadinho. E depois, os portugueses: "ah, não te preocupes, com o barulho dos comboios até se dorme melhor!"
Para mais, aquela linha praticamente não é usada. Mas está lá. Pode passar a ser usada a qualquer momento. Triste vida.
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